[ Quando o amor é o caminho ]
De repente, sem avisos,
sem alertas, sem sinais,
abre-se um caminho
diante de meus pés.
Áspero caminho
que inicio sozinho
inseguro e desorientado.
Dou o primeiro passo.
Silêncio.
Segue-se então o segundo
e, no segundo seguinte,
o terceiro
o quarto
o quinto
o sexto
o sétimo.
Sigo só
e cada vez mais depressa.
Vento no rosto.
Olhos fechados.
Passos acelerados.
De repente, sem avisos,
sem alertas, sem sinais,
surgem outros pés
tão acelerados quanto os meus.
Paramos.
Nos encaramos.
Silêncios.
Me reconheço n'esses olhos.
De repente, sem avisos,
sem alertas, sem sinais,
não prossigo mais sozinho
quando percebemos que diante de nós
o amor é o caminho.
Solange Santana
19.05.2018
Enfocar a história, a cultura e a força do povo negro por meio da literatura, eis o objetivo da antologia “A matriz da palavra: o negro em prosa e verso”, publicado em 2015, pela Litteris Editora.
No livro são reunidos poemas e contos de diferentes autores que abordam a temática do povo negro, suas lutas e vitórias, tristezas e alegrias, lágrimas e sorrisos. Cada palavra, cada linha, cada página desperta no leitor a matriz da alma negra, em prosa e verso.
Artur Rodrigues, editor da obra, ressalta que a antologia “busca de alguma maneira, mostrar o negro através de seu talento, da sua arte, do seu poder de profunda criatividade e construção (...) Por que, sobretudo na arte, não pode haver discriminação.”
Vale a pena conhecer, ou melhor, ler!
Eu participo da antologia com o poema "Raízes", transcrito a seguir:
Raízes
Um menino caminha.
Em suas negras mãos
carrega uma semente
negra.
Semente negra
para ser semeada
como se semeia a lua
como se semeia o sol.
É na terra vermelha
que a semente negra
cai
floresce
e renasce.
Semente dos que deram voltas
ao redor dos baobás
Dos que se jogaram ao mar
Dos que sobreviveram à travessia
Dos que marcaram o chão das lavouras
com suor.
Dos respingos vermelhos no tronco
Dos que protegeram as crias junto ao peito
Dos que tiveram as crias arrancadas dos braços
Dos que tiveram os gritos abafados
e os cantos silenciados
Das súplicas nos quartos de despejo
Dos injustiçados
arrastados pelas ruas.
Eis que repentinamente
o menino para.
Suas negras mãos estão envelhecidas
- Já não é um menino
e a negra semente
agora
é raiz.
Solange Santana
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Autores: Oliveira, Amadeu Bispo de et al.
Editora: Litteris Editora
Nº de páginas: 128 p.
ISBN: 978-85-374-0294-8
Idioma: Português
Lançamento: 2015
Para adquirir a obra, entre em contato com a Litteris Editora: email litteris@litteris.com.br ou ligue para (21) 2223.0030 ou 2263.3141.