Óia seu moço...
Nóis é da roça
E num fala errado.
Nóis fala deferente.
O sinhôre fais discurso
Pa dotôre e intelectuale
E nóis cunversa cum as semente.
Se a ponta dos seu dedo
A caneta num lhe faiz o calo
As nossa mão
Parece inté um ralo.
É a força dos nosso braço
No cabo da inxada
Desse caipira falado.
O sinhôre pode inté achá
Qui nóis é bobo
Mais nóis sabe da quentura
Qui tem o misterioso fogo.
E memo cum o sole iscardante
Cum o o suóre constante
Nóis alimenta esse povo.
Seu moço!
Se o sinhôre pude rabiscá a terra
Cumo nóis rabisca
Prante uma semente tomem.
Quem sabe vocemecê recunhece
Que nóis inté merece
Sê aletrado tomem?
Nosso traje tomém é deferente.
Nóis carça butina...se tive
Se num tive, nóis vai de pé no chão
Purisso nóis é matuto do pé rachado.
Nóis num usa terno e nem gravata
Nem essa tale de bravata
Qui a gente vê nos arrogado.
PA arresumi
Eu vô pu campo roçar
A labuita me ispera
E eu tenha a família pa mode tratá.
Eu vô iscrivinhá na terra
E o sinhôre iscrivinha no papele
Vai alembrá de mim ao assuntá a mesa
Na hora do sinhôre armuçá.
Inté!
Comentários
“Matuto do pé rachado”,
Que “escrivinha na terra”
e “pranta a semente”..
que “carça butina”
Sem “essa tale de bravata”
Que é coisa dos “arrogado”:
Obrigado e parabéns, poeta,
Mestre Tinga das Gerais,
Por esse poema tão aprumado!