Quando falo de sertão, falo do sertão da caatinga
Aquele das cisternas, do açude e da moringa
Da mulher que carrega a lata d’água na cabeça
Sob um sol escaldante que transpira e bafeja
E certamente se refresca nas águas do velho Chico
Causador de um ciúme ao qual eu me identifico
Quando olho meu Sento Sé, magricelo, só o pó
Esperando o milagre de um amanhã melhor
“Olha! Lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando
Acreditam nas coisas lá do céu”
As mulheres cantando tiram versos
Os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na Terra
Esperando o que Jesus prometeu”
Com certeza essa prece é também pra Petrolina
Que de lá de Juazeiro seu encanto se ilumina
Nos olhos cheios de preces das águas de Juazeiro
Que de lá de Petrolina na carranca do jangadeiro
Vai lavando e vai levando sua dor feita de luta
Ah! Não fosse o Velho Chico que pelo menos lhe escuta
Seria mais um entre tantos que espera e não mais implora
Que venham os homens do sul com suas migalhas e esmolas
“Muita gente se arvora a ser Deus
E promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido pra Maria
E promete um roçado pro João”
Como sempre acaba o que o homem promete
Seja aqui, acolá, ou, seja la no Agreste
Que ate o mar por amor quis se dar de bom grado
Ao repousar no Nordeste, sendo ele, tão salgado
Então, é ai que eu entro quando me indisponho com Deus
Porque, o que custa adoçar a terra que o nordestino acolheu
Porque cavar mais açude ou achatar minha cabeça
Ficar aqui de joelho enquanto outros tomam cerveja
Chega! Chega de tanta mentira vinda dos céus e da terra
Por que se Deus não morreu, dorme no colo da Serra?
“Pois Entra ano, sai ano e nada vem
Meu sertão continua ao Deus dará
Mas se existe Jesus no firmamento
Cá na Terra isso tem que se acabar”
Quanto aos homens? Bem, isso já é uma outra historia...
(Petronio)