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Sociedade

Sociedade (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Hoje, pela sociedade,

Varia a idade.

É louco

Quando se fala pouco.

É um circo

No mundo rico,

Onde se caçoa de quem chora

E apedreja quem mora...

Critica quem se veste bem

E também de quem fala amém.

O palhaço faz a graça

E no fundo do coração chora sua desgraça

Onde os poderosos riem alegremente

Enquanto o vassalo chora comovente...

A novela começa na televisão

E o sábio tem sua opinião...

Onde está a clareza dos fatos

Talvez escondida no meio dos patos.

A sociedade caminha ancorada

Sem versos para a amada,

Que na tela do smartphone quer se a mais linda

E querer morar em Olinda...

Curtindo o carnaval

Mesmo com as roupas no varal...

Vai a sociedade

Por toda a eternidade

Do “Natal” até o “Carnaval”

Enquanto lá fora há rumores de guerra naval

Viver, que tal

É bom, é menos mal.

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Tarde de novembro

Tarde de novembro (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Nuvens se formam no horizonte

E o sol se escondendo atrás do monte.

Pássaros voam de galhos a galhos

Confundindo suas imagens nos olhos.

 

No céu, o ecoar do barulho do avião,

Deslizando, em voo, lentamente olha o “Peão”

Já deve estar no horário de ir embora,

Porque já chegou a hora.

 

No último dia do mês de novembro

O ano já está passando e amanhã será dezembro,

O mês da alegria, do amor, do nascimento de Jesus Cristo,

Retratado no presépio feito pelo Evaristo.

 

A rolinha voa pelo horizonte à fora,

Parece estar fugindo o voraz gavião querendo sua devora...

O tico-tico canta no último galho da árvore florida,

Pela canção, parece querer comida.

 

Assim a tarde se vai e a noite chega.

A anciã, com carinho, às plantas rega,

Porque está muito quente e muito calor.

Pousa suavemente no galho o pequeno beija-flor.

 

Então a tarde se finda,

Na varanda, está a família unida,

Ajoelhados, reza a prece em agradecimento ao dia,

O “Pai Nosso” e a “Ave Maria”.

 

               

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Congada

Congada (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                O dia mal amanheceu. Dona Margarida já está de pé, pois o dia é domingo. Um dia muito especial, pois é a grande festa em honra a Nossa Senhora do Rosário, também conhecido como dia da “Festa da Congada”.

                O repicar dos sinos da igreja soam nos vários cantos da cidade, que se misturam com os sons dos tambores tocando em vários tons. São ouvidas notas musicais de caixa seca, tarole, sanfona, viola, violão e outros instrumentos. À frente, muito bem trajado, está o Capitão do Terno de Congada. Muito bem vestido com o terno preto, gravata, sapato social, acompanhado do chapéu de palha totalmente enfeitado com fitas religiosas, retratos de alguns santos e no peito vários cordões de imagens de santos e se destacando o pentagrama, ou seja, a figura geométrica “Estrela de Davi”.  Na mão direita, segurando o cajado, também todo enfeitado e esculpido na melhor madeira da natureza, vai ele cantando e improvisando versos de cunho religioso. A voz meiga e suave penetra nos ouvidos e corações de quem o ouve, principalmente nos seguidores do animado Terno de Congada.

                Puxando o Terno, uma garotinha de pouco mais de oito anos. Com vestes brancas, cabelo longo e o cordão, onde está inserida a medalha de Nossa Senhora do Rosário, no peito, vai ela conduzindo a toda enfeitada bandeira. Na cor branca, símbolo da pureza, está o retrato da Santa. Em forma de circunferência, está bem escrito o nome do “Terno Senhora do Rosário”, a data de fundação e outros dizeres, que somente os apreciadores e estudiosos desta cultura sabem o significado.

                Por onde passa, várias pessoas saem às portas. Por alguns instantes, ajoelham-se, prestam homenagem à bandeira, na figura da Santa e ouvem versos cantados pelo Capitão, como forma de fé, agradecimento e devoção.

                Então, Dona Margarida já está do lado de fora de sua casa. Vestida com a roupa branca, o manto amarelo cobrindo parte do corpo e se misturando à vestimenta branca, com luvas brancas, carrega nas mãos um livro. Sobre sua cabeça está a linda coroa branca, que representa que ela é a Rainha do Terno de Congada, conforme a tradição. Haverá almoço para os participantes, procissão e missa celebrada pelo pároco da cidade.   

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Jabuticaba

Jabuticaba (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Hoje é dia de finados.

É feriado e muitos ficam parados.

O sol brilha forte pela manhã

De tão quente parece talismã.

 

O pomar está em festa,

Porque tem jabuticaba e as vespas fazem seresta...

As maritacas gritam no alto da galhada

De tanto que falam até dão gargalhada.

 

O lavrador, com o corpo suado,

Repousa a enxada no tronco da jabuticabeira e fica admirado

Em ver tanta fruta madura

Para aliviar-lhe a sede e a secura.

 

Apanha uma, duas, cinco, seis, sete...

Bate a mão na cintura e lembra que esqueceu seu canivete

Perto do rio, acima da pedra formosa.

Então apanha mais fruta, que está mais saborosa.

 

Fica por ali algum tempo até o sol se esconder no horizonte.

De barriga cheia e já saciada a sede, olha para frente

E vê abelhas e vespas se aproximando,

Pois parece que elas estão, daquele lugar, lhe expulsando.

 

 

 

 

 

 

 

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Do alto

Do alto (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Ali na frente tem uma serra,

Bem próxima daqui.

Tem uma longa estrada para lá chegar

E desfrutar da boa terra.

 

No alto daquela serra

Tem a cidade maravilhosa

Cheia de árvores e frutas,

De gente boa e honesta, fruto da terra.

 

Na parte mais alta da cidade

Tem a longa avenida

Cheia de flores e singelos casebres

Onde existe paz e não há maldade.

 

No coração da avenida de nome “Borboleta”,

No menor casebre, com tapume de bambu,

Um pequeno jardim e muita flor

Reside o nobre poeta.

 

Não tem ninguém a não ser os livros,

A mesinha, o caderno, a caneta, o lápis, a borracha...

Nem mesmo a quem conversar e deliciar...

Mas olha para o alto e vê os astros.

 

No alto da serra tem sabedoria

Dos contos, das estórias, das letras e da música...

A arte de versejar e de contar

Para todos a verdadeira vida na alegria.

 

 

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Passarinho guloso

Passarinho guloso (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

O dia amanhece

E o poeta faz sua prece

Com o copo de leite na mão

E o quentinho de manteiga com pão.

 

Não demora muito, aparece na janela,

Batendo o biquinho na cancela,

O Gordinho,

O guloso passarinho.

 

Com o cântico alto e desnotado,

Vai logo correndo para o direito lado.

Está com fome...

Talvez chama o poeta pelo nome.

 

De um pulinho, também um pulão...

Faz gracinhas e quer pão.

Chama na linguagem outros parceiros

Que estão na trave da varanda, em improvisados poleiros...

 

Rapidamente o poeta, na vasilha, põe o alimento em pedacinhos.

Vão todos chegando de mansinho...

Eles fazem a diferente cantoria

Para alegrar o início daquele dia.

 

Então, o passarinho guloso e forte,

Come mais do que os outros sempre olhando para o norte.

Quando ainda restam alguns pedacinhos de pão,

Bate nos outros como se estivesse dizendo um não.

 

 

               

 

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Criança

Criança (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Hoje tem bala

Trazida pelo Manoel, dentro da mala.

Tem doce

E também algodão doce.

No bairro da Emoção

A mesa está cheia de guloseima de montão...

É dia da criança

Da família, o elo da esperança...

Do adulto, a vontade de voltar no tempo

Para ser novamente criança por um momento.

A criança é a alegria do mundo.

Ela não tem pensamento imundo

Como os adultos que matam

Que roubam,

Que estupram,

Que são monstros declarados

E nem sempre são condenados...

A criança é a pureza do pensamento

Neste exato momento,

Está ela feliz,

Brincando e coçando o nariz...

Está ela com a boneca

Ensinando-a beber na caneca...

Está ela com o brinquedo caminhão

Fazendo igual ao motorista João...

Criança no tempo,

Criança no momento...

Criança sempre no ventre materno.

 

 

 

 

               

 

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Galinha fantasma

Galinha fantasma (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                Na primeira sexta-feira da quaresma, no sítio de Dona Maria e do Senhor Geraldo, por volta das dezoito horas, a filha mais velha, por nome de Marília, chegou eufórica dizendo para os pais que havia aparecido uma galinha muito grande, bem gorda e que estava rondando o galinheiro.

                Rapidamente, os três foram verificar. A tarde estava ainda quente, mas algumas nuvens de chuva formavam o horizonte negro e riscos de fogo traçavam o horizonte. A estação de verão já pensava em despedir. Em algumas semanas, já era outono e as famosas “chuvas de outono” ainda preparavam terrenos para lavarem todas as péssimas lembranças do carnaval.

                De fato, a galinha estava procurando alguma brecha para entrar no galinheiro já fechado. Não foi difícil, mas com a experiência de Geraldo, ela foi apanhada em poucos segundos. Não gritava conforme outras da espécie, mas agitava-se a ponto de sair das mãos fortes do patriarca da família. Tentou ele mais uma vez, porém foi um pouco mais difícil agarrá-la, mas outra vez conseguiu segurá-la com mais força. Disse ele que era para abrigá-la debaixo do grande picuá localizado dentro da casinha do forno, pois não sabia de onde ela tinha vindo. Poderia ela estar doente ou pertencer a algum vizinho. Assim o fizeram. A grande penosa foi guardada debaixo do balaio e a menina e seu pai puseram algumas pedras para que o abrigo não caísse pelo chão batido de terra vermelha.

                O vento soprava com mais intensidade. Parecia que a chuva viria a poucos instantes. Porém, já abrigados dentro da cozinha, bebendo café e comendo pão de queijo, Marília olhou pela janela e viu novamente a galinha rodopiando o galinheiro. Chamou novamente pelo pai e os dois foram até a casinha do forno. Assustaram, mas verificaram que o balaio estava do mesmo jeito que eles o deixaram. Não estava caído e as mesmas pedras estavam sobre eles.

                Novamente, os dois foram lá. Pegaram novamente a galinha e a colocaram mais uma vez no mesmo lugar. Foram embora. Os pingos de chuva foram caindo e choveu forte. Relâmpagos e trovões enfeitavam a tarde escura.

                Geraldo abre a janela e vê que a galinha continua perto do galinheiro. Queria entrar de qualquer maneira. Falou para a filha e lá se foi ele. Vestido com a capa de chuva, apanhou novamente a galinha. O estranho é que o balaio continuava do mesmo jeito. Não tinha nenhum buraco onde a ave pudesse passar. A casinha era coberta e ao redor cercada com bambus fincados no chão. Não tinha passagem para nada. Há alguns dias, dormiu lá um casal de porcos. Ficou lá por dois dias até que o chiqueiro fosse retocado. Muito estranho, pensava o pai.

                A noite permanecia caminhando para a madrugada. A chuva ia e voltava. De vez em quando, alguém da família olhava e mais uma vez a galinha estava perto do galinheiro. Pegavam-na e estava o balaio do mesmo jeito. Muito estranho, pensava o chefe da família.

                Quando foi por volta da meia noite, Geraldo foi buscar a galinha e seria a última vez, no pensamento dele. Assim que a pegou, seus braços não moviam. A massa da ave estava insuportável, parecia peso de toneladas. Ele não aguentou. Quis correr, mas os pés se embaralharam na capa e ele foi ao chão. Tentava levantar-se, porém, não tinha forças suficientes. Começou a gritar, todavia a voz não saia. A galinha foi aproximando dele. Não era mais uma pequena ave, contudo se transformava em algo muito grande. O bico se transformava em um sugador potente e parecia que Geraldo estava sendo tragado para dentro daquele longo duto. Tudo estava errado naquele local. No galinheiro, nenhuma galinha gritava e a mudez era geral. Aquele monstro estava devorando o pai. Ele não tinha nenhuma alternativa a não ser rezar. Lembrou que dentro do bolso havia o terço ganho pela mãe. Ele, com grande dificuldade o pegou e o colocou sobre o rosto. Assim, deu-se grande redemoinho e o forte clarão tomou todo o terreiro. Ouviram-se imenso estrondo, não era do trovão, mas algo que evadiu rapidamente.

                Então, Geraldo se recompôs. Levantou-se. Caminhando em passos lentos, teve força para ir à casinha. Lá, a surpresa foi grande, pois o picuá estava todo arrebentado e com marcas de sangue. Entrou para dentro de casa e contou para a esposa e para a filha.

                Amanheceu e novamente Geraldo foi à casinha. Lá não viu mais nada, nem mesmo o grande balaio. Viu, porém, cinzas negras e poeira dos tijolos.

 

 

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Fuga dos fantasmas

Fuga (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                A Fazenda das Limeiras fica situada no fim do mundo, dentro das Minas Gerais. A construção é antiga. Datada em média uns trezentos e tantos anos. Segundo alguns livros de história e pesquisando entre gerações, lá foi fazenda de produção de açúcar na época do Brasil colonial, possuindo muitos escravos.

                Com o passar do tempo, gerações ali moraram e muitos trabalhadores plantaram os frutos do progresso.

                Dona Mariinha foi a última moradora daquela fazenda. Com quase cem anos de idade, ela ali morou e chegou a hora de partir para a eternidade. Antes de sua viagem eterna, reuniu os filhos, quatro ao todo. Então, na presença do tabelião da cidade, fez a partilha dos bens. Pediu a todos que ficassem satisfeitos com as heranças recebidas. Ao primeiro filho foram dados duzentos hectares de terras. Ao segundo, a mesma fração, assim também com o terceiro e o quarto filho. A sede da fazenda ela doou, com os consentimentos dos quatro filhos, à empregada de muitos anos. Também anciã, com seus oitenta e tantos anos. Solteirona, sem filhos, e a vida toda dedicada ao trabalho na criação dos filhos de Dona Mariinha. Então, todos felizes, exceto uma das netas, que não concordava que a antiga empregada ficasse com a sede daquela linda e velha fazenda.

                Dois meses daquela data, partiram para a eternidade, por coincidência as duas: a patroa e a empregada, no mesmo dia, no mesmo momento. Parece que combinaram a viagem eterna. Foi tristeza geral para todos, menos para a neta, que tinha pedido para a avó, quando a empregada morresse, ela tomaria posse da fazenda. Jurou que não venderia e permaneceria ali por toda sua vida na terra. Tudo foi acordado e em breve a neta tomaria posse da fazenda.

                Nos sonhos e projetos da neta, estavam a transformação da sede em um grande hotel, uma hospedagem rural, com comidas típicas, cantoria nos finais de semana, área de churrasco, passeio a cavalo e caminhada na grande mata, próxima à fazenda, que já era de propriedade de seu pai. Tudo certo.

                O tempo foi passando. Mariana e seu esposo, o José, recém casados, foram morar na sede da fazenda e seriam os mestres da hospedagem. Foram contratados e estavam executando os projetos da Márcia, a dona da sede da fazenda.

                Todas as noites, após o cansaço serviço da sede, incluindo as reformas do imóvel, quando já de banho tomado e o jantar na barriga, o casal sentava-se à varanda e conversavam muito. Nas conversas, eles comentavam o que viram e ouviram dentro daquela casa. Volta e meia, algum talher caia da mesa ao chão. Não ventava, nem mesmo algum ventilador por perto. Ouviam eles passos sobre o velho assoalho. Arrastavam-se correntes em alguns cômodos. Portas e janelas abriam e fechavam sem ter ninguém por perto. Gargalhadas eram ouvidas e algumas rajadas de ventos passavam entre as pernas do casal. Ouviam gritos e choros partidos do porão e davam medos à esposa, mas ela sempre rezava e saia correndo para perto do marido. Estava tão difícil para o casal concluir os trabalhos. Certa noite, quando estavam deitados para dormir, algo começou a levantar a cama deles e pareciam que flutuavam pelo quarto. Saíram dali e foram terminar a noite na varanda. Estava muito difícil.

                No mais tardar do dia, o casal perdeu a paciência e comunicou à proprietária do imóvel, que não mais iria morar ali. As coisas sobrenaturais estavam perturbando a vida dos dois. Entre conversas, Márcia propôs para o casal executar os serviços durante o dia e repousar na cidade, em casa que ela mesma alugaria para os dois. Foi aceito e a vida seguiu normalmente por mais dois ou três meses.

                Neste período, o casal observava os mesmos acontecimentos. Estava difícil aguentar tudo aquilo, até mesmo conviver com fantasmas do passado, ali, naquele imóvel, ainda vivos. Pensavam eles em chamar o padre ou o pastor para rezarem, mas quando foi chamar o padre, este, gostando muito de andar de bicicleta, prontificou-se a ir, mas quando se aproximava da fazenda, desequilibrou-se e caiu. Na queda, quebrou a perna e o braço direito. Na semana seguinte, foi a vez do pastor, justamente próximo ao local onde o padre havia se acidentado, estava ele de motocicleta. Caiu e também quebrou a perna e o braço.

                O casal já estava ficando preocupado. Os acontecimentos sobrenaturais pareciam não ter fim.

                Quando a reforma acabou, Márcia chegou ao imóvel para recebê-lo e acertar parte final dos serviços do casal. Tiveram eles contratempo, porque Márcia não quis pagar o valor combinado. Márcia, então, conforme conhecida da cidade, era uma pessoa muito ruim. Não gostava de pagar ninguém. Era miserável, egoísta, não dava valor ao trabalho de outras pessoas, ambiciosa, etc... Descobriram que o marido dela terminou o casamento, porque não aguentava mais os modos e costumes. Saiu de casa e não mais voltou. Sorte que eles não tinham filhos.

                As conversas deles estavam chegando ao limite. Ela dizia que não pagaria o valor combinado e o casal retrucava que teve prejuízos com os serviços e queria receber o preço justo. Tudo foi em vão.

                O casal ficou chateado e resolveu ir embora para sua cidade. Ele sendo engenheiro e mestre de obras, juntamente com a esposa, recebeu outra proposta de serviço. Desta vez, iria coordenar a construção de um prédio de quinze andares na capital.

                Márcia, olhando para a obra toda completa disse em voz bem alta que mudaria para aquele local no outro dia. De repente, escutou ela vozes e arrastões sobre o assoalho, correntes sendo arrastadas, portas abrindo e fechando e um grito bem forte que dizia: “Você, Márcia, pessoa má, sem coração, sem alma, gananciosa, não gosta de pagar o que deve, sem religião, de péssimos hábitos, vir morar aqui? Então decidimos, nós os fantasmas desta casa, vamos todos embora, porque você é pior do que nós.”

 

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Quando a chuva chegar

Quando a chuva chegar (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                Ainda é final de inverno. Daqui a poucos minutos, a primavera chegará. Com ela, todo o encanto, toda a alegria, toda a festa da bicharada. Grilos cantam para sua entrada triunfal. As cigarras esbanjam seus gritos com muita fartura, zumbindo o ouvido de quem está por perto. Os insetos saem das tocas em busca de algo novo, talvez alguma coisa diferente do longo e temível inverno, onde o frio da madrugada e as nevoas os impediam de passear livremente pela natureza, tornando-os reclusos da finada estação. As formigas iniciam o treinamento e seus poderosos exércitos estão prontos para os ataques às frágeis plantas que retornam do sono profundo da terminada estação.

                No céu, a fumaça das queimadas ainda perambula de canto a canto. Foram vários incêndios que fizeram do ar o mais imperfeito para a respiração. Alguns arbustos estão sem cor. Gramíneas estão secas, pois a geada as torrou por completo. A folha da bananeira está partida entre o verde e o cinza, mas o cacho viçoso da fruta dá sinal para o lavrador que já está na hora da colheita. Algumas unidades já foram bicadas e comidas pelos pássaros, pois a fome os atrai para a deliciosa fruta, com cheiro do doce natural.

                Os galhos das árvores balançam, pois o vento vindo do alto do morro anuncia que algo diferente está para acontecer. Algumas nuvens formam. De início, são fracas, são poucas, são raras. Aos poucos, vão se tornando pesadas e muito negras. O vento sopra mais rápido e com mais força, fazendo os galhos das árvores balançarem mais e com maior intensidade. O passarinho descuidado sofre o impacto da pressão do vento, mas dá a volta e meia, equilibrando no mais perfeito e belo voo. Ligeiramente, busca o abrigo na grande árvore de sucupira lastreada das flores roxas.

                O lavrador aproxima-se da porta da sala de sua casa. A pequenos passos, desliza-se até à mureta da varanda. Tira o chapéu de palha, ainda suado pelo longo dia de trabalho, olhando para o céu e vendo que a chuva chegará a pouco tempo, ergue a mão esquerda para cima como se estivesse conversando com Deus e diz:

                - Senhor, eu lhe peço perdão e lhe agradeço por esta chuva vinda do alto...

                - Quando a chuva cair, ela encherá o açude vazio, quase seco. A bica d’água voltará a fazer o barulho da água caindo no poço. As plantas ficarão felizes e mudarão a cor. Os pássaros cantarão com mais alegria e seus cantos trarão vida e descanso para a minha mente. As flores darão as cores mais lindas da natureza. O ar ficará mais leve e o oxigênio será o melhor. A vida mudará. Eu poderei jogar as sementes na mãe terra e as plantas crescerão e darão os valiosos frutos e alimentos com abundância. O verde mudará a paisagem seca. O gado terá o capim para pastar e não terá fome. Os incêndios não prosseguirão, pois o verde natural não mais dará trégua para a imprudência e a desonestidade do ser humano.

                - Então, Pai de Bondade, eu lhe agradeço por banhar a natureza com a linda chuva.

                Assim que o caboclo abaixa a mão esquerda. Retorna o chapéu de palha para a cabeça. Nos olhos, duas lágrimas correm como a grande enchente que a chuva depositará nos rios. O enorme clarão o assusta momentaneamente. Logo após, o estrondo infernal do trovão é ouvido. Ele, respeitosamente, entra para dentro do lar. Lá, senta-se no grande banco de madeira. Deposita o chapéu na extremidade do assento e escuta os primeiros pingos da chuva caírem sobre o telhado. Aos poucos, os pingos vão aumentando como a cachoeira fazendo o barulho sobre as pedras. Os clarões dos raios vão aumentando e os estrondos são muitos. O vento sopra os galhos das árvores e o barulho é forte. Lá fora, escuta-se a água caindo das telhas e molhando a pequena varanda lastreada de vasos flores.

                Os dois fieis amigos correm para perto do lavrador. São o gato de estimação chamado “Bichano” e o cão pastor alemão por nome de “Peri”. O lavrador pensa na família que está na cidade. Os três filhos e a esposa estão bem. Já foram à escola os filhos e estão todos, incluindo a amada esposa, à janela a contemplarem a chuva abençoada, o presente de Deus para o início da linda e magnífica estação da primavera.

 

 

 

           

 

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Passagem

Passagem (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                Tudo se foi como um sonho acordado. Nada mais restou do momento. Somente lágrimas, lembranças, sonhos não realizados, vontades e desejos. Assim foi a vida, desde o nascimento até à morte.

                Os sonhos são construídos mentalmente, porém nem sempre são realizados. Tudo depende da vontade, do planejamento, do alicerce do querer e também do poder.

                A vida é como flores que nascem no tempo determinado. São vigorosas e sempre há ente que a observa a qualquer modo. É expressão do saber, é característica do ser vivo. É a conquista do prazer, é a conquista da dignidade, sendo o elo mais imaginável que possa existir.

                Pensar ser e não pensar em existir é questão de bom senso, é retrocesso à aprendizagem que o destino lhe traçou. É conhecer que o planeta será sempre planeta. É saber que os seres vivos serão sempre os seres vivos, que nascem, que crescem, que reproduzem e que em algum momento morrerão e não mais existirão na forma física. Existirão, sim, nas lembranças mentais e imagens congeladas guardadas pela base da família, se é que a família ainda recordará do destino traçado do pensar em ser e não pensar em existir.

                O passado foi o auge da beleza. O presente é o viver do melhor momento vivido. O futuro ainda não saberá o que será. Será como exemplo das flores de ipês que enriquecem de garboso da natureza seca, fria, sem vida, sem a presença dos alegres pássaros pousando nos galhos onde elas estão.

                Com o passar do tempo, dos dias, dos minutos e também dos segundos, a flores caem. A vida também é como as flores. Em determinado momento, ela jamais existirá. Ficarão as lembranças de como as flores eram lindas e também as recordações de como a vida foi linda bem vivida ou má vivida.

                Então, imagine que a qualquer momento a passagem estará aberta a tudo o que é vivo dentro deste universo. Desde o nobre ao mais baixo da casta. É passagem para uma nova dimensão dentre de outras mais, que jamais a mente humana saberá explicar e concluir a pura e verdadeira razão.

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Escrevendo o amor

Escrevendo o amor (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Em letras coloridas

A palavra “Amor” aparece.

Não tem pressa

Pois o dia é longo.

Pensamentos são infinitos

Querendo criar versos bonitos.

Quando vê alguém

Esconde-se o caderno debaixo da mesa.

Os olhos brilham quando alguma frase aparece

Porque aquele amor ela merece.

Nos rascunhos escritos e rabiscados

Querendo enviar os recados.

É festa

O carinho está na testa...

Pega-se novo papel

Desvia o olhar para o hotel.

Lá trabalha o amado

Porque no domingo ele estará folgado.

O tempo para

Quando passa o poema a limpo,

Pintando-o e colorindo-o

Com caneta dourada

Onde as letras parecem a estrada

Do amor que um dia lhe encontrou

Sentada ao banco da praça

Olhando para as flores e os passarinhos...

É festa naquele momento.

Nem mesmo lembra de fechar a janela por causa do vento

Soprando os loiros cabelos longos...

É festa para a adolescente

Que o amor ascendente

Maturará no decorrer da vida

Para assim se alegrar

E a estória contar.

 

 

 

           

 

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Menino valente

Menino valente (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

Quem não conhece o Vicente,

Filho do Marcelo Vidente.

O menino é forte e valente

Não se importando com muita gente.

 

Nos finais de semana

Vai à fazenda da Seriema

Para mais uma aventura

Deixando a mãe em amargura.

 

Monta nos cavalos...

Cai e na cabeça faz galos...

Brinca de pique e pega

Com a galinha cega.

 

Joga pedra na caixa das abelhas

E se esconde no paiol, junto às palhas.

Vai pescar na lagoa

Encerrando o dia “de boa”.

 

A tarde se finda

Ele, com o horizonte, se brinda...

Com o copo de leite quente

Segurando o líquido entre o dente.

 

Assim é fim de semana do menino valente

Que não gosta de parente...

É solitário, triste e individual

Fazendo tudo de anormal.

 

 

 

           

 

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Natural

Natural (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

O relógio marcava algo em torno de quatorze horas daquele dia nublado. O sol aparecia de forma menos brilhante e nuvens cobriam o azul celeste com cortinas negras.

                O poeta, longe de sua casa, sentado debaixo da grande árvore de ipê, observava com muita cautela as lindas e maravilhosas flores amarelas presas nos galhos daquela imensa árvore.

                Ao redor, pássaros faziam e cantavam a mais expressiva sinfonia. Maritacas solfejavam altas notas musicais. Tico-ticos aventuravam-se a passear nas folhas secas caídas da nobre árvore, florescida da mais esplêndida flor amarela.

                Pequenos insetos voavam de um lado para outro lado, na mais perfeita harmonia natural.

                A cantarola dos pássaros era interrompida com as rajadas do vento, que balançavam galhos de outras árvores ao redor da praça onde o bardo observava calmamente o que acontecia, pois daria o mais sublime verso que procurava.

                Até mesmo o beija-flor aventurava seu beijo a cada uma flor ali presente, mas, pela pequena estrutura, as rajadas de vento o tiravam do objetivo.

                Algumas formigas subiam e desciam do tronco, porém cautelosas pelos inimigos naturais.

                Assim, o sonhador pensava que os versos que procurava estavam ali, bem perto dele, junto à natureza que lhe dizia algo tão belo, tão imaginativo, tão puro quanto à alma frágil e doce do sábio.

                Ouviu-se o grande estrondo do trovão, que dizia que a primavera estava iniciando. Por certo, em pouco tempo, as rajadas de vento transformariam em correntes de ar que fazem as gotas da chuva espalharem por toda aquela imensidão tão seca, tão lúgubre, que jamais daria algum cenário para o melhor verso, quem sabe a melhor ideia do momento.

                É final de agosto e ainda alguém nem mesmo se lembrou da terra seca, da terra escaldante e sem vida, onde tudo é de cor diferente, de cor mais clara, de cor pronta para ser derretida nas chamas do fogo destruidor vindo de algum incêndio criminoso.

                Então, o poeta se retira calmamente para seu lar. Ao se levantar, ele ainda olha para a árvore toda vestida de amarela, pois dali a alguns dias, aquela amarela cor de ouro estará caída no sombrio chão, já sem vida, como bagaço espremido das máquinas de produção de sucos. É final de inverno e em alguns dias futuros o inverno dará lugar à primavera, a estação das flores, a estação da vida, a estação das belezas naturais.

             

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Vento

Vento (José Carlos de Bom Sucesso - ALL)

 

No bailar da brisa

Soprando os longos cabelos da mulher

Jogando-os para trás

Como ondas marítimas no vasto oceano.

 

Nada ali o para

Pela força atmosférica.

Não consegue contar quantos fios foram soprados,

Pois caem os negros cabelos pelo rosto à fora.

 

A mulher, cheia de charme,

Mostrando as grandes unhas pintadas

Na cor vermelha,

Tenta arrumar os negros fios...

 

Ela é bela, esculpida no corpo carnal...

Com o andado exuberante e delicado,

Ergue o olhar para o horizonte

Querendo avistar a colina e o monte.

 

Assim vai caminhando pela rua movimentada,

Entre olhares da plateia desconhecida...

O vento sopra mais os finos cabelos

Que mais charme emana aos corações apaixonados.

 

 

           

 

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Relógio

Relógio (José Carlos de Bom Sucesso - ALL)

 

Tic-tac, tic-tac,

Na parede, o relógio,

Desperta, na jovem, o ódio

De levantar cedo.

 

De cara feia ela o olha

Onde lhe dá vontade de quebrá-lo.

Pensa que ele não tem alma,

Mas o tic-tac à jovem acalma.

 

O tic-tac vai o dia todo

Contaminando à sala.

Até mesmo o gatinho coça a orelha

E vai embora.

 

A noite chega rápida

Onde a jovem chega desanimada

Em ouvir mais tic-tac

Do incansável relógio.

 

Em algum dia ele vai parar

De fazer mais tic-tac.

Será o fim o relógio de parede

Que muito fez o tic-tac.

 

 

 

 

 

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Bons tempos

Bons tempos (José Carlos de Bom Sucesso - ALL)

 

O sol escaldante no céu

A noiva, na igreja, com o véu,

Porque era o dia do casamento

Para o noivo ciumento.

 

Padrinhos e madrinhas bem vestidos

Tinham muito cuidado com os gritos

Das crianças correndo pelo salão

Querendo alguns lhes darem um “sabão”.

 

O padre, como de costume, espera

Dá a bênção e pelos noivos reza.

Mais uma família se formando

E o casal se amando.

 

Logo após tem a festa

Para muitos, está escrito na testa.

Tem salgadinhos e bolo branco

Até para Dona Corina, calçada de tamanco.

 

Também tem cantoria

Para a menina que sorria...

Do homem de terno preto

Em sua mente, lhe dava medo.

 

Assim a tarde se ia.

Os carros transitando nas vias.

Era final de sábado

E daí a pouco estará tudo parado.

 

 

 

 

 

 

 

           

 

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Papai

Papai (José Carlos de Bom Sucesso - ALL)

 

            A voz gritava bem forte a palavra “papai”. Ainda era a voz fraca, fina, em baixo tom, sem muita expressão para quem passava pelo local, mas de grande rompante para o ouvinte, um rapaz de meia idade, cabelos pretos, cacheados, de boa altura e corpo esbelto.

            O tempo parou por aquele momento. Parecia que os segundos não eram mais segundos e se tornavam horas eternas, horas com mais de sessenta minutos. Alguns transeuntes paravam para verem aquela cena maravilhosa, cena que aconteceria uma vez a cada quinze milhões de vezes.

            A criança corria desenfreada como o veículo sem freios descendo ladeira à baixo. A petiz não enxergava nada a não ser a figura de “papai”. A cada passo, o volume do nome do pai era ouvido, mas com a tonalidade mais forte.

            Então, “papai” abriu os braços e dizia “filhinho querido”. “Saudades estou de você”.

            Em pouco tempo, a criança já estava nos braços do pai amado. Este, mais uma vez, a abraçava com todo carinho do pai participante da vida do filho. O pai que conduz a criança, o pai que dá força para o filho amado, ensinando-lhe a ser gente, a ser homem (no sentido da frase), a ser honesto, a ser responsável e carismático, a ser impulsionado pela força motriz do pai.

            Neste dia, a criança que alguém foi, as lembranças dos encontros nas praças, nos abraços de final de tarde, das bênçãos recebidas, o filho deveria lembrar que tem ou teve um “papai” que foi capaz de tudo para ver-lhe crescer e ser “homem” na vida. O forte abraço para o “papai” vivo e muitas orações para o “papai” que foi morar junto do Grande Arquiteto do Universo.

            Assim, no dia dos pais, não faltarão lembranças, não faltarão risos, não faltarão choros e soluços, pois a figura paterna estará sempre presente na vida do filho.

 

 

           

 

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Calor

Calor (José Carlos de Bom Sucesso - ALL)

 

É calor,

Tempo de amor.

É sentir o perfume da flor

Exalando o cheiro para espantar a dor.

É ver o beija-flor voando

E à rosa beijando...

É sentir o frescor da brisa,

Da energia de que precisa

Em sonhar novos sonhos

Repletos de carinhos...

É calor,

Mês de respirar

E à natureza olhar.

Os pássaros cantando

E a menininha olhando e escutando...

Mamãe chamando para o jantar

E o olho a brilhar...

Sentindo a leveza

Vindo da mata, sua beleza...

É calor,

Assim, tempo do amor,

Que estende para acalmar a dor

E o músico a compor as mais belas músicas

Que algum dia serão básicas

Para outro dia de Calor.

 

 

           

 

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Surpresa

Surpresa (José Carlos de Bom Sucesso-ALL)

 

Lá vem a “Fulaninha”

Cheia de charme e de alegria.

De sapatos de saltos

Grandes e altos.

 

Por onde passa deixa o perfume

Sempre o mesmo, o de costume.

Sorrindo, como sempre, sorrindo,

Com as pessoas vai brincando.

 

Usa óculos escuro

Para olhar o alto do muro...

Feliz fica quando vê algum gato

Para lembrar do animal estimado.

 

De vez em quando para à sombra

Onde descansa a uma pequena manobra.

Verifica se há mensagens no celular

E também para respirar.

 

Assim “Fulaninha” vai caminhando

Onde alguns a acompanham olhando.

Moça jovem, bonita, a rapariga,

Esbanja a pureza da boa vida.

 

 

 

 

           

 

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CPP