Saí pra sonhar
e regressei nos teus exclamados
cânticos de vida onde quero
pra sempre me embrenhar
Juntei todas as travessuras
decantadas na bagunça
do tempo enraizado na minúscula
janela de eternidade onde
captei a textura dos sonhos
sem identidade ou estatura
Envolvi palavras dóceis
no mesmo dicionário
onde reescrevo cada instante
de um instante distraído onde
mora nosso destino
visionário e delirante
Saí por aí
elaborando dóceis momentos
tatuados na anatomia do silêncio
embrulhando meus versos
todo amor que se revela
eclipsando desamparados ventos
condimentados com juras eternas
onde a vida finalmente a nós se atrela
Saí deste cenário
tornei-me extinto
reservei na própria existência
uma pacata lembrança
de nós
Afugentei manhãs encarceradas
no meu calendário intemporal
Reafirmei meus passos inseguros
quando abotoei de vez
todas as lembranças
e certezas
inevitavelmente destinatárias
aos mesmos retratos esquecidos
à mesma saudade ajustada e
distraída em brados póstumos
que te deixo d’improviso
Saí por aí
recolhendo teus esmerados enfeites
que desaguam
no rigôr do meu estuário onde
se despenham nossos desejos
nossas tentações
e tantas maquinações arquivadas
no semblante do silêncio fecundo
onde demos à luz
tantas sinuosas palavras
cuidadosamente arrumadas na farpela
do tempo tão vagabundo
Saí por aí
teçendo um vocabulário trajado
de amor e poesia descomedida
adornada com gargalhadas vertiginosas
qual breve assomo delicado
onde cimentamos cada meiga
expressão derradeira
com afectos apetecidos
assim loucamente acometidos
Frederico de Castro
Comentários
Amigo Frederico, meus parabéns pelo inspirado texto. Abraços, Marcos.
Bravo, querido FC!
Beijos!
Tiro o chapéu pra você, pro seu poema. Lindíssimo.
Saí por aí tecendo um vocabulário trajado é primorosíssimo! Pode me convidar que eu também estou nessa.