Nobres passantes, parem, ouçam o que digo.
Garanto que não pagarão mico.
Ó bêbados e prostitutas, ponham-se à escuta.
Excelcius irmãos marginais, venham prá luta !
No correr destes meus versos
servirei vinhos diversos.
Trata-se dum poema rimado
que a crítica haverá de execrá-lo.
Mas deixem prá lá. Não ligo.
Não enxergam o próprio umbigo...
Neste ossário que nos achamos
há crânios de diversos tamanhos.
Vejam aquele mendigo-menino:
- Terá sonhos enquanto dormindo ?
E o cachorro ao seu lado ?
Será que já foi alimentado ?
Ao leste, nuvens púrpuras;
A oeste, emoções impuras.
Observem os olhos cegos;
Percorrem as noites dos egos.
Essas roupas que nos cobrem,
expõem a nudez dos nobres.
Antes de quaisquer de nossos nomes,
há cascatas de brancos efêmeros e fome.
Sombras nas calçadas de pedra,
sucedem montanhas de terra.
Raios apunhalam na esquina,
assustam gatos, apavoram a menina.
Ventos empurram galhos rotos,
jornais velhos, passarinhos mortos.
Tentemos erguer um templo,
doar carinhos, ofertar exemplos.
Pelos labirintos e descidas,
comungar alentos e saídas.
Nesta ou naquela rua,
admirar a lua nua.
O bom sono que buscam,
dói na noite que véus ofuscam.
Cabelos e risos soltos
contrastam com o salário pouco.
Atrás do bom combate
há sempre um político traste.
E nós, sequiosos ratos,
seguimos vomitando fatos.
Os faróis da morte se acendem
e, não sendo o tempo, vamos em frente...
Eu aqui sozinho, vocês em multidão.
Tudo é viagem, nada os trairá, ilusão.
Vejam o mosquito ferido
incapaz de picar, sem zumbido.
Uma aranha a menos tecendo
e a mosca escapando, veneno.
Árvores catando folhas arrancadas,
ajoelhadas, quase mortas nas calçadas.
Poça cheia de larvas
refletindo nossas caras.
Lá na rua do cemitério
uma viúva comete adultério...
A alma do finado rico
deseja passar-lhe um pito.
No solar desmanchado
há um passado a ser contado.
...me cale, é o que querem ?
Vou atende-los, esperem.
Antes do fim, volto ao começo:
- Respeitável público, sou louco, reconheço.
Meus nobres ouvintes, estou convicto:
- Só os loucos não pagam mico.
Paolo Lim