A traição

Um silêncio pairava sobre o apartamento, as luzes estavam desligadas, parecia não haver ninguém. Um homem chega em frente do prédio, olha fixamente para as janelas de um apartamento, dá uma longa respirada e chega próximo ao portão. O portão se abre.
— Boa-noite, seu Marcelo!
— Boa-noite! Responde o homem com os olhos arregalados. Pensei que o senhor só voltaria na semana que vem.
— Pois é, voltei mais cedo, aconteceram uns contratempos.
O porteiro, não sei por que, assim que avistou o homem pegou o interfone e ficou segurando durante a conversa. Continuou o homem, que parecia cansado da viagem.
— Vim sem avisar ninguém, queria fazer uma surpresa a Janice...
— Ela, sem dúvida, ficará surpresa — interrompeu o porteiro.
O homem se retirou. Entrou no elevador e apertou o número 9. Conforme subia, ia tirando o paletó e afrouxando a gravata. Saiu do elevador já em frente de seu apartamento. Abriu a porta, estava escuro, ouviu uma música no segundo andar...o interfone tocou.
— Pois não!
— Desculpe seu João, disquei o número errado.
Franziu a testa, achou estranho, pois o porteiro nunca errava o número dos apartamentos, apenas respondeu, tudo bem. Sentou-se no sofá, não acendeu as luzes, ficou ali um minuto — a música no quarto não parava—, tirou seu revólver e seu distintivo de policial e pôs na mesinha de centro. Mudou de ideia. Levantou-se, recolheu apenas o revólver e subiu para o segundo andar. Estava cansado. A porta estava entreaberta, apenas a luz do abajur iluminava o quarto. No corredor, a música parou e do quarto vinham suspiros e gemidos. Foi caminhando devagar com o revólver em punho. Empurrou a porta. Na cama estava sua jovem e linda esposa com um jovem e lindo rapaz. O jovem o viu primeiro, empurrou-a. Virando-se, ela também o percebeu; ele estava imóvel parado e trancando a saída pela porta. A mulher não disse nada, fugiu pela janela; o homem, sentiu pela primeira vez o gosto de chumbo descarregado de forma covarde e sem nenhuma palavra.
E, ali, antes de fechar os olhos para sempre, entendeu que ela não o amava, só queria seu corpo, pois se não, teria ficado com ele, e partilhado o gosto amargo e ardente das balas. Mas preferiu fugir pela janela, sem se importar com a altura de nove andares.

Assis Silva

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Assis Silva

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Comentários

  • Tudo aconteceu na velocidade da luz.

    Parabéns pelo conto.

  • Que bela e triste dissertação,poeta!!

    Fiquei emocionada!

    Parabens pela obra

    Bjssssssssssss

  • UAU!!! SENSACIONAL!!! AS IMAGENS VÃO SE FORMANDO À MEDIDA QUE A LEITURA AVANÇA!!! MEUS APLAUSOS!!! PARABÉNS!!!!

    13361920?profile=original

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