Posts de pedro antonio avellar (98)

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O Divã

Estava o diabo no seu canto

Ensimesmado, taciturno...

A quem não o conhecia,

Pareceria

Que se debulhava em pranto.

- O que tens, satã? –

Indagou-lhe outro diabinho,

De plantão naquele turno.

- Ah, que preciso de um divã,

Pois se esfria o infernal cadinho,

À medida em que prometeu Jesus –

(Sabe? – Aquele lá da Cruz) -

- que todo pecado terá perdão...

- E até bandido, homicida, ladrão,

Desta prisão um dia se livrará -

- Com isso, o inferno se esvaziará...

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Concussão

CONCUSSÃO

 

Sabe aquela lesão inexplicável?

Aquela interna, da cabeça,

Que não se vê no laudo não,

E se mostra indecifrável

Mesmo ao cirurgião?

Por mais que pareça,

Não resulta de batida,

Nem se avista vermelhidão.

Não tem mancha arroxeada

E nenhuma aparente ferida -

A radiografia não vê nada não...

Mas, quem a tem,

Sente uma dor tão doída...

Então, pensando bem,

É mesmo um sofrer diferente -

Não na cabeça, não na mente -

E sim, quem sabe, no coração!

 

pedroavellar – out.2023

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Anseio

Me alimento de tristeza

E dela eu vivo e respiro:

É por ela que suspiro

E padeço com certeza.

 

Ah, coração, pagas o preço

Dessa estranha fatalidade:

E assim choras na verdade

As lágrimas por quê padeço.

 

E sabes o que mais receio?

É que me esqueça da razão

Pela qual sofres, coração:

E a dor se torne devaneio!

 

pedroavellar - 10.10.2023

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Violas de além-mar

 


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Violas de além-mar

 

Ora, pois,

Quem sois,

A tocar sons maviosos

Que fazem a gente sonhar?

São as violas de além-mar -

Viram quantas cordas têm?

E os tocadores, tão garbosos...

Como as dedilham tão bem!

São do norte, do Tâmega, da Aboboreira,

Ou das Terras de Trás-os-Montes.

Da Freguesia do Amarante, de verdes videiras,

Ou sois das serras do vasto horizonte?

Sois, porventura, açorianos,

Da distante Ilha Terceira,

Que cantam, ufanos,

As glórias lusitanas do além-fronteira?

Ora, ora, pois, pois,

- Dizei-me: Quem sois?

 

pedroavellar

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Meus olhos

Tem dia em que mais vejo
Ao estar de olhos fechados
Que, abertos,
Só avistam miragens,
mas, se os cerro, vejo imagens
De pressurosos cavalos alados...
Enquanto isso, sem rumo velejo
Por veredas e caminhos incertos.
 
p.avellar - 30.7.2023
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Rua Tiradentes

Rua Tiradentes

 

Ah, Birigui saudosa: a noite era bela...

E o Silvares um bairro encantado...

Com os cotovelos na tosca janela,

Me via a contemplar o céu iluminado

Por estrelas, ao voejar dos vagalumes,

Piscando suas luzinhas, sem queixumes,

Em um vai e vem verde-amarelado.

E sonhador, então, eu ouvia deliciado

O coaxar dos sapos, em ritmada cantoria,

Nos duetos com os grilos invisíveis,

E seus cri-cris estridulados, sensíveis...

A seu tempo, quando a chuva tardava,

Quão ensurdecedora era a sinfonia

Das cigarras, em prece tão emotiva,

Que até minh’alma se sentia cativa!

E então, enquanto adormecia, eu orava,

Em suspiros e gratidão ao Deus Criador...

A noite da Tiradentes era um esplendor!

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Um Natal no Agreste

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Um Natal no Agreste

- Olá, Senhor. Me chamo Severino
Dês que nasci, desde menino...
Mas por que me olhas calado?
- Teus pés nesse par de alpercatas
Certamente estão calejados,
Que o chão catingueiro maltrata.

E a mulher, nesse burrico,
Encostado no pé de angico...
Humm, me parece tão fraquinha -
Está prenha a pobrezinha?
Pois sofre, com cara de dor...
Diz vosmecê: como posso lhe valer?
Desembucha, homem, sem temor...
Antes desse bebê nascer.

- Ah, meu Senhor, sois bendito
Que estamos sim, em apuros
E já me desesperava, aflito.
Viemos de distante lugarejo,
Mas a cidade anda em festejo,
Sem pousada por entre os muros,
E não temos abrigo onde ficar.
Uma gruta, um paiol, uma estrebaria...
Podeis, Senhor, nos ajudar?
Eu me chamo José. E ela, Maria!

O caboclo do agreste, comovido,
Os guiou então pelo chão batido.
E foi assim que na caatinga singela,
Em meio à seca, em pleno sertão,
Maria e José se abrigaram num grotão.

Era uma noite iluminada, tão bela...
E nasceu o Menino, na madrugada.
De pronto, as faces coradas, chorou!
E a jovem mãe em trapos o enrolou
Na cama de palha improvisada.
E exclamou, em meio a tanta luz:
- O menino será nosso Salvador
Inda que eu sofra imensa dor.
Vamos dar-lhe o nome de Jesus...
As estrelas brilhavam, tão gentis:
Foi deveras uma Noite Feliz!

by: pedro avelar

 

 

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