Eu penso que não importa
o mais alto sonho meu,
se um degrau da tua porta
já me conduz até o céu.
(Paulo Maurício G. Silva )
Não quero mais o toque da tua boca,
teu abraço vazio de calor,
teu gesto vago, tua carícia oca,
o teu silêncio que já sei de cór...
Não quero mais tua lembrança pouca...
– Essa fantasia cheia de bolor…
De quando me escrevias na ânsia louca...
Junto à moldura do antigo amor.
Que grande amor eu tive a um sonho apenas...
A perseguir as ilusões pequenas,
como as estrelas sem alcance ao tato,
ou uma miragem de vil transparência…
... Assim penso, aspirando ainda a essência
de uma rosa esmagada em meu sapato...
(Paulo Maurício G. Silva)
Coisas tristes que não esperam cura…
Um adeus no horizonte nevoento...
Um soluço levado pelo vento,
uma desilusão que muito dura…
Na solidão sem fim de um aposento
uma lágrima sobre uma moldura...
A rosa que na janela procura
reviver a lembrança de um momento…
Coisas tristes… Sem nada que as retrate…
Silenciosa, olhando o céu escarlate,
uma anciã numa varanda escura…
Uma falena na teia, em debate…
E um solitário cão que late, late...
Sozinho… Em cima de uma sepultura...
(Paulo Maurício G Silva)
As tuas mãos suaves, acolhedoras…
E frágeis como pétalas de rosa.
As tuas mãos… Sublimes tecedoras...
São a voz da tua alma carinhosa.
Tuas mãos são páginas consoladoras…
Linhas de poesia calorosa...
O bálsamo de flores curadoras...
Estrelas de uma noite harmoniosa.
Tuas mãos… Por elas a ave desce os céus,
as rosas desapegam–se dos chãos...
O caminho reencontra encantos seus…
Tuas mãos… Num gesto, aquietam–se escarcéus,
acalmam-se emoções… E é da tuas mãos...
Que me dói tanto um gesto de adeus...
(Paulo Maurício G Silva)
E tu chegaste... Calma, perfumada,
como se fosses de uma flor, surgida...
Solto o cabelo… Fronte coroada
de pétalas azuis… Boca ferida…
Não sei de que horizonte, de que estrada...
De que bosque, de que trilha florida,
tu vieste... Pálida... Iluminada...
Silenciosa... Sonâmbula... Perdida...
Depois partiste, com a madrugada…
Uma sombra suave, entrecortada,
levaste sobre o chão, quase luzida,
ficando em minha alcova desolada,
a fragrância ligeira, delicada,
de uma pessoa há muito já esquecida...
(Paulo Maurício G Silva)
Basta um beijo juntando duas flores
à flor das bocas… Almas dando as mãos...
Mágico dialeto dos amores.
Pacto de sentimentos irmãos.
Um beijo com doçura de licores...
Um beijo só, ligando céus e chãos...
Cerrando-se os olhos, sonhadores.
Girando o mundo, suave, sem desvãos.
Um beijo, quando tudo silencia...
Como a primeira estrela ao fim do dia...
Como um toque de luz... Suavidade...
Um beijo entre palavras recortadas...
Para que duas línguas enlaçadas
falem, num mesmo idioma, a sua verdade.
(Paulo Maurício G Silva)
És o amor que renasce a cada dia,
em ti, em mim, em nós, cada vez mais…
O longo alvorecer de uma alegria...
A luz de um dia de beleza e paz…
O voo nas asas de uma melodia…
O céu também... Em luzes vesperais…
A lembrança sem fim… Fotografia
acortinada em frágil tom lilás…
Imagem que me fita de um altar…
Página de perfume rosicler,
o verso sob a sombra de um olhar…
É tudo o que tu és… Sempre hás de ser.
Toda crença que ponho num olhar…
Toda graça que sinto por viver!
(Paulo Maurício G Silva)
Queria ser o poeta da tua vida.
Tudo o que sonhas em teu bem–querer.
Descortinar–te numa hora perdida…
Em teu perfume, me inspirar... Viver.
Seguir teus passos na tarde florida…
Te ofertar a estrela que eu colher…
Ser talvez, em cada página ida,
um afago em tua alma de mulher.
Ser um segredo teu… Dos mais velados...
Sobre a linha dos teus lábios cerrados
o poema de um beijo escrever…
Do teu olhar enternecido e imerso,
a lágrima de encanto sobre um verso…
Um suspiro em teu peito…. Queria ser!
(Paulo Maurício G. Silva )
Toda vez que te encontro a alma se agita
como a chama inquieta de uma vela…
A noite é doce… A noite é mais bonita
entre as cortinas da tua janela…
O beijo luze como uma pepita,
caindo as tuas vestes de flanela…
Ele diz mais do que a palavra dita,
todo o segredo desta noite bela.
E amanhecemos ainda enlaçados…
Nós e os ramos no lençol bordados,
como num pacto de langor e paz.
Já no portão em flor da tua casa,
o adeus que me dás é uma asa
que me leva embora… E depois me traz...
(Paulo Maurício G Silva )