TEMPO PERDIDO

O terno que eu vestia

Tinha o tamanho do seu abraço.

Meus sonhos

Davam nós na minha gravata.

Os sapatos lustrados

Refletiam o que seria o futuro.

Meus olhos quadrados

Iriam ver de tudo nesta vida.

Eu nem sabia da distância

Entre minhas mãos

E a fechadura da porta.

Não tinha medo,

Tinha esperança.

Nasci de uma criança

E me criei antes de um mês.

Tornei-me a rotina cansativa dos dias,

Ensimesmado no grampeador vermelho.

Eu já nasci velho,

Caminhava entre as janelas

Com medo do reflexo do Sol.

Meu arrebol era um aquário.

Sentia as dores que ninguém merece sentir,

E vivia as mentiras que jamais criei.

Pensava em ser grande, e não me tornei,

Ser grande era um pensamento~

De me tornar rei.

Errei todas as equações,

Tornei-me matematicamente indecifrável,

Um notável ninguém.

Nada se narrava em minha história

Que não fosse a parca memória

De quando eu ainda vestia azul.

As membranas de meus dedos

Tinham medo de se expor

Em um papel inexpressivo

E sem amor.

Quieto, como o sapo observador

Que espia a pedra

E sabe que ela tem sabor.

Mas os cordões dos meus sapatos

Juravam a minha queda ao chão,

Equilibrava-me apenas com uma mão

Sobre os móveis que não eram meus

E de nenhum dos meus irmãos.

Achava que o tempo me daria

A necessária sabedoria,

Mas o tempo passou,

Passou a minha infância,

E continuo na ignorância.

Sem muita relevância

A distância entre mim e os outros

Cresceu silenciosamente,

E eu só tinha na mente um pensamento,

Apenas um pedido,

Por favor,

Devolvam-me o tempo perdido...

 

 

Mário Sérgio de Souza Andrade       01-05-2017

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Comentários

  • 3664735?profile=original

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  • O tempo não se perdeu, você o transformou nessa bela inspiração. A paz.
  • Mário, que belezura de poema, meu amigo!
    Muito reflexivo!
    Parabéns!
    : )
  • Parabéns, poeta, poema lindo, reflexivo, quem não gostaria de recuperar o tempo perdido. Quem nunca perdeu tempo?  Abraços, paz e Luz!!!

    "De perto avisto o porto imenso, nebuloso e sempre noite, chamado eternidade". Pablo Neruda

  • O tempo si vai levando os instantes, extraindo de nos os melhores momentos de nossas vidas

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