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Folhas de ipê

Folhas de Ipê (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

                O escaldante sol queima tudo o que está à frente. Não respeita nada, nem mesmo a minúscula plantinha que sobe a camada dura do solo para sobreviver. Caso supere todos os obstáculos, ela será a verde planta, um pé de serralha, que por pouco tempo crescerá, ficará bonita, dará folhas bem verdes e soltará as flores, que servirão de enfeite para o atento fotógrafo registrando-as com as potentes lentes. Chegará um dia em que a cor verde se renderá ao amarelo, secando, assim, a maravilha e a beleza da planta.

                Não muito distante, apenas alguns metros, a imensa árvore de ipê amarelo está toda florida. Suas flores são a verdadeira riqueza que a natureza ofertou para o ser humano. Quando se olha ao longe e nota a paisagem toda seca, o cérebro logo focaliza as flores amarelas, que mais se parecem com baldes de ouro vindos do céu e estacionados sobre os galhos da árvore.

                Maritacas verdes enfeitam as flores amarelas, que mais se parecem com as cores da bandeira do Brasil. Também, lá, o casal de beija-flor voa desesperado por todos os cantos. Não deixa que as abelhas voam e pousam sobre as flores. Eles, os beija-flores, são os donos da imensa florada amarela. Moscas se atrevem na aproximação, mas são ligeiramente espantadas pelos esfomeados colibris, que recebem ajuda das maritacas fazendo muito alvoroço e sendo os gritos escutados por uma boa distância.

                Assim, o inverno vai despedindo daquele ano. O rastro seco, o rastro de tristeza, o rastro do frio e o rastro do desespero do humilde lavrador estão indo embora. Está deixando para trás as manhãs frias, as manhãs onde tudo amanhecia triste, somente a nebulosidade e a névoa matinal cobriam as árvores e arbustos. O pasto seco e sem vida fornece o capim para o gado que ali pasta.

                Desta forma, as folhas do ipê já estão no solo. São muitas. São dezenas de centenas. São até o que a mente humana consegue contar. Formigas saem da toca e caçam algo para o sustento da prole.

                O intelectual lavador, de posse do carrinho de mão, a enxada, a pá e outros equipamentos junta as folhas e as deposita junto à sombra do coqueiro. Lá, usando algo cortante, vai amassando e quase as transforma em pó. Quanto já terminado o trabalho, adiciona água e deixa as folhas secarem por completo. Feliz, ele as mistura na terra e fará vários canteiros, onde alface, pimentão, couve e outras verduras serão plantadas e adubadas pelas lindas e fortes folhas de ipê.

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Rumores de primavera

Rumores de primavera (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

                A brisa toca lentamente o rosto de Ritinha. É final do mês de agosto. Tudo seco: Pastos, gramas e vegetação. Pássaros cantam tristes nas abas das árvores mirradas pelo excessivo frio e a falta de chuva para o período. O casal de tico-tico ainda solfeja a linda e harmoniosa canção nos galhos da jabuticabeira, pois no caule, pequenas pintas, que anunciam as primeiras flores para a geração das lindas e saborosas jabuticabas.

                A menina olha para o horizonte e ainda vê parte negra meio azulada. É sinal de que a estação fria chega ao fim. Ao longe, há sinais de fumaça em forma de funil. É fácil deduzir que está havendo queimadas por falta de descuido ou indícios de crime contra a natureza.

                Olha para o firmamento da tarde e fixa nas pequenas nuvens que vão vagando a céu afora. São rápidas, são passageiras. São brancas e a cada momento elas formam figuras que a mente humana ainda consegue decifrar. A garotinha brinca com a inteligência e vai associando o embaciamento a formas de pássaros, cavalos, lobos e outros seres. É fantástico, diz ela com a voz forte e delicada.

                O forte grito da seriema lhe dispersa a atenção. Não muito longe, ela procura pelo som emitido pela ave. São duas ou três, pensa consigo mesma. Deve ser uma família que volta para o ninho, não sei.

                A rajada de vento é tão forte que eleva os cabelos ao alto. Ela, por si, procura ajeitá-los olhando para chão. Parece que a minúscula partícula de poeira pousa sobre o olho direito. É rápida a passagem. Em poucos segundos não mais há nada no olhinho verde da garotinha de dez anos.

                O desviar do olhar mira na árvore grande bem próxima a ela. Tudo seco ao redor, mas na planta, no mais alto galho, surgem algumas flores amarelas. Tão lindas que a natureza as criou para dar alegria e esperança a quem lhes observa. São muitas, são o ouro da vida, que suavizarão o período negro, de secura, a solidão e lugubridade. Então ela observa e diz: São as flores do ipê amarelo. É o prenúncio da primavera, a estação das flores, a estação dos pássaros que cantarão as lindas e belas canções. A alegria chegou na forma das lindas flores amarelas, que, por pouco tempo, durarão. Então, a chuva chegará para alegria, porque neste dia, são rumores da primavera.

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Grilo

Grilo (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

O grilo cantou

Para anunciar

Que o inverno acabou.

 

Nas noites de primavera

A cantoria é grande

Pois o frio terminará.

 

Canta um no início do jardim

O outro responde no outro canto,

Pois o inverno chegou ao fim.

 

As formigas acordam do sono profundo,

Cheias de fome e querendo o ninho nutrir,

Vão à caça das folhas para alimentar o fungo.

 

O sapo também grita perto da lagoa,

Pois as noites estão mais quentes,

Faz muito barulho e não quer ficar atoa.

 

Outros grilos cantam...

A serenata mais profunda e linda,

Porque os lavradores se encantam.

 

Virá a chuva para o plantio

Com mudas e sementes novas,

Alegrando as terras do sítio.

 

 

 

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Promessa

Promessa (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

 

Quantas lembranças

Estão na mente,

Até mesmo o escritor

Que hoje fez o texto para o doutor.

 

Não pensou muito e escreveu

Em pouco tempo leu...

Que de tudo cumpriria

Até mesmo o que se esqueceu...

 

Prometeu amor a tudo,

Até mesmo ao código de ética,

Mas distanciou do juramento,

Porque ficou muito perdido...

 

Vieram as fatalidades,

Até mesmo das poucas idades.

Não mais sorriu

Nem mesmo a cara abriu.

 

Lembrou do amor passado,

Lembrou o presente futuro.

Lembrou que o tempo ainda viria,

Mesmo tarde, mesmo tardia...

 

A promessa ficou para trás,

Nem mesmo ligou que era a promessa,

De muitos anos, de mais anos,

Que o tempo amarelou.

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Recordando o passado

Recordando o passado (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

A cidade está em festa. Na praça principal há barracas, exposições de trabalhos artesanais e artísticos, praça de alimentação, com vendas de sanduíches, caldo de feijão, caldo de mandioca, bebidas diversas, sorvetes e picolés, exposição de quadros e fotografias e música ao vivo.

Marco caminha pela praça onde estão ocorrendo os eventos. Cabisbaixo, sempre olhando para tudo e não perdendo nada, por um momento para defronte à barraca onde biscoitos, pães e algumas guloseimas são comercializados. À frente, o forno de tijolos construído para retratar as quitandas que eram assadas e alguns fogões à lenha que relembravam a história antiga, ou seja, o período por volta dos anos quarenta até meados dos anos oitenta, mas, em algumas fazendas e sítios, a prática ainda é feita: Assam pães de queijo, biscoitos, roscas e demais produtos no grande forno, que sempre está perto do cômodo da cozinha.

Com seus cinquenta e poucos anos, ele olha para o forno. Procura algo de especial ali. Vê que ainda há brasas que ardem fortemente e a fumaça exala o odor direcionado para o rosto magro, com barbear feito no dia anterior. Procurando ele esquivar-se, onde os olhos lacrimejavam a sensação da fumaça, deu alguns passos para frente e quase se chocou com o dono da barraca, com lindo sorriso nos lábios, foi logo dizendo:

- Bom dia! O senhor está gostando das ornamentações desta praça?

Meio espantado, pois ainda não estava atento às movimentações do local, ainda assustado com a linda e afetiva informação do barraqueiro, passando a mão direita sobre os olhos, pois a fumaça ainda o perturbava, assim respondeu:

- Bom dia, senhor!

- Estou eu aqui, após vários anos sem retorno a esta cidade.

- O tempo passa, às vezes a saudade aumenta.

- Não tenho tantos conhecidos aqui, pois, ainda muito jovem, fui obrigado a mudar para a cidade grande, porque era preciso.

- Cresci entre arranha-céu por todos os lados. Ruas asfaltadas, carros, caminhões, ônibus, ambulâncias e buzinas por todos os lados. Pessoas que correm e muitas das vezes negam um “bom dia” e, até mesmo, “boa noite”. Tudo gira em forma do “Eu”, do desconhecido, do reverso, da ingratidão, de pensar que tudo que está a sua volta é crime, é marginal, é violência.

- Estou assustado com o calor que recebo de sua pessoa, neste momento.

O homem olhando para aquela pessoa de bonita aparência, bem vestido, com relógio de marca no braço, com telefone celular de última geração, ficou parado e pensava consigo mesmo que seria mais um problema na vida.

Então Marco assim disse:

- Recordo-me de quando ainda era criança.

- Meu pai tinha um terreno aqui por perto, ou seja, para chegarmos até esta cidade, tínhamos que pegar ônibus.

Continuou a contar. O barraqueiro escutava com muita atenção. Até parou com os afazeres. Pegando dois banquinhos de madeira, ofereceu um a Marco e outro para ele. Os dois sentaram-se e Marco continuava a falar:

- Obrigado por escutar-me, mas morávamos no sítio.

- Ainda pequeno, meu pai pedia que minha mãe vestisse a minha irmã e a mim.

- A bermuda vermelha, a minha predileta, a camisa branca de malha, onde havia a estampa do Mickey. Nos pés, o negro e bem limpinho kichute e meias pretas.

- Andávamos por cerca de dez a quinze minutos. Lá, já estávamos na estrada principal e aguardávamos o ônibus para esta cidade.

- Se chovesse, tínhamos a capa e a sombrinha de minha irmã. Eu não gostava de agasalhos. Preferia sentir frio e ficar molhado, pois amo a chuva. Na poeira, ficava sempre limpando o kichute, pois, para mim, era o sinônimo de liberdade e conquista.

- Então, o ônibus chegava. Sempre eu era o primeiro a entrar e nem mesmo esperava que outras pessoas descessem naquele ponto. O motorista, por nome João, sempre me xingava e dizia que eu era sem educação. Não importava, porque eu sempre sentava na primeira poltrona e assim ia vendo a estrada até chegar na cidade.

- Passa-me na mente de véspera da semana santa virmos para as festividades. Meus pais não tinham casa aqui. Ficávamos em casa de minha avó, por nome conhecido “Fiinha”, que sempre nos acolhia e matava a saudade em ver-nos.

- Neste dia, antes de sair da casa de papai, comi muito. Mamãe fez muitas quitandas e me lembro perfeitamente o quanto comi. A barriga ficou bem cheia. Já estando dentro do ônibus, senti que o estômago estava pesado. Vieram gotas de suor no rosto, a exsudação estava intensa e bastante frio. A estrada estava bem ruim, com muitos buracos. O veículo balançava muito. Pedi ao motorista que parasse o ônibus, mas o maldito nem atenção quis dar-me. Não aguentei e vomitei no corredor do ônibus. Ele, o motorista, ainda me xingou e falou que iria eu lavar quando chegasse na rodoviária. Então, quando chegou na cidade, assim que o passageiro estava descendo, eu descia atrás dele e cheguei em casa de vovô primeiro que minha irmã.

O tempo passava e Marco contava os acontecimentos de sua vida. Agora já falava da família, da profissão de médico e cientista no exterior e muito mais ele desabafava com o barraqueiro.

A conversa foi longa. Já durava pelo menos quase duas horas.

Marco também ajudou o feirante a massar quitandas e até vender para alguns que ali estavam.

Já cansado, Marco comprou mais quitandas e, quando ia despedindo do feirante, foi assim perguntado:

- Dr. Marco, fiquei muito feliz em tê-lo como companhia nas horas passadas.

- Antes do Doutor ir embora, talvez nunca mais eu irei vê-lo, vou dizer-lhe:

- Estou recordando desta passagem.

- Lembro-lhe perfeitamente quando o senhor saiu correndo e deixou sua irmã para trás. Eu é que tive que ajudá-la a carregar a bagagem.

- Naquele ônibus, eu ainda era pequeno, na mesma idade do senhor, e o motorista era meu pai. Eu o ajudava no serviço de cobrar as passagens. Eu era o cobrador mirim.

- Então, com seu vômito, eu é que tive que limpar o ônibus para meu pai, porque se não o fizesse, seria surrado.

O espanto foi total. Marco abaixou a cabeça e lágrimas saiam dos olhos, mas escondidas pelo escuro óculos.

Marcos, assim falou:

- Quanta coincidência?

- Jamais imaginei que encontraria a pessoa que presenciou tudo. Recordei-me de ver-lhe fazendo as cobranças. Vestia você o uniforme mirim na cor azul e o chapéu kep na cabeça. Era bem exigente e gostava de cobrar rápido.

- Então, o que posso fazer para repará-lo do serviço que você fez por mim?

O feirante olhou para Marco, aquele homem de boa aparência, prestigiado, médico e cientista, morador no exterior, após dar-lhe o forte abraço, exclamou:

- Doutor! Naquele dia eu fiquei a tarde toda limpando seu vômito. Estava o regurgitamento com odores péssimos. Vomitei também. Terminei o trabalho era por volta de oito horas da noite.

- Quando fui para casa, meu pai ainda me surrou porque demorei para limpá-lo. Não jantei e no outro dia nem quis comer nada, porque lembrava daquele horrível expelir de alimentos. Até hoje, quando lembro e comento com minha família, dá-me muito nojo.

- Então, para sanar tudo até hoje, conforme o doutor pediu para reparar os danos, peço-lhe que faça a indenização de um mil e quinhentos reais, que poderão ser pagos por meio de pix, no número a seguir, que é meu CPF.

Marcos, então, efetuou o pagamento. Ainda levou muita quitanda para a família.

  

 

 

 

 

          Direitos autorais reservados em 20 07 2025

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Expressões sinistras

Expressões sinistras (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

Às vezes utilizam-se expressões diferentes da realidade. Dona Maria vai ao açougue e lá chegando diz para o açougueiro:

- Sr. Pedro, por acaso o senhor tem coração?

O colaborador vendo-se meio constrangido, olhando para os lados e olhando para algumas pessoas que já se preparavam para a caçoada, assim responde:

- Dona Maria, minha nobre e fiel cliente deste açougue. Como a senhora sabe, o coração é o órgão muito importante do corpo humano. Ele é responsável pela vida, pela circulação sanguínea e é vital para a vida. Caso eu não o tivesse, não estaria aqui para lhe atender. Tem coração de porco, de boi e de galinha.

A manhã corria tranquila na pequena cidade. João, o caminheiro de fim de semana, entra na padaria e assim diz à funcionária:

- Dona Fulana, por obséquio, me vê um café?

A garçonete, muito educada e sempre sorrindo para os clientes, sai rapidinho do balcão. Vai até à bancada onde estão as garrafas com o líquido negro e precioso, destampa o recipiente, abre e olha dentro dele, aprecia o aroma gostoso, através de sorvida e retorna ao posto de trabalho.

João olha para a moça. Meio desconfiado, põe a mão no bolso e de lá agarra o aparelho celular. Com o dedo indicador o desbloqueia e vai averiguando as mensagens. Fica fitado por um bom período e olhando novamente para moça fala:

- Dona Fulana! A senhora não trouxe o café, conforme lhe pedi.

A moça, sorrido, assim o retruca:

- Seu João! O senhor me pediu para ver o café. Eu o fiz. Abri o recipiente e o vi lá dentro. Estava ele aromático, quente e, suponho, delicioso. Se o senhor me pedisse para lhe servir uma xícara dele, já estaria bebendo.

Antônio é pedreiro. Nos finais de semana, gosta de ir à lanchonete e tem o filho, que carinhosamente, é conhecido por “Dim”. Então lá chegando, diz:

- Gentileza me venda dois copos de suco de laranja e os leva “po Dim”. Mais isto e o leva “po Dim”.

Márcio é também açougueiro. Trabalha no supermercado da cidade. Então, o José lá chegando, diz:

- Bom dia Márcio.

Márcio responde, com alegria, dizendo:

- Bom dia, Sr. José!

O pequeno intervalo de tempo vai passando e José pergunta:

- Márcio, você tem focinho de porco?

- Você tem pé de porco?

- Você tem orelha de porco?

- Você tem barriga de porco?

- Você tem língua de porco?

- Você tem rabo de porco?

Muitas pessoas estavam por perto para comprar. Alguns riam baixinho. Outros saiam de perto e riam nos cantos. Márcio, vendo que a situação iria complicar, logo diz:

- Seu José! Chega de brincadeira ofensiva.

Continuava:

- Eu não tenho nada disto. Sou humano. Não tenho focinho, nem orelha, nem barriga, nem língua e nada de porco.

- O mercado tem os ingredientes para serem vendidos, mas eu não tenho nada de porco.

Assim é o dia de cada um. Muitos utilizam expressões desconhecidas, outros levam a sério a gramática, pois o dia se evolui a cada dia.

 

 

         

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A menina e suas velas

A menina e suas velas (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

Na igreja, a grande multidão,

Onde pessoas iam e vinham.

As velas eram seguradas em sua mão.

O poeta não sabia quantas velas

Aquela linda menina possuía...

Eram tantas, mal cabiam nas pequeninas mãos.

Com o dedinho indicador,

Apontava para o pavio,

As unhas estavam grandes,

E no cilindro de cera

Cravava o dedinho,

Como se estivesse desenhando algo,

Que seria lembrança do passado...

Depois, contava uma a uma...

Seriam dez ou doze.

Novamente apontava o dedinho

E mais uma vez apertava a unha.

A mãe lhe reprimia dizendo para não fazer aquilo,

Mas ao descuido da matriarca,

A menininha mais uma vez aprontava.

O poeta perdia

A grande liturgia...

A visão não era direcionada para o papel,

Somente para a graçola

Da moçoila ali presente.

Quando cansou do entretenimento

À mamãe, as velas, entregou.

Apontou para bolsa e água pediu...

Coçou a cabecinha, ajeitou os cabelos

E para o padre olhou....

Não ficou muito tempo,

Novamente pediu o pacote de velas,

Iniciando novamente o ciclo

De apertar as velas com as unhas pequenas.

Então o poeta se retirou

E à porta se adentrou.

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O defunto que escapou do cimeitério

O defunto que escapou do cemitério (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras) @josecarloscontador

 

                Dom Bambam, cidadão assim conhecido e de nome Antônio Calazans Melo Viana (o nome é fictício e qualquer semelhança é mera coincidência) era o prestigiado da cidade. Filho único. Jamais trabalhou e administrava os bens e a herança herdada dos pais. Bacharel em Ciências Econômicas e também em Administração, passava o tempo todo entre os estudos e as baladas noturnas. Solteiro, fumante de três maços de cigarros por dia, bebedor de cerveja nos finais de semana e a principal atividade: agiotagem.

                Para ele, a função de onzeneiro era a maior alegria. Emprestava dinheiro à taxa alta, trocava cheques para empresários e pessoas físicas em geral, cobrando sempre a maior taxa de juros do mercado, comprava veículos e casas em pagamentos de dívidas, fazendas e outros bens. Com tantos imóveis recebidos, cobrava aluguéis altos e mantinha sempre a conta bancária recheada em diversas aplicações, pois era conhecedor e investidor em moeda estrangeira, bolsa de valores, ações, renda fixa e até prestava serviço de consultoria econômica para alguns gerentes dos bancos onde mantinha investimentos.

                Era meio rude para com o tratamento cotidiano. Falava pouco, dificilmente sorria, a não ser com ótimos ganhos de capitais, recebimentos de bens em pagamentos de empréstimos e outras vantagens a seu favor.

                A qualquer momento, tinha ele disponibilidade financeira para emprestar dinheiro e até mesmo comprar bens, quando o vendedor estivesse com dificuldades financeiras, ele oferecia o valor bem abaixo do preço de mercado e o vendia com grande lucro.

                Assim era sua vida. Pouco era sua convivência com a sociedade. Saia em períodos de festas, mas retornava cedo para a residência. Esta, por sua vez, uma verdadeira mansão. Casa com dois pavimentos, quatro quartos com suíte e sauna, garagens espaçosas com a coleção de carros importados e também carros antigos, piscina, área de lazer e até a churrasqueira, que ele mesmo fazia o churrasco somente para ele. Era solitário. Mantinha dois funcionários, sendo uma senhora para os afazeres domésticos e o esposo dela para cuidar do jardim, da piscina e das outras áreas da casa. Excelente pagador. Não devia um só centavo para ninguém. Sempre compra e pagava adiantado.

                Não tinha companhia de ninguém. Não tinha namorada, nem filhos e nem esposa. Era anacoreta. O tempo todo passava entre os computadores, o telefone celular e a leitura dos livros da grande biblioteca particular. Ia ao banco na parte da manhã. Atendia os clientes no escritório ao lado do jardim. Assim era a vida dele.

                Os anos foram passando e a fortuna sempre aumentando. O patrimônio constava de muitos imóveis, carros importados e carros antigos, ações, aplicações financeiras e muito mais.

                Certo dia, pela manhã, ele não saiu para a pequena caminhada no jardim, como fazia todos os dias. Os funcionários ficaram preocupados e foram até o quarto dele. Lá, ele não estava, nem mesmo tinham pistas de que ele dormiu no aposento. Foram até a biblioteca e lá o encontraram sem vida. O médico foi chamado, mas teve morte natural.

                No velório, poucas foram as pessoas que ali compareceram. O casal ficou ali para prestar as condolências aos que ali chegavam. O sepultamento contou somente com o casal e mais quatro pessoas, que ajudaram a carregar o caixão do defunto.

                Um mês se passou e o casal permaneceu na mansão. Sem receber nada pelo trabalho, procurou o juiz de direito da cidade e explicou a situação e lá entregou as chaves da casa e pediu que o oficial de justiça fizesse o inventário dos bens existentes no imóvel. Da lista, os dois funcionários ficaram com a cópia e foram para a cidade de origem.

                O patrimônio do endinheirado ficou parado, ali, na mão do representante da justiça. Para os devedores, foi alívio, mas para o Antônio, dono do bar da esquiça, um sujeito muito honesto, procurou o juiz para pagar o devia ao finado. O juiz não pôde receber, pois não tinha o documento onde constava a dívida. Então, o comerciante deixou sobre a mesa do julgador.

                A situação estava complicada. Nenhum herdeiro apareceu para reivindicar a fortuna do defunto.

                O tempo foi passando. A mansão estava abandonada e com ela os bens perdiam naquele ambiente. Com medo de furtos, o prefeito instalou, à frente da mansão, a cabine para que a polícia militar ficasse ali e vigiasse o local.

                Quando foi sugerido que os bens ficariam com o Estado, de Londres chegou às mãos do juiz a carta de Marta, que afirmava que era filha do falecido. Foi alvoroço total.

                Em quinze dias, desembarcava na cidade a referida mulher, a verdadeira filha do bilionário esquecido no cemitério.

                A situação estava deteriorando cada vez mais. Foi motivo de notícias pela cidade e também pela mídia. Na realidade, ninguém sabia que o Bambam tinha filha. Era ele muito recluso, não comentava para ninguém e até o juiz conversou com o delegado que a mulher seria farsa, seria alguma impostora. O esclarecimento surgiu por toda cidade. O Juiz já havia autorizado o mandado de prisão para Marta, mas foi comunicado que a Dona Maria, senhora de mais de cem anos de vida naquela cidade, que dizia que Bambam teve uma filha com a ex-colega de faculdade. Segundo a anciã, o caso foi abafado pelos pais dele. Recebeu a mulher fortuna para não comentar o fato. Ganhou casa na capital e muito dinheiro.

                Mais complicado ainda ficou para a justiça, que agora precisava ter a certeza da filiação da mulher. Então, foi solicitado o exame de DNA para a comprovação da filiação.

                Marcaram o dia. O coveiro foi intimado a abrir o túmulo e o médico legista também foi convocado a realizar o teste.

                No dia e hora marcados, estavam todos no cemitério. Quando abriram o túmulo, a surpresa foi tanta. Dentro do caixão, já deteriorado pelo tempo, não havia nada. Nem os restos mortais do defunto, nem sequer osso, cabelo, roupa. O defunto fugiu. Não se sabe para onde foi. O túmulo não foi violado, conforme perícia do engenheiro da prefeitura. Não tinha nenhum resto mortal de Bambam.

                Entrou prefeito, saiu prefeito e até hoje a mansão está ali, já caindo em pedaços porque não encontrou nenhum herdeiro para receber a herança de Bambam.

                  

               

 

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Padaria

Padaria (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Na padaria tem a “Docinha”

Que vive falando da quitanda gostosinha.

Tem a “Bonitinha”

Falando que a rosca está lindinha.

Não se esqueça da “Salgada”

Com cara feia, dizendo que de bom não tem hoje nada.

A “Fofinha”

Tirando fotos e publicando no “status” muito perfeitinha.

Já se esquecia da “Lindinha”

Dizendo que a broa está muito fofinha.

O padeiro José

Está triste, pois machucou o dedo e só mexe a massa com a colher.

A “Vidinha”

dizendo que o biscoito chama torradinha.

 Os apelidos são de fato

Porque cada uma tem seu ato

Que é tratar bem o cliente,

Mesmo ao atencioso Vicente,

Que todos os dias compra quitanda

Para levar para a família do “Miranda”.

Então o dono está feliz

Vai logo coçando o nariz,

Falando que expandirá o negócio,

Mas precisa arrumar novo sócio.

Na padaria tem mais outro funcionário,

Por nome de “Mário”,

Quem encanta os clientes com poemas,

Dizendo letras e resolvendo os problemas,

Do cliente mal pagador,

Para eles, é dor...

Assim, “Lindinha”

Sorri para “Fofinha”

Falando que a vida é perfeita piada,

Mas todas estão na “parada”.

               

 

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Passarinho fofinho

Passarinho fofinho (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Passarinho quer pão

Bem picado, sobre a janela,

Longe da panela...

 

Não importa se está macio,

Nem mesmo se o tempo está frio,

Ele está com fome...

 

Pousa na madeira da varanda.

O comportamento é de criança mimada,

Cantando e dando pulinhos...

 

Canta uma vez, duas vezes,

Pode cantar por vários meses,

Mas canta como se pede e se agradece...

 

Come ele os pedacinhos

E sempre olha para os cantinhos,

Com medo do gatinho...

 

Cata todo o farelo do pão,

E voa para o telhado se escondendo no vão.

Aparecendo mais tarde, na hora do almoço...

 

Assim ele faz todos os dias,

Apreciando as mordomias

Da alegre cozinha da Dona Maria.

 

Com chuva, com sol, com vento,

Está ele a todo momento,

Comendo o delicioso pão e também a broa de panela.

 

 

               

 

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Feliz dia de mãe

Feliz dia de mãe (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Na tarde do último dia do mês, nasceste.

Tua mãe era somente felicidade,

Frio, vento, festa na cidade.

Não tinha outro olhar para ninguém, só para ti.

Deu-te o primeiro alimento, o leite materno.

Levantou-se ela a cada choro vindo de ti.

As fraldas, as roupas, os remédios, o alimento,

Tudo isso ela jamais fez questão.

Trabalhava para satisfazer teus desejos.

Não teve ajuda do pai, porque ele se foi...

Vestiu-te o vestido branco para o batismo.

Os padrinhos foram os segundos pais.

Levou-te à escola, no primeiro dia...

Choravas, mas aos poucos, sorrias.

Cresceste e logo a adolescência.

Briguinhas de filha para mãe...

Formaste a linda mulher.

Nos bancos da faculdade foste a melhor aluna.

Concluíste a profissão dos sonhos...

No belo dia, encontraste o verdadeiro amor...

Namoraste e casaste.

Aos poucos a família iniciava.

Ficaste alegre quando serias mãe...

Então, neste dia de mães,

Relembres o que tua mãe fizeste por ti.

Sejas o exemplo dela,

Sejas a verdadeira mãe,

A amiga, a acolhedora, a felicidade,

Para seres lembrada não no dia de hoje,

Mas em todos os segundos das vidas de teus filhos.

 

 

               

 

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Briga na casinha

Briga na casinha (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                A enxada estava de cara feia. Assim que foi lavada na bica, o lavrador a levou para a casinha e a colocou em outro lugar de costume.

                Então, ainda de cara bem feia e soltando tudo quanto palavrão, ela foi logo desabafando com a pá:

                - Que porcaria! O “dondoca” do enxadão tomou meu lugar aqui na casinha. Depois de trabalhar o dia todo, cortando diversas plantas, inclusive as touceiras de braquiária, moitas de picão, bater de frente com pedras, que afetaram minha lâmina, o “bonitão” foi reconhecido e está em meu lugar. Eu não aceito ser tratada assim.

                Calmamente, a pá, ouvindo tudo o que a enxada lhe disse, e ainda permanecendo um pouco em silêncio, respondeu:

                - Calma, minha amiga! Estamos todos aqui em paz. O Joãozinho comprou o enxadão e ele é novo aqui. Foi encavado há pouco tempo pelo Marquinhos. Foi levado e tomou banho na água da bica para ficar forte. Ouvi que ele, amanhã, bem cedo, irá cavar muitos buracos para a cerca bem acima do córrego.

                Com muita perfeição e totalmente parcimônia, alongou a explicação:

                - A cavadeira está ali, bem descansando. Vai trabalhar muito amanhã. Foi totalmente regulada, recebeu graxa, apertos nos cabos e está em regime de descanso, porque os dois, juntamente com o martelo, a turquesa, os grampos e o arame, irão cedo para a labuta. Então, fique tranquila. Descanse e não pense que o “dondoca” é melhor que você.

                Sem objetivo, a enxada se calou e ficou resmungando bem baixinho e olhando para o enxadão, como se o encarasse para a briga.

                A chibanca deu um grito bem forte, que acordou todos ali. Sonhou ela que estava sendo rejeitada pelo Marquinhos, pois saiu do cabo e não se encaixava mais. Viu-se dentro da fornalha do ferreiro Antônio, lá na cidade.

                Mais uma vez, a pá, a grande amiga e conselheira de todas as ferramentas na casinha disse palavras de conforto e carinho para a amiga.

                O machado estava queixando que a foice estava tomando seu lugar no corte de bananas. Disse que queria pegar a foice e lhe surrar bastante até deixá-la cansada e sem condições para o corte da fruta. Então, ele, todo vigoroso, estaria no lugar de costume e não precisava fazer tanta força para o corte de madeira. A foice queria partir para cima do machado, mas logo, a amiga pá, correu e pacificou a situação.

                O garfo não conseguia dormir com aquela algazarra. Disse que partiria com os dentes afiados para quem o perturbasse no sono. Levantou-se e queria pegar o machado, mas, mais uma vez, foi seguro pela pá, que lhe pedia calma.

                A enxada ainda continuava a reclamar do lugar. Não se conformava com aquela situação de ter sida deixada de lado, juntamente para o novo enxadão. Então, bem devagar, foi aproximando do enxadão de falou:

                - Sabe que está em meu lugar?

                O enxadão, acordando o profundo sono e sabendo que teria o dia muito tenso, sem saber o que dizer no momento, e ficando assustado disse:

                - Não sei do que está falando, sua velha vagabunda...

                A enxada, espumando de raiva, retrucou:

                - O que disse?

                - Repita se for enxadão valente?

                Então, o tempo fechou ali dentro. Era algazarra para todos os lados.

                O enxadão partiu para cima da enxada, mas formou-se a barreira entre a pá, a picareta e o rastelo. Dizem eles, coro:

                - Se encostar em nossa amiga enxada, nós o quebraremos todo.

                Então ele desistiu e voltou para a lugar de origem.

                Acalmaram-se por alguns instantes. Porém, lá no canto, ouviu-se a voz do martelo dizendo:

                - Turquesa, filha de uma vaca. Você ri enquanto trabalhamos. Enquanto descansa, eu fico dando narigada nos grampos e você acha graça!

                A turquesa, rindo ainda mais, comenta:

                - Quem lhe pediu para ser bobo?

                O martelo não se conteve. Correu para o lado e agrediu a colega. Neste momento, o enxadão aproveitou o descuido da enxada e a atacou. O machado entrou na briga e eram golpes para todos os lados. Até a foice teve parte do cabo cortado. O arame não se conteve e começou a dar farpadas para todos os lados.

                Foram mais ou menos uma hora de briga. Cansaram todos e foram dormir. Ao amanhecer, o empregado abre a casinha e grita:

                - Patrão, Patrão! Venha ver o que aconteceu aqui!

                O patrão chega e olha o que aconteceu. Todas as ferramentas estavam com os cabos quebrados. O único que sobrou intacto foi o serrote, que estava pendurado no alto e não foi alcançado pelos golpes dos brigões. Então, lá no canto, surge a grande ratazana e corre por entre eles. Então, o patrão diz ao empregado:

                - Foi a rata que causou tudo isto. Vamos colocar veneno para ela e hoje não faremos a cerca. Vamos trocar tudo. As ferramentas que não estiverem excelentes, nós as jogaremos fora e compraremos outras novas.

              

 

Direitos autorais reservados em 04 05 2025

 

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Menininha

Menininha (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

No laboratório, bem vestidinha,

Está a pequena menininha.

Cabelinhos soltinhos

Sorri com os olhinhos.

 

Não sei se acha graça

De ver outros tirando o sangue, uma desgraça.

Sorri com a boquinha fechada

Porém, permanece calada.

 

Olha para a direita

E vê a Dona Nieta,

Com os potes de urina nas mãos

E vários exames de montões.

 

Encosta nos braços da mamãe,

Pega a bolsinha e ao ombro se põe.

Espia do lado esquerdo

E vê a Maria coçando o dedo.

 

Pisca o olho devagarinho

E seu olhar se distrai de mansinho

Em ver a bioquímica a chamando,

E os braços, em sua direção, inclinando.

 

Dirige-se ao ponto de coleta,

Ligeiramente, como a borboleta,

Não chora, não grita e o sangue foi extraído,

Sorri e sem dar, sequer, um gemido.

 

Então, vai embora, sorrindo,

E os espectadores a olhando,

Até sair à porta da rua,

Sumindo pela avenida até entrar na perua.

                 

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Florzinha roxinha

Florzinha (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

Lá vai a florzinha roxinha

Dentro do carrinho de mão

Levada pelo jardineiro descuidado

Que a arrancou do jardim...

 

O vento soprava suas folhinhas verdes,

Como se estivesse despedindo

Daquele lugar

Onde permaneceu por muito tempo.

 

Será amontoada junto ao entulho

Sem ver os amigos

Que todo dia lhe visitara:

O beija-flor, a borboleta, a mosca e a formiga.

 

Não mais terá a água nas raízes

Nem o punhado de terra a seus pés.

O adubo não mais verá,

Nem mesmo sentirá a tempestade nas folhas.

 

Aos poucos o sol lhe queimará

Secando o brilho de sua cor...

Respirará por pouco tempo

Até morrer e ser balançada pelo vento.

 

Então a dona do jardim

Cobrará do jardineiro pela linda florzinha roxinha.

Ele dirá que não a viu e nem mesmo sabe onde estará.

 

Magoada ela o demitirá

E outro, em lugar, em pouco tempo, estará.

Então o novo jardineiro

Outra florzinha roxinha plantará.

                 

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Domingo de páscoa

Domingo de páscoa (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                O sol nasceu entre nuvens, pois o período de outono está na medida certa. Os pássaros acordaram mais alegres, pois os dois últimos dias foram tristes, foram lúgubres para a natureza e principalmente para a comunidade cristã. Está finalizando o ciclo da treva, da quaresma, da semana santa e da tristeza. Cristo, então, ressuscitou e vive novamente entre cada um.

                Então, Dona Judite acorda no cantar dos pássaros. Vai ao banheiro, toma o banho matinal. Rapidamente, coa o café e come algumas bolachas encontradas no pequeno pote. Abre a geladeira e lá está a sobra do doce de leite e do arroz doce, que foram feitos, por ela mesma, na manhã de sexta-feira da Paixão. Não come, mas a vontade é de dar a pequena beliscada. Lembra ela que está com alguns exames de saúde alterados. Fecha porta da geladeira e se dirige ao banheiro para escovar os dentes. Para por alguns instantes. Anda novamente, mas o instinto a faz retornar. Não se conforma, mas pega o pequeno pires e busca repentinamente a colher na gaveta do armário. Está fácil. Uma, duas, três, quatro... Desta forma, enche a vasilha. Com o cabo da colher, parte duas fatias de queijo mineiro, bem fresquinho. Puxa a cadeira e lá se delicia com a guloseima feita por ela mesma e sobrada da sexta-feira santa. Come lentamente como se estivesse apreciando o sabor amável e carinhoso. Lembra da frase dita pela filha de que ela deveria fazer regime, mas não a obedeceria porque é festa, é domingo de páscoa, dia da ressurreição de Cristo. Assim, permanece ela por alguns minutos até rapar, com a colher, toda a sobra que se encontrava no pires. Lambe os beijos com a língua e pronuncia bem suave, como se fosse falar ao pé do ouvido do falecido marido, que o doce estava ótimo, muito gostoso.

                O alarme do celular desperta com a música que ela mais gosta. É música sertaneja e de muito sucesso. Levanta ela da cadeira ligeira, pois a poucos minutos o padre João iniciará a missa. Ela tem que chegar mais cedo para se compor junto ao coral, onde faz parte. Faz a higiene bucal e em alguns minutos já está vestida com o uniforme musical. Vá à estante de livros e pega a pasta com as partituras musicais. Hoje, o repertório é composto por músicas mais alegres, mais animadas para esquecer os dilemas dos dias anteriores. Não se esquece da bolsa, que é colocada sobre o ombro esquerdo. A casa já está fechada. Confere se o fogão está desligado e ouve a voz da vizinha Aparecida, que a chama no portão dizendo que elas estão atrasadas. Diz que “já vou, já estou indo, aguarde”.

                Surge, então, no portão e saúda a vizinha e ambas começam a conversar. Saem as duas de braços dados. Um pouco mais atrás, vem o Pedro, acompanhado da esposa e da neta. Os três também fazem parte do coral. As duas os aguardam e seguem juntos até à igreja.

                Assim que chegam, o padre aguarda os fiéis na porta da igreja e deseja “feliz páscoa” a todos. Na praça da Sé, alguns populares estão finalizando a montagem do boneco “Judas”, que será queimado em comemoração ao domingo de páscoa.

 

 

                 

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Rosa

Rosa (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

A bela flor dos presentes,

Que o homem apaixonado

Presenteia à jovem amada.

 

A bela flor que enfeita

A imagem de Nossa Senhora,

Na solene procissão.

 

A bela flor que a linda noiva,

Toda de branco,

Carrega nas mãos no dia do casamento.

 

A bela flor perseguida

Pelas formigas

No jardim florido.

 

A bela flor

Que a Rosa cultiva

No sítio da família.

 

A bela flor

Que encanta

O observador atento.

 

A bela flor vendida

Na floricultura,

Toda enfeitada, para alguma cerimônia.

 

A bela flor

Que repousa no peito

Do defunto, na urna mortuária.

 

A bela flor,

A bela flor que encanta,

Que faz alguém sorrir,

Que faz alguém chorar,

Que faz alguém refletir sobre a bela flor: Rosa   

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Fantasia

Fantasia (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

É hora de mostrar dentro de si

O que há e o que tem...

Sonhos ainda não amadurecidos,

Ou os sonhos temidos

Que integrarão na alma

E expandirão na fantasia,

De ser o “Super-homem”

Quem sabe ser a “Mulher Maravilha”,

Dos quadrinhos,

Dos jornais...

O bloco carnavalesco na avenida

Sem coragem, mas um pouco de álcool

Transforma a coragem em emoção

De ser um grande folião,

Dançando nas passarelas

Carnavalescas...

Vestido em trajes que representam

Alguma personagem

Das novelas, dos filmes,

Quem sabe dentro de si...

O homem se veste de mulher

Enquanto a mulher se transforma em homem...

É carnaval,

É festa imperial.

Uma vez por ano,

Que também pode provocar dano

Na imagem, no comportamento...

É folia,

Também alegria...

Do carnaval,

A festa popular,

Do rico, do pobre, do remediado,

Quem sabe a festa...

 

 

 

 

                 

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Um poema

Um poema (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Escrever um poema

Para alguém

Ou alguma pessoa.

Seja rica

Ou pobre

E também nobre.

 

Escolher as palavras

Simples, singelas...

Que evolvem amor

Calor,

Sentimento

E frases do momento.

 

Colocar vírgula,

Pontos

E até o trema

Que para o poeta é pena

De caneta,

De ave...

Quem sabe ter do coração pena?

 

Pensar no tema

Poderá ser dilema...

Alguém quer poema de amor,

Outros querem de pensamento...

Até de Filosofia,

A ciência do saber,

Do aprender,

Do viver...

 

Então escreva o poema

Da beleza,

Da natureza,

Do calor

E da alma...         

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Frases

Frases (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Nas frases mais belas

Onde existem sinais de paqueras,

O moço decora a melhor

Para dizer a seu amor.

 

Não tem ele o dom das palavras,

Mas quer dizer e falar sem travas,

A pouca língua portuguesa

Falar a melhor frase para sua duquesa.

 

“Como vai”? “Está bem?”

Você gosta de alguém?

Assim outras expressões

Que envolvem amores nos corações.

 

Bem apaixonado

Como o grande tornado,

Vai ele ensaiando de todas a melhor.

Ficará nervoso se disser a pior.

 

O moço carinhoso

Torna-se bem dengoso

Em ver a amada, toda linda e elegante,

Querendo fazer-lhe muito falante.

 

Então diz o Antônio para Margarida,

Falando-lhe da vida,

Do trabalho, do estudo e até mesmo do amor,

Enquanto ela pensa em seu “Doutor”.

 

 

 

 

 

 

 

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Na padaria

Na padaria (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Na padaria está a Cristina,

Gente boa e de educação fina,

Vestida com o jaleco branco

Calçada do grosseiro tamanco

 

Com o sorriso nos lábios

Recita obras dos sábios,

Que na arte de vender pão

Embrulha seis para o Sô João.

 

Falando sobre a fina chuva

Pergunta se deseja comprar a caixa de uva,

Bem saborosa e docinha

Vinda da chácara da Dona Filinha.

 

Atende o Sr. Aleixo

E ele quer pão de queijo,

Fresquinho e bem assado,

Supervisionado pelo padeiro Geraldo.

 

Diz ela que tem o namorado

Muito bonito e bem amado,

Que a espera quando a padaria fecha

Tirando a toca e, no cabelo, fazenda uma mecha.

 

Assim foi o dia de Cristina,

Ainda para a mãe é a bela menina,

Que estuda no ensino médio, no colégio,

Para ser doutora e ter privilégio.

 

 

 

 

 

 

 

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CPP