Quinze anos de rega

Quinze anos de rega, de poda, o nosso amor ainda sobrevive.
Foi difícil acertar nos sulfatos, nos pesticidas, matar as formigas,
os gafanhotos, não deixar criar borbotos, manter o substrato,
tornar intacto, o nosso amor.
Muitas ervas daninhas eram nossas vizinhas, cortamos relações,
comiam-nos os pulmões, o estrume que era difícil de cheirar,
tivemos que nos acostumar, conservar as raízes, fazê-las felizes.
O pior foram as tempestades que nos faziam maldades e nos afundavam
em palavrões, fulminava-nos com trovões que nos deixavam tão feridos
sem nos falarmos oito dias seguidos.
Mas o nosso amor era tão grande que as raízes choravam e nos alertavam
que estavam apodrecer.
Assim que a tempestade passava e o sol raiava, punha-mos o amor a secar,
embrulhava-mo-nos num cobertor, fazia-mos amor.
Quinze anos depois aprendemos a controlar tempestades, com para-raios,
para-ventos, continuamos sedentos.

Cristina Ivens Duarte

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Cristina Ivens Duarte

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