Posts de Mestre Tinga das Gerais (18)

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O Sorriso da Flor

Quando, o dia amanhecer
E o teu lindo sorriso
Abrir a porta da manhã
Estarei feliz e garboso
Meu corpo cheiroso
Com teu cheiro de avelã

Dar-te-ei um beijo ardente
E tua saliva quente
Com o sabor do mel
Será lindo e maravilhoso
Nosso jeito fogoso
Neste lindo escarcéu

Somos o jardim encantado
Você minha gineceu
Nosso perfume é tão raro
Sou o seu pólen
O seu androceu
Quando o dia amanhecer...

 

Saiba mais…

Perdoa-ame se sinto saudades de ti...

Os nossos olhares profundos
De nós oriundos...

As lágrimas incontidas
Estações das despedidas...

A distância arredia
Que deixa em migalhas os nossos passos...

Daquele mirante solitário
De um sol em nós poente...

Das noites estreladas
De uma primavera embriagadora...

Do furtar do cair das folhas
Num outono silencioso...

Dos beijos ardentes
Batizados pelas salivas...

Do acordar com o teu sorriso
Furtando a minha alma...


Das marcas no lençol
Atrevidos e inocentes na arte de amar...

Será que é saudade?
Perdoa-me se sinto saudades de ti!

Saiba mais…

A Casa da Serra

No alto da Serra da Onça, nos arredores do Quilombola do Capão, existia uma casa antiga e por ali moraram várias famílias e por ser muito retirada da cidade e bem gasta pelo tempo, a casa ficou abandonada e ali servia mesmo era de abrigo para ratos, morcegos, aranhas, enfim, ficou esquecida e o tempo foi tomando conta daquela casa que passou por muitas histórias.
Cada um tem sua sina e carrega sua saga no alforje da alma, para ficar marcado pelos tempos e as rugas que vão delineando a face e o território embandeirado é a sua raiz a qual seus ancestrais trilharam pelos caminhos da vida.
O morador mais enigmático foi o escravo Belarmino. Já carregava seus 92 anos nas costas e havia passado por três fazendas coloniais e a pele marcada pela ignorância aos moldes das chibatadas e açoites, ele escondia dentro de si um mistério que se via em seus olhos tristes e ao deparar com as lembranças chorava e ficava debaixo do pé da Gameleira, que ficava no fundo do quintal da casa, velha casa.
O Seu Augusto Tapera, senhor dos seus 85 anos, negro caçador e destemido, dá para imaginar onde ele morava. Isso mesmo: numa tapera de pau a pique e na beira do Rio das Velhas.
Certo dia, ao levantar-se cedo como o de costume, ele deparou com gemidos trazidos pela força vento que assoprava as densas matas, as quais os negros embrenhavam quando da fuga das fazendas e dos maus tratos.
Aqueles gemidos o deixaram atordoado e o fazia lembrar-se do tempo do cativeiro e as suas mãos nos ouvidos para embargar aquele barulho que penetrava na alma e na carne.
E de repente vozes e gritos no sussurrar do vento que varria a poeira e as folhas rolavam pelo chão num alvoroço incontido. As águas do Rio das Velhas pararam de correr, a passarada ficou muda e nem o Bem-te-vi cantava, pois, este não queria ver tanto alvoroço.
De repente o Augusto tirou forças ocultas e gritava incessantemente;
- Não Tião! Não Tião... não! Comigo não! Pelo amor de Deus!
O desespero e a ânsia faziam daquele homem destemido, um homem fraco e ele no cantinho da tapera feito uma canga num canto jogada.
Da sua humilde Tapera via-se a casa velha na serra e na janela o Belarmino acenava e o Augusto nada entendia, até que o sol se escondeu num passe de mágica e veio a intrépida noite e aumentou mais ainda o medo e terror ao redor da tapera do Augusto. As vozes em alto tom e a brisa vieram em forma de chuva e varreu as palhas da tapera, que ficou a mercê do redemoinho.
Nisso em meio ao redemoinho surgiu um velho senhor de barbas e dentes enormes, unhas sujas e roupa preta e numa mão um cajado e na outra um açoite. Ao tocar na terra com o cajado, causava um tormento a todos os ribeirinhos.
Nisso surge o Belarmino, com um terço na mão e uma cruz de aroeira lavrada, que ele mesmo havia feito quando do cativeiro e:
- Saia já do nosso camin! Nóis é da mata, do fogo e do truvão. Da água dos raio e do sertão. Dadonde ocê saiu nóis num qué ir mais não.
Ao dizer aquelas palavras a criatura explodiu-se no ar e tudo se silenciou.
Naquilo um ser de roupas brancas, algumas estrelas em forma de auréola na cabeça, fala angelical surgiu e:
- Belarmino. Você acabou de desfazer uma mandinga que separou você de seu irmão, uma das maiores atrocidades no tempo do cativeiro.
Ele trêmulo e olhos arregalados e a criatura prossegue:
- O Augusto é seu irmão e o que você afugentou era a alma doTião, malvado Capitão do Mato que judiava com açoite e marcava vocês a ferro e fogo. Ele separou vocês de sua mãe. Colocando o Augusto amarrado numa canoa rio abaixo, nas corredeiras do Rio das Velhas e o Belarmino, ele o amarrou, o colocou em um cavalo e o açoitou e este foi parar naquela serra, aonde ele foi criado pela escrava Nestina que ali morava e que faleceu quando ele ainda era rapaz.
Debaixo de um rio de lágrimas os dois se abraçaram e o Augusto carregava no braço direito, uma marca feita de ferro para marcar o gado e no braço esquerdo do Belarmino a mesma marca.
Os dois irmãos foram morar no Quilombola do Capão no outro lado do Rio das Velhas, em terras que foram doadas pelos outros ávidos pela liberdade.
Por lá encontraram outros resistentes da saga, que com as forças de seus braços e o poder da busca, hoje levam marcas pelos corpos, mas, são sabedores de que sabem buscar o direito de serem felizes e têm um lugar ao sol.

 

Saiba mais…

As Jabuticabas do Seu Oséias

A temporada da jabuticaba é esperada com muito desejo.
Uns fazem o vinho, outros o licor, a geleia, enfim, dela se faz muitas coisas saborosas.
O Seu Oséias tinha um pomar onde havia laranja, limão, mexerica, uva e a saborosa jabuticaba.
O Zeca, filho do Seu Sabino, gostava muito de jabuticaba e sabia que no pomar do Seu Oséias tinha muitos pés e estavam carregados, os pés estavam pretinhos e quem não gosta de chupar a fruta no pé?
O Seu Oséias saiu para fazer umas compras e o Zeca notando a ausência, resolveu chamar o amigo Joca Qui-qui - que levava este apelido por ser gago – para roubar jabuticaba. E chegando à casa do Joca o chamou num cantinho e:
- Joca. O Seu Oséias saiu e tá na hora de nóis pegar umas jabuticabas. Ocê vai ô num vai?
O Joca baixou a cabeça, pensou e:
- Qui,qui,qui, isso, num,num, num, vá,vá, vai, dá,dá, pó, pó, pobrema?
Mais que depressa o Zeca:
- Que pobrema Joca? Cê tá cum medo? Ocê é um home ô um rato?
Pra não perder o amigo, Joca topou ir apanhar as tão desejadas jabuticabas.
Chegando ao pomar, pularam a cerca e o Joca um pouco fora do peso, ficou fisgado pelo arame farpado, mas, teve a ajuda do amigo Zeca para soltá-lo.
Escolheram os pés mais carregados e subiram. E foram chupando as jabuticabas, barrigas cheias, tecendo uma prosa bem baixinha pra ninguém escutar. E o Joca:
- Qui, qui, qui, parece qui, qui eu ôvi umas pisada! parece tá vino arguém.
E o Zeca:
- Ocê tá cismado Joca! Acho qué medo!
Seu Oséias havia esquecido os óculos e voltou. ao ouvir os cochichos ele foi até o fundo do quintal e:
- Ah! Cambada de ladrão de jabuticaba! Vô mostrá ôceis cumé qui rôba jabuticaba. Ispia só! É o Zeca, fio do meu cumpade Sabino! Óia minino vô contá pro cumpade. E quem é este aí no outro pé?
Apavorado ele:
- É o Joca, meu amigo!
O Joca já gaguejava e aí é que ficou pior:
- Sê. Sê, Sê, Sê, Sê, Seu Ó, Ó, Ó, Ó, Ó, séia…Ê,Ê,Ê,Ê, num, num, sei di,di,di,di, na, da!
O Zeca pra sair do aperto foi logo dizendo:
- Seu Oséias. Eu ia até pidi o sinhôre pa mode levá pra papai tadim…ele gostia tanto de Jabuticaba, num é Joca?
Com os olhos arregalados o Joca:
- É, É. sim!
Seu Oséias pensou e:
- Tá bão. Já cocêis ta in riba do pé pode panhá e levá,mais, leva bastante pro cumpade, pa cumade e pa a afiada Dorinha. Dispois condo ôceis catá bastande, chama o Fred quêle vai ajudá ôceis levá. Mais grita arto.
Quando Seu Oséias saiu, o Zeca:
- Tá veno Joca cagão! O home é bão! E rumô inté o casêro pa mode judá nóis levá.
Olha. Eles pelaram o pé de jabuticaba e já com os baldes cheios, logo o Zeca:
- Dêxa queu chamo, ocê gagueja muito.
O Zeca raspou a garganta, respirou fundo e:
- FREEEEEEEDDDDDDDDDD!
Pensa no tamanho de um cachorro e multiplica. Um Pitbull do tamanho de um leão veio com as ventas até saindo fogo e foi arranhando os dois e o Zeca era mais esperto pulou a cera. Já o Joca gritava:
- Sô, sô, sô, sô, cô, rro…is, is, is, pereu Zeca!
No que o Seu Oséias saiu, foi até à casa do Seu Sabino e contou tudo. O Seu Sabino já estava com a vara de Mororó curtida e foi uma surra que o Joca saiu numa correria feito um catingueiro.
Depois de alguns dia o Seu Oséias encontrou com o Zeca e:
- Oi Zeca! O Fred te ajudô levá as jabuticabas?
O Zeca em silêncio seguiu seu caminho.
Dizem que o Zeca não gosta nem de ouvir a palavra: JABUTICABA!
Inté!

Saiba mais…

Viajando em Você

Quero me embriagar

Em teu sorriso

E ser feliz como um Beija-flor

Lambuzar no teu doce mel

E adormecer no teu sabor

 

E quando em mim

Chegar o inverno

Vou me aquecer em teu calor

E viajar em nossos desejos

Como o vento que embala a flor

 

Deixar o suor

Lavar nossas almas

Nos arrepios brotando o amor

Em teus braços vou desfalecer

E deixar o prazer

Ser o nosso vapor!

 

 

 

 

Saiba mais…

Saudade em Todas as Estações

Do que eu mais gosto

É vê-la feliz

O seu sorriso é a minha raiz

Tu és o meu ébano

Minha flor-de-lis

 

Amo

Quando você diz que me adora

A saudade arredia

Em minha alma aflora

É um tormento ficar sem você

 

Na primavera

As flores escondem o seu odor

O outono cai pelo chão

Aos olhos tristes do verão

E o inverno não tem o nosso calor.

 

Saiba mais…

Êta Cachaça Danada!

Êta Cachaça Danada!

                                 Mestre Tinga das Gerais

 

Mais uma de boteco, onde sempre a prosa tem um rumo e tem momentos que até um bebedor se preocupa com o outro.
Na Venda do Seu Zezé é assim:chega um e pede uma com Losna,o outro com Murici e tem aquele que bebe da pura e também os amantes da cerveja. Um papo daqui outro dali, os moradores das redondezas quando precisam de algo vão até lá, pois, na Venda pode se encontrar quase tudo: tecido,toucinho salgado, querosene e até calçados.

O Mandruvachá é um caboclo simples, cabra bom de serviço, se diz o melhor na foice da região que até pra cumprimentar ele diz:
   - Bão dia nunha foiçada só!
   Ali os companheiros de gole, oferecem uma dose,um tira gosto, mas, também dão conselhos quando nota que o companheiro está exagerando no álcool.
O Zé Teixeira no cantinho afina a viola e dá uma lambida na alambicada e diz:
- A viola tá quaiz afinada! Vô metê ôta no peitio e fazê a canturia!
O berranteiro Araújo passa o pano no berrante e assopra pra alegrar o ambiente e diz:
- Afinadim o danado! A viagem vai sê cumprida! Inté chegá no rasgão é um pedaço bão de terra!
O Mandruvachá ali tomando uma e assuntando o movimento.
O Delegado Martins que também gostava da marafa e da loirinha como dizia, ali com sua pança que cabia muitas loiras e muitas biritas. Ele vira pro Mandruvachá e:
- Ô Mandruvachá!Você sabe que está exagerano nas doses e seus olho estão amarelando e você não se alimenta direito e está afinando o pescoço feito um graveto e isso faz mal. E sem contar que ainda dá um trabalho danado pra gente te levar em casa por causa da sua dor na coluna.Vai Vá procurar um médico homem!
E o Raimundo do Bento sussura no ouvido do Tião:
- Derde sê a tale acirrosa!Diz qui a gente avumita inté o frigo!
Mandruvachá ouviu aquilo,baixou a cabeça e disse:
- Óia!Eu vô mais num quero ninguém cumigo no consurtório, isso é pobrema meu mais eu vô iscuitá o sinhôre delegado. Na sala, só eu e o dotôre! E mais ninguém!
Os que ouviam até bateram palmas e até pediram mais uma rodada pra comemorarem àquela atitude.
No dia seguinte à tardinha, novamente os amigos no boteco,uns pra rebater,outros pra tirar a poeira da garganta, e chega lá o Mandruvachá de cabelos aparados.barbas feitas e cheiroso! Causando estranheza na turma.
O Pedrosa que era o freguês falastrão logo foi ao assunto:
- E aí Mandruvachá? O quê o dotôre disse?
Ele rapidamente disse:
- Óia! Ele me disse que é pra mode eu diminuí na carne e eu que tava com um probrema na coluna ele me disse pra assuspendê o tribiótico e tomá da pinga margosa com Cargueja!Bota uma pra mim Seu Zezé!
Todos caíram na gargalhada e deixaram o Mandruvachá em paz.
E você? Duvida do Mandruvachá?
Eu acho que esse médico também gosta da danada!
Sei lá! Não tinha ninguém com ele além do doutor.
Tudo pode acontecer.
De uma coisa eu tenho certeza:a prosa continua por entre uma dose e outra e o Seu Zezé agradece.
Andanças e paragens por este mágico sertão!
Inté!

Tinga das Gerais

Saiba mais…

Piaba no Leite

Piaba no Leite


                      Mestre Tinga das Gerais


No interior das Minas Gerais, ainda se compra o leite nas carroças, e tem aquele que atende às freguesias,e a leiteira ou outro vasilhame fica ora no portão,ora o freguês vai até á porta e recebe o leite.
E tem gente que diz:
- Diacho esse leite ta ralo dimais!
E lá vem o Ataíde com a carrocinha a gritar:
- Óia o leite frisquin,frisquin!Foi tirado agorinha mesm!
O Seu Mandruvachá ouvindo o leiteiro sai à porta e grita:
- Ô Seu Taíde! Achegue aqui!
O Ataíde atendeu a vizinha do lado calmamente e se dirigiu até ao Seu Mandruvachá e:
- Dia Seu Mandruvachá!Como passô de onte?
Seu madruvacha um pouco nervoso respondeu:
- Óia Seu Taíde, no leite que o sinhô dexô onte, eu incontrei inté uma piaba! Assim num dá! O leite tava mais ralo que lágrama de neném!
O Seu Ataíde com muita calma respondeu:
- Óia Seu Mandruvacha. O sinhore compro só um litrin e incontrô uma piaba?
E ele:
- Foi sim sinhôre!
E ele com um ar de sorriso respondeu:
- Se o sinhôre tivesse comprado deiz litro, tinha incontrado um surubim grandãooooooo!
Dizendo aquilo, o Ataíde saiu mais do que depressa e deixou o Seu Mandruvachá resmungando, na certa deve ter perdido a freguesia!
E o seu leite? Não tem um piabinha ?
Será que o seu leiteiro aumenta o leite das braúnas com as águas dos córregos?

Coisas do interior!


Inté!

Saiba mais…

No Colo do Sertão

No Colo do Sertão

                           Mestre Tinga das Gerais

Sô matuto
Sô catrumano
Imbigo interrado
Nesse abençuado chão

Tenho um orgúio profundo
Im sê oriundo desse rincão
Vivê esse isprendô
No colo do sertão.

Minha istóra vem de geração
Cumo aquele véio muin
Adonde passô as água e o vento
Tomém passô um pedaço de mim.

Meus bisavó na labuita
Terra servage e sagrada
E êz ali na luita
Vida de cão e regrada.

Arado e carro de boi
Distocá e aperperá o chão
A isperança tava im Deus
Essa num faia não.

Lidano cum o sole e a seca
Mais tomem cum a isperança
Os juêi im carne viva
Quem ispera sempre arcança.

E do céle broita a chuva
E os pingos bejano a terra
Meus zóio mira a distança
E vê o sorriso da serra.

Serra que me viu nascê
Cumo a semente de fêjão a broitá
Os corgo derrama na serra
Cachuêra a derramá.

Eu o mais véi dos oitio
Ovino aquela meludia
Da chuva dengosa correno
Batizano aquela magia.

Aquela Gamilêra
Da donde nóis brincava
Tá aqui isparramano sombra
Aqui nóis tamém dançava.

Os zóio de papai briava!
Ele oiava pás mão e dizia:
- Condo a gente faiz nossa parte
Deus devorve cum aligria!

Naquilo as lágrima discia
Mamãe com o telço na mão
E nóis na Ave Maria
Agardiceno cum imoção.

A criação filiz!
A pastage virdinha feitio um piriquito
As têta das vaca bunita
E o tôro pilão ruliço!

As panela no fugão
No calô da brasa do Tingui
Aquele chêro gostoso!
Do arroz com frango e piqui.

O forno de barro
Trazeno as gustuzura
Pão de quêjo, Broa e Bolo de Fubá
O café? Feitio cum rapadura!

A galinhada no terrêro
Siscano as paia de mio
E o galo cantado
Fazeno o disafio.

Disafiô a Saracura
Lá na curva do brejo
Aos zóio do João-de-barro
E do coleiro Bico Amarelo.

Óia! Aquilo era um cenáro divino!
A passarada agasaiada
Os zóios miúdo nos ninho
Era o silenço deálima lavada.

A pareia já na canga
E o carro na isperá
O mio era pu muin
A prudução era o fubá.

Hoje imociono im vê essa herança
Dêxada pelo meu veio pai
Aquele carro de boi surrado
Belço do prefume do orvai.

Ele pode contá
Pelo ranger no istradão
Infrentô sole e vento
Cum o risumo da prantação.

A portêra centenára
Puronde passô muitias vida
Aqui comemoremo a saga
Sabore de muitias lida.

Me alembro do istradão
Da donde via meu pai chegá
O Colosso vinha na frente
Pa mode avisá.

No colo do sertão
Passado e presente de mim
O paraíso na álima
Belço e paxão sem fim.

No colo do sertão
Fico quitim!
Sô obidiente
E amo meu cantin.

Assunta!
É o berrante do meu avô
Raimundo Cavuquêro
Nêgo labutadô.

Me alembro dele
Da vó Binidita
Meu padrin de batismo
Pai da minha mãe Nita.

Sô inraizado!
Pé rachado e lutadore
Meu agasaio é o sertão
Dele a essença dos amore.

No colo do sertão
Tô no colo de DEUS!
Vô dexá essa impreitiada
Pros fio e netos meu.

No colo do sertão
Sô um home filiz
No colo do sertão
Minha álima raiz!

 

 

 

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O Boiadeiro e o Tempo

O Boiadeiro e o Tempo
                               

                                   Mestre Tinga das Gerais

É o sertão
No compasso desse matuto
As mata inluarada
Tem seu chêro e sabô.
A viola ponteia a vida
Eu ponteio a lida
Em meu peitio cantadô.

É o carro de boi
Feitio o viulino
Um sonho de minino
Sê aboiadô.
Eu consolo o meu gado
No colo da sodade
E o gado consola a minha dô.

Sertão adento
A viola me acarma
A portêra em m álima
No arforje o meu amô.
E nas curva da istrada
Sou como um Colibri
Deixo o meu bêjo na frô.

Passo a passo
Vô ao longe
Que vontade da Maria
Que no meu rancho ficô.
O nobre vento
Sussurra na crina
Do meu cavalo machadô.

Quem tem colo
Tem guarida
Mata a sede
Com ardô.
Minha paioça vai tremê
Em quem brota arripio
Espaia seu calô.

Sô boiadeiro, Seu Moço!
Num isquento o meu lugá
Tenho outra empreitiada
Que é o tôro aradô.
Desafiô a minha pionada
Aqui eu sô o camarada
Tamém sô amansadô.

Já lidei cum Jararaca
Burro brabo, sogra chata
Catirêro mintiroso
E valentão atiradô.
O meu laço é dobrado
Pode vim Tôro danado
Eu num temo bufadô.

Amanhã de madrugada
Vô fazê rasto na istrada
Cortá vale e chapada
E a Serra do Calô.
Vô levá ôta boiada
Quero vortá antes da festa
Do Cristo Redentô.

Vô incontrá os violêro
Pescadore, garimpêro
O cumpadre fuguetêiro
Vô carregá o andô.
A fé do meu povo é grande
Quem carrega sua cruz
Tem a luz do Criadô.

No seio do sertão
Topo quarquer parada
Faça chuva, ô faça sol
Sô um boiadêro sonhadô.
Nas Aruêra faço a minha parage
Traço o rumo da viage
Nas asa do Bêja-frô.

No silênço do breu da nôte
Vô sonhá cum a criação
Os vaga-lume a alumiá
Meu distino de amô.
Eu tenho o prazê
Em vê a vida acontecê
Sem me alimentá de dô.

Serra, cerrado
Paia, paioça
Rio, riacho
Roça, roçadô.
Vaca, vaquêro
Do campo o chêro
Desse esprendô.

Sô minêro
Minhas serra é azule
Sô istradêro, berrantêro
Tamém sô navegadô
Navego por entre rio e sintimento
No Véio Chico vejo o tempo
Sou das estóra, o contadô.
Inté!

 

 

 

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O Defunto Comeu a Farofa

O DEFUNTO COMEU A FAROFA

Mestre Tinga das Gerais


Viajando no tempo, às vezes me pego grudado nos acontecimentos da roça, onde a serenidade do campo, o sossego, a labuta e esperança por dias melhores, afloram na pele, pela fartura dos grãos e a certeza do sorriso farto nas faces dos nossos lavradores.
Mas não só de alegria vive o homem do campo.
Quando um vizinho da roça adoece, a solidariedade é mútua e todos sentem pela enfermidade, pois, a dificuldade daquela época, trazia para todos, o desejo da vida, através dos recursos que eles tinham.
O Seu Agenor homem já amadurecido pelo tempo, os setenta anos de idade, o rondava e o pobre homem sentia um mal que afligia a todos.Ele desmaiava e ficava horas desacordado e aquilo preocupava a família e aos amigos.
Os mais entendidos diziam que era a catalepsia.
Para aflição da família, o Seu Agenor ficou de cama como diziam e assim era um problema a mais, pois,era a engrenagem da casa e não podia parar.
Um caboclo que ajudava aos vizinhos nas empreitadas da capina, nas colheitas, ali a recíproca era mais que verdadeira, sem contar a religiosidade, onde era o festeiro mais velho da festa de São José, o santo fazedor de chuva.
A Dona Chica, esposa fiel e companheira, junto das filhas, acompanhava o drama na maior lida e de vez em quando falava:
- Óia Deus! Se fô de sua vontade, faça o que tivé de fazê!Mais, cura o meu Agenô!
Aquilo deixava os olhos marejados e o silêncio era inevitável.
Certo dia, o Seu Agenor chamou a mulher e disse:
- Ô muié! Arreune a famia e vem cá!
Aquilo causou espanto e lamento, pois, estavam todos preocupados com o velho.
Com a família à sua volta,ele diz:
- Óia pessoá! Eu tô assim mei estrupiado,duente mais num fica triste não!
Naquilo o Seu Agenor desmaiou.
O Balbino que era amigo da família,muito apressado,apavorado e falastrão,diz:
- Óia gente!Seja feita o vontade Deus! Num teve jeitio!Que ele discanse im paiz!
Aquilo foi choro daqui, dali, virou um alvoroço!Uns rezando, outros gritando, o Quincas curador, raizeiro da região passava raízes e ervas do campo no corpo do Seu Agenor,olha, foi um barulho danado.
Sempre tem que ter um para cuidar do funeral,com a família no martírio, e cabeça quente,sempre aparece aquele que toma conta de tudo.
O Josué, era um cabra voluntarioso e amigo da família e o Seu Agenor confiava muito. A ponto de dizer que ele era um bom sujeito para se casar com a Maria, sua filha mais velha, das seis.
Naquele tempo, com a dificuldade, quem era enterrado em urnas ou caixão, eram poucos ou só os mais controlados.
O Josué foi ao mato, tirou as varas de Aroeira, pois, o Seu Agenor era bem parrudo,como diziam e para aguentar o guerreiro tinha que ser madeira boa e forte.
Feita a padiola, é hora do enterro.
Josué chega e:
- Óia gente chegô a hora e num tem jeitio!Já fais dizoito hora que o Seu Agenô faliceu e agora é interrá, o home já tá inté com um chirim mei ruim!
Mais alvoroço!Lágrimas,lamentos e dor na despedida, com as filhas e amigos à sua volta, aquilo era de fato uma perda irreparável.
Na hora da saída, o Josué chama o Bastião seu amigo de capina, que já havia preparado o carro-de-boi, para levar o corpo, pois,o cemitério era há seis léguas dali, portanto a família preferiu ficar e deixar nas mãos de Deus e dos dois amigos, o corpo do Seu Agenor.
A Dona Chica, atordoada, mas, consciente diz:
- Ô Maria!Pega a farofa e bota na lata e arranja tamem um bule de café bem quente, pra mode eles levá,vai que dá fome no camim e eles come!
A Maria atende e coloca o pedido num embornal e pendura no varal do carro-de-boi.
E lá vai o Seu Agenor estrada afora, com os dois fiéis amigos.
Os dois amigos assentam no carro-de-boi com os pés quase encostando no chão e conversa vai ,conversa vem, papo daqui, papo dali, lembranças das caçadas, dos goles da boa cachaça,das prosas arrumadas ,tudo que o Seu Agenor participava,eles comentavam.
Já bem longe, mas, bem distante de chegar ao cemitério,O Seu Agenor que tivera somente um desmaio,porém mais longo do que das outras vezes, acorda varado na fome e vontade de beber um café, vai no embornal, retira a lata de farofa ,bota um pouco do café no copo e faz o lanche.
O Bastião, sujeito bom de colher, que comia feito um burro diz:
- Ô Josué! Saco vazio num pára im pé!Vamo pará um pôco pra mode comer a matula uai!Desse jeito nóis num chega lá não!
O Seu Agenor, já com a barriga cheia diz:
- Óia gente!Ainda sobrô!
No que eles olham para traz e lá o Seu Agenor com a boca cheia,não teve mato que segurasse os dois.O Bastião levou um tropeção e um pedaço do dedo ficou pelo caminho.o Josué que era mais gordo,gritava:
- Me ispera Bastião!
E o Bastião:
- Eu??? Cuida docê qui eu cuido de eu!
Eles estão correndo até hoje!
E para o Seu Agenor voltar pra casa?
Ah! Ai já é outra estória!
Depois eu conto!

Inté!


Saiba mais…

O Vaqueiro Benedito

 

Nas banda norte minêra
Se ôve um causo isquisito
De um vaquêro misterioso
Por nome de Binidito
Que arreune a gado só cum o pensamento
Faz uma oração das braba
Cum o patuá que carrega
A criação aparece
No redemuin que o vento oferece.

O fazendêro num intende
Pra ele era um mistéro
Cumo é que pode um vaquêro
Sem saí da fazenda
Amansá e arreuni
O gado cum maistria
Só pode sê feitiço
Ô coisa dôto mundo
E ele confuso
Num cridita nisso.

Binidito é um sujeitio arto
Um bigode ralo, negro
Traz na testa a marca do tempo
Umas ruga isparramada
E na testa uma cicatriz
E quando argúem mais atrivido
Sem sabê o sintido
Ôsa a lhe preguntá
Ele diz baxin:
- Foi um tôro infiliz.

Num aparta dum 30
Nem duma faca amolada
Cum ela apara a barba
E corta a cabaça
Faz o seu paiêro
Corta o tiragostio
Dispois aquela cachaça
E ai se argúem imbaça
O home virava uma fera
Mostrano logo sua raça.

Nos apusento do Binidito
Aquela grande devução
A vela alumiano a Sinhora da cunceição
E à Sinhora Aparicida
Protetora dos peão.
Na parede a image de Jorge
E uma vela acesa a São Bastião
Oxossi e Ogum na guarda
Do cabôco do sertão.

Sai na boca da nôte
Ingulino a iscuridão
Diz que faiz bem
Pra álima e pu coração
Adentra no sertão
Feitio um Tamanduá
Mais parece um zumbi
Num leva nem lampião
E só na arta madrugada
Quêle chega no alazão.

O Bastião
Que é ôto vaquêro
Assuntano aquilo
Cumeçô a discunfiá.
O Binidito
Chega sempre alegre
Assubiano e cabrêro já na hora do café
O fugão já aceso
As galinha no terrêro
E as pionada já de pé.

Numa nôte de lua cheia
O Bastião arresorveu segui
Aquele misterioso
Pa mode discubri
As pruêza daquele home
Que dêxa a pionada bestunta
E que a criação ajunta
Só cum o pensamento
Ô é coisa do além
Ô coisa de sacramento.

Passô pelo buquêrão
Chegô na bêra do rio
No pé da serra da Onça
Às Marge um cimitéro
E uma simpres serputura
A cruis de Jacarandá
Já lapidada pelo vento
No letrêro Mané Patuá
Seu pai grande madinguêro
Que fazia inté o vento Pará.

Cum aquele telço sagrado
Os juêi isparramô pelo chão
Dos láibio vêi as oração
E o silenço ali broitô
A terra tremeu e a álima
Daquele home manifestô
Um redemuin astuto
Varreu o chão e procramô
Que aquele home de fé
Era o maió benzedô.

Ali ele ganhava os podêre
Im nome do sagrado Jesuis
Que memo pregado na cruis
Teve uma grande isperança
E pelos camin da vida
Quem tem fé tem bonança
Nas linha das andança
Tem as parage e os comentáro
Cum um o patuá pregano o bem
Feiz seu grande santuáro.

O Bastião saiu de mansin
Purentre uma fôia e ôta
Ispantado mais incantado
Cum toda aquela magia
Chegô na fazenda e contô
Toda aquela maravia
Binidito chegô e tomem iscrariceu
Seu coração era bondoso!
Curava cum a álima
Como Jesus à Bartimeu.

Aquele home abençuado
De pensamento afrorado
Só via o bem na álima
A criação obidicia a ele
Seu chêro inzalava pelo sertão
Os seus poro broitava a querença
E no peitio Deus como alimento
Purisso quêsse home de fé
Cura e arreune até
O gado cum o pensamento!

E nas redondeza da fazenda
Nas nôte de lua crara
Se ôve um berrante afinado
Qui inté um candiêro aliado
Lapida as maravia do distino
E alumia o sertão incantado.
Distino de vaquêro,vida mistéro aboiá
E toda a pionada riverencia
Ao Binidito e seu patuá!

 

Saiba mais…

Nada Vou Levar

 

Nada Vou Levar

                        MestreTinga das Gerais

Ah!Como amo!
O meu pedaço de chão!
Aqui nasci
Aqui quero morrê
Herança do meu veio pai
Que eu nunca hei de isquecê.

Dessa vida nada se leva
Num vô levá furtuna
Tampôco terra
Muitio menos a herança
Sô um cabra de fé
E num tulero a ganança.

Fiz um pidido à Ambrósa pa quando eu morrê:
- Pindura na parede da sala
Minha capa a o chapéu
Ao lado do nosso retrato
Já marcado pelo tempo
E ocê linda de véu.

A minha cartuchêra
E o istimado berrante
Intrega ao nosso fio Cici.
Ele sabe dos ataio
É o meu herdêro
E num vai saí daqui.

A sela e a ispora de prata
Pode amarrá na portêra
Vai infeitiá seu rangê.
No vai e vem da lida
Ela abre a guarida
Pa te protegê.

Meu cachorro pirdiguêro
Amigo inseparave
Intrega ao cumpade Nonô.
Cumpanhêro e parcêro
De todas as impreitiada
E um grande caçadô.

Dibaxo da Gamilêra
Junto da carroça
Dêxa o carro de boi.
Ele sabe da fartura
E que nossa bataia foi dura
E o tempo se foi.

Diga pa passarada
Pa num minguá o seu canto
E fazer filiz todo arvoricê.
Como é linda a canturia!
Parece inté os anjo
Cantano a Ave Maria.

Num se isqueça de pidi
Ao nobre Bem-ti-vi
Pa avizá a vizinhança.
Tenho muitios amigo
E quem pranta o amô
Cói a bonança.

Esse colá que carrego
Naquela corredêra
Cum muitio cuidado pode sortá.
A água do rio tem norte
E ele sempre me deu sorte
E vai pros braço de Iemanjá.

O meu laço de côro
Pindura no Jiquitibá
Que o Cici vai prantá.
Im cima da minha sepurtura
Ao canto da Saracura
Adonde vô reposá.

Inhantes que eu isqueço
E tamém vê se mereço
Vô te fazê o último pidido.
Num casa cum ninguém Ambrósa
Vô arreservá procê lá no céu
Um cantin pa ficá cumigo.

Num quero levá o orgúio
Nem tão pôco o ódio
Meu coração de amô vai cheio.
Chei de lembrança boa
Quem ama num magôa
Isso pa álima é recheio.

Dessa vida nada levo
Num sô de palavrão
Mais pode me interrá pelado.
E se fô primavera nesse lindo sertão
Infeitia meu caxão
Cum as frôre do cerrado.

Nada levo
Mais fica a minha istóra
Esse meu rincão amado!
Inté!

Saiba mais…

O Doutor e o Matuto

Óia seu moço...

Nóis é da roça

E num fala errado.

Nóis fala deferente.

O sinhôre fais discurso

Pa dotôre e intelectuale

E nóis cunversa cum as semente.

 

Se a ponta dos seu dedo

A caneta num lhe faiz o calo

As nossa mão

Parece inté um ralo.

É a força dos nosso braço

No cabo da inxada

Desse caipira falado.

 

O sinhôre pode inté achá

Qui nóis é bobo

Mais nóis sabe da quentura

Qui tem o misterioso fogo.

E memo cum o sole iscardante

Cum o suóre constante

Nóis alimenta esse povo.

 

Seu moço!

Se o sinhôre pudé rabiscá a terra

Cumo nóis rabisca

Prante uma semente pro bem.

Quem sabe vocemecê ricunhece

Que nóis inté merece

Sê aletrado tomem?

 

Nosso traje tomém é deferente.

Nóis carça butina...se tivé

Se num tivé, nóis vai de pé no chão

Purisso nóis é matuto do pé rachado.

Nóis num usa terno e nem gravata

Nem essa tale de bravata

Qui a gente vê nos arrogado.

 

Na sala do sinhore

Tem um tale de are cundicionado

Nóis tem o vento

Que sempre foi nosso aliado.

E assopra os nosso sembrante

E nóis fica radiante

E inté imocionado.

 

Hoje tem Cambuquira

Pa mode fazê cum abobra.

No nordeste é Girimum

É cumida rocêra seu moço

Que agrada quarqué pião

Num é o tale caviá

Que qem só come é barão.

 

Seu moço! Nosso jeitio é ansim...

Iguale fumaça de chaminé.

Num tem dereção e nem lugá

Ela ispaia a nossa fé

Aqui nóis fala e Deus intende

Deus num vem de Cadilac

Deus vem é pé.

 

Roça, roçado

Serra, Cerrado

Rio, riacho

Da cana, o melado

Dá licença seu moço...

A terra me espera

Meu tempo é sagrado!

 

Pa arresumi eu vô arritirá.

A labuita é grande...

Eu vô iscrivinhá na terra

Tenho família pa mode tratá.

E o sinhôre iscrivinha no papele

Mais vai se alembrá de mim...

Na hora do sinhôre armuçá.

 

Inté!

 

Saiba mais…

Terra

Terra dos altares escondidos

Das sombras das ilhas misteriosas

Que das entranhas do universo se esvai

Pó sobre pó das cinzas da Fênix

Asas de Ícaro, eu plebeu.

 

Fertilidade da lua

Serenidade que do sertão clarão

Fulgor de o sol espargir

Semear por entre lágrimas e sonhos

O alvorecer semeando encontros.

 

Encontros de almas pungentes

Lavradores no limiar da tempestade

Ventos que lapidam pesadelos

Garimpando o sentido da vida

Terra em transe viagem infinita.

 

Quisera os planetas cultivar

O antídoto da saga serena

Caminhar no labirinto da busca

E ostentar o sabor do fruto

Com mãos estendidas ao tempo.

 

Terra sobre terra

Agasalhos de mares e oceanos

Crateras de rios mercantes

Pescadores de ilusão viagem

Sinas no navio negreiro.

 

Ó terra firme!

Raízes de matas virgens

Porão de cobras e lagartos

Mas sempre terra

De abrigo e profusão.

 

O gorjeio do verão

É o colo do outono na terra

Folhas secas bailando

O pousar é tão somente a sutileza

À espera das águas de março...

 

Um inverno que salpica a brisa

A primavera explode

E a essência embriaga o universo

A tímida terra sorri

Empunhando seus rebentos.

 

Idolatrada terra!

Eu descalço em teu seio

Força de ti poder

Alicerce dos movimentos hostis

Que suporta tremores e dores...

 

Ao pó desceremos

Agasalho de ossos

E vidas interrompidas

Mas que a terra em sua magnitude

Aponta o mistério a desvendar.

 

Somos o gritar a esmo

Mas nos encontramos nos alaridos

Que mesmo lúgubres os sentimentos

O norte terra é farol

Da sustentação da vida humana!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saiba mais…

O Sol de Todas as Manhãs

                                                     

Tu és...

O sol de todas as manhãs

O mar reflete a tua imagem

O vento traz teu cheiro de maçã

 

Teus pés na areia da praia

És uma sereia

O universo ensaia

Vejo estrelas na teia

 

Quintais desbandeirados

O amor é o astral

Sorriso de Monalisa

A força do Sisal

 

Que transcende o amor

Mistérios das montanhas

O alçar do Condor!

 

Saiba mais…

Sou Matuto

 

Óia seu moço...

Nóis é da roça

E num fala errado.

Nóis fala deferente.

O sinhôre fais discurso

Pa dotôre e intelectuale

E nóis cunversa cum as semente.

 

Se a ponta dos seu dedo

A caneta num lhe faiz o calo

As nossa mão

Parece inté um ralo.

É a força dos nosso braço

No cabo da inxada

Desse caipira falado.

 

O sinhôre pode inté achá

Qui nóis é bobo

Mais nóis sabe da quentura

Qui tem o misterioso fogo.

E memo cum o sole iscardante

Cum o o suóre constante

Nóis alimenta esse povo.

 

Seu moço!

Se o sinhôre pude rabiscá a terra

Cumo nóis rabisca

Prante uma semente tomem.

Quem sabe vocemecê recunhece

Que nóis inté merece

Sê aletrado tomem?

 

Nosso traje tomém é deferente.

Nóis carça butina...se tive

Se num tive, nóis vai de pé no chão

Purisso nóis é matuto do pé rachado.

Nóis num usa terno e nem gravata

Nem essa tale de bravata

Qui a gente vê nos arrogado.

 

PA arresumi

Eu vô pu campo roçar

A labuita me ispera

E eu tenha a família pa mode tratá.

Eu vô iscrivinhá na terra

E o sinhôre iscrivinha no papele

Vai  alembrá de mim ao assuntá a mesa

 Na hora do sinhôre armuçá.

 

Inté!

 

Saiba mais…
CPP