Posts de RODRIGO LUCIANO CABRAL (234)

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NENHUMA BOA MEMORIA

Que dia triste foi este
Ver que onde quer que tenhas andado...
Você andou só!
Mas não esqueça aquelas noites
Sim houveram tantas noites como podes ter esquecido?
Só o vento falando pelas paredes La de fora
Só o ganir confuso dos cães...
Só você... só eu...
Apenas nós...
O universo era nosso
Era fácil tocar o céu
Duas garrafas de vinho pra isto
O céu...
Tão fácil do nosso jeito
E tão distante...
Nenhuma boa memória eu vejo em seu olhar
Teu novo caminho te mostrou horrores...
Te trouxe trevas...
Você conheceu a dor
Em quantas noites sem lua terá chorado?
O coração partido e flamejante no peito
Um paria...
Num mundo que não quer entende-lo
Quantas vezes pensou em voltar?
Só o orgulho ou o medo te impedindo
Talvez ambos não é?
As janelas da mente escurecidas com a poeira da agonia
Taças de tristeza no bar antes mesmo das 15 horas
Nada a perder desde então...
Nada!
Tua ultima piada foi contada há muito tempo
E ninguém mais riu com você depois
Alguém esta rindo agora?
Alguém?
Eu quase posso ouvir...
E posso ver...
Posso ver você que voltou
Ainda tão orgulhoso esnobe
Contando mentiras nas ruas para pessoas que nem ligam
Gente que não se importa
Que não sentiu sua falta
Podes enganar a todos eles
Podes mesmo...
E eu sei que vai tentar
Mas eu olhei você nos olhos
Nenhuma boa memória neles
Olhei você voltando
Que dia triste foi este!

RODRIGO CABRAL

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BUSCANDO CARONTE

A tragédia seguiu você
Nas paisagens surreais e cinzentas ela viu seus rastros
Não há o que fazer...
A floresta não te acolhe mais...
Ela não te chama...
Os labirintos que superastes perderam a importância
Nos seus calcanhares teus erros fazem barulho
Você pode ouvi-los?
A chuva não e bem vinda aqui
Tem gosto de lagrima esta precipitação cruel que o céu derrama
Tem gosto de tristeza
Eu não vejo oportunidades
Todas as escolhas escoaram por entre teus dedos
E para onde vai?
A barca de caronte  e o que buscas?
Tormentos não tem fim quando você foge deles
O inferno segue você aonde fores
Má sorte e sombras
A cidade e quieta e sem vida para você
Não há prédios...
Tudo são túmulos...
Só há túmulos...
A bondade ainda esta enterrada em teu coração
A vitoria ainda lembra de você
Mas teu caminho te faz longe
No teu céu pequenos pássaros fazem revoadas
As aves voltam pra casa
Você não volta...
Não tens lar
Não tens refugio
Não tens mais escolhas
A caminhada tem seu preço
Sabias disto
Todos sabíamos
Existe um ponto de onde avançar e dor e retroceder e impensável
O teu orgulho ainda te impele
A tua vaidade ainda exige
A sabedoria e uma velha cega...
Ela lamenta tua sina
Ela suplica tua atenção
Na fronteira entre o impensável e o impossível...
Posso ver  você de joelhos.

RODRIGO CABRAL

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ANDA ESQUECIDA

Anda esquecida
Parece que não bebe mais...
Não corre mais...
Não foge mais...
Anda esquecida
Não lembrou do mal que lhe fizeram
Não devolveu a ofensa
Não foi dormir preocupada
Anda esquecida
Não sabe mais onde mora a dor
Não lembra o nome do medico
Que medico?
Teve um medico?
Não lembra mais...
Anda esquecida
Não percebeu que podia chover
Esqueceu um embrulho em casa
Não pôs todos os itens na caixa
Fica pra uma outra vez
Sorri...
(ou devia sorrir)
Sempre há outra vez
Anda esquecida
Não recorda das cores que a tristeza tem
Não tem mais memória dos nomes pelos quais atende a dor
Só faz sorrir
Só faz suspirar
Eu também suspiro...
Anda esquecida
Anda feliz
Anda radiante
Não lembra mais como sofrer
Oxalá jamais venha a lembrar.

RODRIGO CABRAL

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ADIVINHO O MAR

Queria eu saber o que te dizer oceano
Tenho tanto a te contar e tão poucas palavras
Em teu seio jamais naveguei
Não conheço navios...
Não fui corsário...
Nem predei navios como feroz pirata
Fiquei aqui em tuas praias
Dei à mente as aventuras que o corpo não teve
Travei batalhas...
Sangrei...
Obtive vitorias...
Parti...
Na linha da praia vejo as sombras
A tarde vem caminhando para mim preguiçosa
As ondas não ligam para o tempo que passa
É o mesmo este mar que vejo agora?
Pra onde ele levou minhas historias?
Contos em garrafas?
Mapas do tesouro?
Ilhas... Apenas ilhas...
Oceano quisera eu conhecer teus segredos
Saber das profundezas abissais em que escondes monstros
Terrores para homens...
Serias e tritoes?
Serpentes famintas?
Só lendas... bem sei
Um dia acreditei que me darias aventuras...
E trouxe a tuas costas muitos poemas
Dias saudosos aqueles...
Escrever ao som do mar. vento oceânico a fustigar meus papiros
Imensidão...
Nenhum temor
Aqueles dias eu deixei para traz...
Segui em frente no fluxo inclemente do existir
Afastei-me do mar
Resignado rumo aos vales e montanhas
Belos lugares eu sei...
Novos mistérios?
Alguns...
Mas quando a tarde se faz rubra em um por do sol demorado
Quando sopra do sul aquele vento que quase... quase posso achar salgado
Eu postado em meu quintal olho paras as montanhas
Olho através das montanhas...
E adivinho o mar.

RODRIGO CABRAL

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LA FORA EU SEI...

A janela me mostra a neblina
O jardim é só mistérios esta noite
Onde se esconde a minha rosa?
O mal humorado cacto ainda esta lá?
O vento sibila na palmeira
Nas pedrinhas eu ouço passos
Gato vadio?
Algum outro mistério?
Não vejo...
No céu a lua faz-se muda
O gramado esconde segredos
O que se esgueira agora no fundo do meu quintal?
La onde as sombras são maiores
La onde todo o movimento e furtivo
Microcosmo de minhas plantas
Macrocosmo em minha mente
A neblina só cresce e se adensa
Há coisinhas zombeteiras e alegres La fora eu sei...
Resignado vou para a cama
A noite meu jardim é deles
Amanhã...
Amanhã eu o tomo de volta.

Rodrigo Cabral

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Sobre a Tempestade

Hoje eu tenho medo
Por que a deixei na sombra
Tão sozinha
Tão pálida e muda

Hoje eu sei de tudo
Estava errado.
Era egoísta e fraco
Hoje eu tenho medo

Você esta voltando
Como uma brisa
Ou será tempestade?
Esta diferente, mais mulher.

Qual será meu castigo?
Como será tua justa vingança?
Talvez um único olhar,
Ou um sorriso irônico
Tenho medo

Hoje estou cambaio e doente
Não sou mais o que era
Estou sozinho e triste
Eu me perdi pelo caminho

O céu anuncia a tempestade
As nuvens negras seus trovões
Sua força
Você voltando
Tenho medo.

Rodrigo Cabral

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O sol e a lua

Lembra de nos atrás dos muros da escola?
Todas as vezes que eu disse eu te amo
Eu era feliz nas promessas de teus lábios
Eu era feliz nos vales de teus beijos
Onde as magoas impotentes não me alcançam
Lembra de mim tentando te agradar?
Dizendo tolices em busca de teu sorriso
Diluído em mesuras e palhaçadas para teu deleite
Eu digo assim... eu te amo
Ainda te busco jamais me cansei disto
Ainda te quero impossível não querer
Então vem que não podemos ser distantes
Não quero mais brincar de sol e lua
Vem que o tempo e demasiado longo
E tão frio
Eu digo assim
Eu te amo.

Rodrigo Cabral

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É NOITE

Eu queria ter sabido entender tuas idéias
Tantas historias no teu olhar que eu não li
Tanto tempo...
Tanto, tanto tempo de que não desfrutei
Eu queria ter te dito as palavras...
Cada silaba bailou em minha boca naquelas tardes outonais
Cada fugaz lampejo do teu sorriso impelindo meu sonho
Eu queria ter sabido agir...
Eu também devia ter aprendido a esperar...
Não é assim com todos ao longo da vida?
Qual é o momento em que você toma pra si o que quer?
Qual é o momento em que você espera ser seu?
Eu queria ter ficado mais tempo...
Por que não segurei tuas mãos mais vezes?
Por não sussurrei em teus ouvidos quando pude?
Por que guardei meus elogios?
Eu nunca confessei os meus medos...
E eu nunca soube...
Nunca soube!
Eu queria ter dito que entendia
Devia ter abraçado teu frágil corpo quando o frio chegou
Devia ter dito que estava La
Que sempre estaria la
Que o inverno vem, mas vai partir
É agosto que chega pequenina?
É agosto que temes?
Agosto também vai passar... mas eu não vou
Eu devia ter dito...
Mas não disse
Eu nunca disse!
Quando a noite cai veja a lua espiando das trevas
A lua não me parece tão bela
Quando a noite cai eu sei das estrelas no céu
Eu conheço o que se diz do cosmo infinito
Quando a noite cai os homens estão mais próximos do imensurável
Mas eu só quero meu sonho
Nos sonhos... só nos sonhos ainda sou um pouquinho teu.

Rodrigo Cabral

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ALGUÉM SAPIENTE?

Alguém plantou aquela arvore?
Alguém gerou aquele bosque?
Alguém atravessou aquele córrego?
Alguém ouviu o ultimo silvo?
Alguém escutou apenas um pássaro?
Alguém desatou o nó da armadilha?
Alguém tremeu depois do uivo?
Pensou em lobos ou coiotes?
Alguém colheu a flor exótica?
Alguém fugiu do zangado enxame?
Alguém caçou naquelas sombras?
Alguém abateu animais a tiros?
Alguém derrubou a velha selva?
Alguém julgou que era progresso?
E que era preciso?
Alguém sorri diante do fogo?
Vendo a chama consumir a floresta?
Alguém lucrou com o novo condomínio?
Alguém baniu a fauna de seu lar?
Alguém pisou naquelas cinzas?
Alguém evoluiu pra ser humano?
Ser sapiente e dominante?
Sapiente?
Alguém?

Rodrigo Cabral

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RUMO AO CAIS


Onde não havia mais becos eu deixei meu ódio
Segui pela cidade viciada rumo ao cais que estava sujo
Eu fedia ao dia inútil que ainda estava agarrado em mim mesmo naquela hora final
Eu caminhava pesado de todos os moribundos sentimentos e pesares que meu corpo insistia em ter
Apegado à maquinaria falha destas cidades eu seguia cego
Não via a luz do alvorecer
Não via a cor que tem o parque
Não via o mar
Em algum lugar a minha volta vozes bêbadas e vorazes gritavam maldiçoes
Homens sem rumo e sem coragem vagando na terra de ninguém
A calçada por onde eu seguia era pegajosa e enervante
Não tinha meu vinho na Mao
Nem um misero copo de cachaça que fosse
Mãos vazias na verdade
A não ser pelos calos
E pelo sangue
Eu vagava pela noite jovem recém-nascida fugindo da cena de meu próprio crime
Atrás de mim vozes aturdidas
Atrás de mim... La onde já nem se podia mais ver punhos em riste prometiam vinganças impossíveis
A minha frente às ruas dançavam abrindo e fechando esquinas sinuosas e sóbrias
A minha frente vielas e passadiços vazios a não ser pelos ratos e pelas putas
Eu vou em busca do cais
Com os ouvidos cheios dos ecos de um crime
Com a mente torpe de bebida barata
Com as mãos tingidas de sangue alheio
Vou em busca do cais
Cobrar dele o que não admito mais que me seja negado
Vou para o cais fétido desta metrópole doente
E vou afogar nas águas imundas um torpe criminoso
O criminoso que sou.

Rodrigo Cabral

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QUEM ESTA DIANTE DE MIM?

A noite foi longa
Posso ver você diante de minha porta
Esta cansada... Posso ver!
Tem a face exaurida e contraída
Traz o coração maculado
Dolorido...
Tantos pecados naquelas trevas
Tantos erros que não serão mais esquecidos
A noite ontem foi longa
Eu vi você desmazelada em minha cozinha
Tao perdida e taciturna
Tao pequenina
A cidade rosnou para você com seus neons e prédios
A cidade infestou seu corpo com doenças e pústulas
Posso sentir em você o fedor das ruas
É o cheiro da noite que trouxeste contigo
Você passou os umbrais mais sombrios nesta noite que viveste
E passou sozinha
Oh menina... por onde quer que você vá...vais só
Esta tão frágil
Tão tremula
Cabelos desalinhados e lábios borrados
Vestígios do teu batom?
Será sangue esta mancha rubra que vejo em tua boca?
Estremeço diante da possibilidade da resposta
Viro o rosto
Não quero deixar nossos olhos se encontrarem
Não quero saber o que a noite deixou em você
Não quero chorar...
Você não fala...
É toda silencio na imaculada brancura da cozinha
Gestos contidos e tristes...
Carne dos braços tremendo
Oh oh Deus ontem a noite foi longa
O que foi feito de você?
O quanto de seu realmente bateu hoje em minha porta?
Quem realmente esta diante de mim nesta mesa?
O café forte fumega na xicara escura
Duas mãos alvas a envolvem...
Dedos tão finos
Tao delicados...
Quem realmente esta aqui? (meu cérebro grita insistentemente a pergunta)
Não posso olha-la
Não quero olha-la
No fundo dos meus olhos sinto a ardência crescendo
Sinto a urgência surgindo
Diante de mim você esta quieta
Apenas espera
Não posso... não quero
(quem realmente esta aqui?).
Impotente ergo o rosto
Lagrimas quentes descendo em minha face
Ali esta você...
Olhando-me...
Olhos vermelhos de horas insones
Lagrimas em teus olhos também
E então eu vejo...
Não tem nenhum monstro
Não há estranhos aqui comigo
Só há você
Seu sorriso me diz...
Ainda que diante de tanta dor...
Aqui comigo...
Ainda esta a minha menina.

RODRIGO LUCIANO CABRAL

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AQUI


Aqui...
Aqui onde o que eu tenho é a brisa marinha
Aqui onde o mar canta melodias de mil anos às praias cinzentas
Onde o sol toca o oceano em crepúsculos antigos e intermináveis
Aqui eu aguardo...
Aqui aonde o mundo não chega senão por transmissões  televisivas
Aqui onde minhas flores crescem indiferentes em um jardim teimoso
Aqui onde os cães vadios ladram em feias ruas à noite
Aqui onde o pássaro que canta o faz sem temores
Onde desconfiados gaviões buscam vitimas em charcos imundos
Aqui...
Aqui onde pescadores silenciosos puxam do mar redes remendadas
Aqui onde ainda muitas carroças pululam nas ruas como anacronismos vivos
Aqui onde cavalos ainda são meios de transporte
Aqui eu ainda sei de você
E te espero
Aqui onde a vida fenece quando o verão acaba
Aqui onde o dia pode ser longo e moroso
Mas é sempre cálido e terno
Aqui onde a lua ainda tem feitiços nas sombras da noite
Aqui onde as sereias ainda sabem cantar
Aqui onde os marinheiros bebem suas doses em bares decrépitos
Aqui onde as tartarugas alcançam desoladas as praias vazias
Aqui onde o leão marinho um dia surgiu
Aqui onde o leão marinho um dia rastejou
Aqui onde o leão marinho morreu
Aqui eu ainda digo teu nome
Aqui onde o solo é pobre e a areia é vasta
Aqui onde o sexo seria só sexo sem você
Aqui onde fazer amor sem você teria gosto de fel
Seria como vagar no deserto sentindo a areia e desejando o oceano que não terei
Aqui onde quem sabe o que sabe não conta
Não fala...
Não diz...
Aqui onde toda a distancia parece caminho pro mar
Aqui onde todo o amor parece nascer...
Crescer...
Vicejar...
Aqui...
Aqui eu aguardo você.

RODRIGO LUCIANO CABRAL

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Baco

À noite esta calada
Na escuridão insone vejo vultos
Serão zumbis do negrume?
Vampiros famintos?
Serei apenas eu?
Eu digo venha... venha noite
Na grande arvore pia a coruja
Barulho assustador de tempos antigos
Retinir de espadas também?
Ouço embates medievais?
O que embala meu pobre cérebro esta noite?
O uivo corta o ar hoje tão frio
Silhueta contra a lua
Homem lobo?
Lobo homem?
Alquimia ou genética estranha?
Quem se importa?
La fora na vastidão alguém caminha
Anda só?
Procura alguém...
Talvez a mim...
Talvez a ti...
Talvez apenas se vá...
Como eu já fui
Na esteira espectral de meus mistérios vejo coisas
Meus fantasmas
Meus ogros
Pobres seres sem ardores
Tanta gente La fora na noite hoje
Tantas coisas
O que se passa comigo esta noite?
O que eu vejo?
O que eu sei?
Como explico?
Turbilhão de enigmas
Profusão de perguntas
Cada estrela é uma duvida
Agarrada em mim só mantenho firme uma certeza...
E muito bom este vinho que bebi.

Rodrigo L.Cabral

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Uma canção roubada da imundicie

Já e tarde e o mundo todo ouve
Podemos cantar uma canção qualquer que não nos deixa
Todos tocam separados os seus instrumentos
As moçinhas com mochilas nas costas e uniformes escolares
Os velhos sentados nos bancos da praça pálidos de reumatismo
Cantarolando imperceptível uma canção
A canção do mundo
Uma canção roubada da imundície
Nas redações dos jornais ou nas celas sentados em caixotes de madeira
Os mendigos os bêbados e as crianças
Afogados e ungidos de indiferença ate aonde a canção lês alcança
A canção do mundo
Que fere os já derrotados
Que exalta os tiranos conquistadores
Que enterra seus mortos em valas
Uma canção que faz escravos
Que traz os loucos para as ruas, para a noite.
Que abre as portas do inferno
Uma canção cantada no silencio
Repetida pelas almas do porão
Recitada pelos antigos, por Aleister e outros.
A canção que cala as vozes gritantes
Que rouba corações ingênuos
Que mata bebes no sono
Que acha este mundo pequeno
Uma canção de fogo e de gelo
Que ri das piadas sem graça
Que passa a peste e as dores
Que faz da cura a doença
Uma canção rezada nas preces de altar
Que pos os pregos na carne e na cruz
Que viu o Cristo sofrendo
Que fugiu pro deserto sozinha
Uma canção irmã das pragas
Que trouxe o óleo aos oceanos
Que ensinou aos homens a arte da caça
Que trouxe os exércitos e a guerra
Uma canção pra contagem de corpos
Pros túmulos escancarados dos saques
Pros leitos lotados dos hospitais
Uma canção repleta de medo
Repetida pelas turbas de jovens loucos e selvagens
Atrelada aos cavalos noturnos da morte
Uma canção exaltando o ódio
Que e racista e idiota golpeando os asiáticos os judeus e os negros
Que lança mísseis que cortam os ares
Que explode minas que amputam membros
Uma canção roubada da imundície
Que segue em cortejos que repetem em coro
Que cria ladrões e assassinos
Que faz das prisões suas caixas de ódio
Uma canção pra resistir e seguir com o tempo
Pra não deixar a espada na bainha ou o revolver no coldre
Nem a lança parada e sem golpes
Uma canção pra sabermos o que somos
Pra enterrarmos nas carnes dos outros
Destruirmos suas vidas tão simples
Uma canção pra lançar contra a lua
Uma canção que apaga o sol
Um estribilho de brasa cinzenta
Uma canção que gosta de sangue e fogo
Uma canção roubada da imundície
Uma canção que o mundo canta
Atrelada ao homem desde sempre
Presos os cantores insanos do mundo
Uma canção que não morre com o tempo
Uma canção sussurrada aos ouvidos dos recém-nascidos
Uma canção que corre nas veias com o fluxo do sangue
Uma canção para os olhos estéreis dos mortos
A canção da foice e do capuz
Que não reconhece vitorias nem se importa com sonhos
Que mata os heróis e segue os vilões
Uma canção roubada da imundície
Que incendeia aldeias e estupra meninas
Que cala os poetas e acorda os vulcões
Uma canção pra ser latida por cães e rugida por feras
A melodia repetida nos tiros
Uma canção de espinhos e chicotes
Que explode com as bombas nos carros terroristas
Uma canção entoada no choro que leva bebes mortos pra ultima morada
Uma canção solta no mundo
Que uni as vitimas e as desampara
Que esta nos pratos vazios da fome e na terra seca sem chuvas
Uma canção de enxurradas que afoga os distraídos dentro das casas
Que carrega seus últimos valores pro lodo imprestável
Uma canção pros bordeis decadentes e pras veias picadas dos viciados
Uma canção de quem atira de longe e acerta o alvo
Daqueles que golpeiam de faca nas noites dos bares
Uma canção roubada da imundície
Que e muita que e todas e é única pra todos
Uma canção de horrores e sombras
De tragédias e guerras
Uma canção que não acaba e cresce
Uma canção tocada e tocando como a peste
Uma canção dos fracos dos trôpegos dos covardes dos humanos
A canção que o mundo canta
Uma canção roubada da imundície.

Rodrigo L.Cabral

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TÃO SIMPLES

A noite se foi...
Fugaz escorrendo em torpor por meus sonhos
Brisa nas janelas
Roseiras orvalhadas
Um pássaro cantando...
Será canário?
Melro?
Difícil dizer... Mas canta
O céu e veludo acetinado
Faz frio
A mata cintila de tão verde na montanha que posso ver de minha janela
Muitas vozes no ambiente
Musica...
Características humanas...
Os civilizados despertaram
Aroma de café em minha cozinha
Um cão ladrando ao longe...
Tão simples esta vidinha que levo
Tão simples...
E tão minha!

Rodrigo L.Cabral

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NENHUM FIM

Andei em ruas velhas vincadas de mistérios
Como a face desbotada de um ancião doente
Senti o frio que o vento trouxe
Era um vento de inverno assombrando nossa primavera estéril
Eu toquei os desejos secretos que pude perceber com o tempo
E cortejei o tempo de um tempo que não podia ser meu
Por que meu relógio não sussurra mais horas exatas?
Quando foi que perdi o discernimento do que era real?
E nas madrugadas torpes de mulheres sujas e bebidas baratas...
Eu me entreguei a buscas que não faziam sentido
Eu soube da noite em que o vomito secava na calçada
Eu soube do fedor podre que a boca desdentada da madrugada exalava
Eu soube de tudo...
E caminhei insensível por tristezas nauseantes
Torturado por melodias que nem BIRD poderia tocar
Ressoavam em minha mente canções que não podiam ser interpretadas
O céu escuro cobriu-se de um êxtase sem cor e dobrou-se
Eu vi o cavalo negro que trazia a fome...
Um ser sem sexo sem paixões e sem vontades
Apenas a natureza crua do que deve ser executado...
Senti a ânsia faminta de tantos ardores...
Fome de viver...
De devorar...
De gritar...
Eu vi os mitos mortos e ainda insepultos em longos e trágicos cortejos
Cobain calado e triste com gosto de heroína na cabeça
Ginsberg sem auto poesia gay e abusada
Blake sem mais palavras
Tudo é vastidão morta
Tudo é terra estéril
Tudo é sonho sem alma
Crias da morte
Morcegos de pesadelo
Eu vi tudo
E segui a margem sem flores nas aleias
Sem nem mesmo uma reles rosa ainda que negra e murcha
Eu andei conformado sabendo que esta era minha jornada
Ruas antigas vincadas de mistério
E nenhum fim.

Rodrigo L.Cabral

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ESTA TARDE FUI MENINO


Algo mais se descortinou diante de meu olhar hoje
Uma vaga e mera ideia do passado que voltou
Um antigo e já esquecido sorriso que tomou posto em meu rosto
Ao meu redor a cidade seguia sua rotina
Já era tarde...
Uma da tarde... talvez duas...
Quem realmente percebe o tempo?
Tantas decisões a serem tomadas antes do dia findar
Tanto em que pensar...
Tanto pelo que se preocupar...
E minha mente jaz não mais totalmente minha
Uma memória incivilizada criando tumulto nas avenidas de meu raciocínio
Pensamentos encadeados regredindo...
Voltando ao passado
A tela do computador mostrando pra mim seus números e cores
Implorando uma atenção que seria dela por direito, mas que hoje foi usurpada.
Meus olhos hoje não enxergam mais o presente
Meu olhar agora é pretérito
Eu vislumbro acácias jovens em um bosque tão conhecido
Ouço as crianças correndo entre as arvores
Rindo...
Protestando...
Elas chamam por nomes já há tanto tempo sumidos
Elas também chamam por mim...
Mil aventuras e projetos nascem e morrem quase instantaneamente naquelas cabecinhas infantis
Dragões derrotados e princesas salvas
Heróis da TV em nosso socorro
Mistérios que mudavam
Planos que se faziam fáceis ante o fato simples de que nunca seriam implementados
Tanta graça e leveza
De minha cadeira naquela hora vespertina eu sondei de novos os córregos
Eu escalei de novo os morros
Eu subi nas mesmas arvores
Eu ri novamente de antigas piadas
Ali no meu acento tão impessoal
Eu ouvi outra vez secretas confissões de amigos que hoje já não tenho
Eu gargalhei de suas tolices serias
Eu confessei todos os meus medos e desejos juvenis
Eu fugi dos valentões que sempre me perseguiam
(há o preço de ser o gordinho da turma)
Eu briguei pelos companheiros
E briguei por mim mesmo...
Esta tarde diante desta maquina tão profissional e impensada naqueles dias eu chorei de novo as minhas pequenas tragédias de criança
Eu quis de novo o doce colo da minha mãe
Eu pensei de novo na severa proteção de meu pai
Esta tarde por alguns instantes...
Não sei quantos...
Eu viajei ao passado que durante tanto tempo, tempo demais... em minha vida adulta eu simplesmente esqueci que existiu
Por meros e precisos minutos eu rompi as eternas e míticas barreiras do tempo
Voltei a ser criança
Voltei a ser menino...
Fui feliz.

Rodrigo L.Cabral

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SEMPRE CULPA DA CANETA

Tenho uma caneta diante de mim
Uma reles esferográfica azul
Acho que é bic...
Deve ser...
Inquieta e delirante caneta quando esta entre meus dedos
Sabe bailar ela
E que dança indecente ela faz
Sabe protestar
Sabe assustar
Aprendeu a urrar
Faz sofrer e faz sonhar
A pequena caneta é mesmo poderosa
Um Vicio tenho que admitir
Quase uma extensão do meu braço
Do meu cérebro
Do meu ser
Às vezes é como se não fosse eu
É como assistir as palavras que surgem na esteira desta caneta agitada como se não pudesse saber de onde elas vem
Sim a pena mais forte que a espada
Tem vida própria à pequena bic
É minha maldição e meu prazer
Ouço seus chamados nas horas mais estranhas
O raspar seco de sua ponta em papeis
Cadernos de linhas
Blocos de rascunhos
Papeis em calhamaços
Não escolhe lugar ou tipo a avoada
Só escolhe motivos
Só desnuda sonhos e medos
Às vezes vejo com susto textos meus que eu não lembrava que existiam
Meu amor me diz “ES um pai relapso com teus filhos poemas como podes não lembrar que escreveu estes?”.
Faço alguma piada
Solto algum tolo gracejo infantil
Mas na garganta contenho a custo a frase que quer sair
Não fui eu meu amor... não fui eu !
Foi à caneta!

Rodrigo L.Cabral

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NUNCA

Nunca conheci uma felicidade que eu não pudesse estragar
Um amor que não fenecesse
Uma dor que não aumente
Ou um sonho que não acabe
Nunca conheci um olhar que não se apague
Um desejo que não devore
Um ódio que não cresça
Uma fuga que não termine
Nunca conheci uma amizade sem interesse
Um sorriso sem falsidade
Uma idade que eu queira
Uma saudade que eu goste
Uma saudade que eu tenha...
Nunca...
Nunca ouvi uma história que me encante
Nunca chorei pela emoção
Nunca chorei pelo remorso
Nunca chorei pelo ódio
Nunca falei todas as verdades
Nunca acreditei em duendes
Papai Noel que nunca existiu
Coelhos e ovos de chocolate? Incoerência...
Mula sem cabeça? Lobisomens?
Tolices
Nunca vi força na união
Nem guerreiros nem soldados...
Nem irmão nem amigos...
Nada de inimigos
Ninguém...
Nunca jurei lealdade
Nunca prometi honestamente
Nunca esperei
Nunca quis
Nunca fui...
Ainda não sou.

Rodrigo L.Cabral

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UM ROMANCE NOS ASTROS

Oh lua eu vi teu olho
Ouço lobos te chamando
Você entende seus recados?
Seus apelos noite após noite?
A NASA diz coisas horríveis sobre você
Que és deserta seca e sem vida
Toda rochas areia e crateras
Nenhum dragão em teu seio
Nada de são Jorge e seu cavalo
I lua eu vi você indiscreta
Espiando amantes sobre a relva
Amantes sobre a cama...
Amantes num velho carro...
Sempre os amantes
Xi lua para onde foram teus segredos?
Todo mundo fala o que sabe de você
Todo mundo conta...
PÔ lua e os lobisomens?
Que droga de piada é esta que você nos traz?
Tem homens lobo por ai na noite agora?
E se tem é você que sabe?
É você quem traz?
Conta lua o que fazes quando a nuvem te esconde?
Coisinhas safadas que não queres que eu veja?
Que ninguém veja eu presumo...
Hei lua explica este boato
Tem um boato antigo, muito antigo solto no mundo.
Fala pra mim afinal o que você e o sol fazem juntos?
São só amigos?
Enamorados?
Amantes?
Não adianta lua durante o eclipse os paparazzi astrônomos flagraram vocês
Aos beijos no crepúsculo abreviado
Negar não adianta minha cara
O lua como vocês encontram tempo?
Agendas assim tão diferentes vocês tem
Ele sempre ocupado nas horas diurnas
Você tão diligente quando a noite vem
Haaa lua entendi teu segredo
A tardezinha vislumbro o crepúsculo nascer
Antes da partida dele por traz da angulosa montanha
Sol e lua trocam olhares e beijos que ninguém mais vê.

Rodrigo L.Cabral

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