Amor
Lourenço sempre vira a prima Carmem como sendo a mulher ideal com quem desejava constituir família, mas por motivos que só o destino possa, ou talvez nem mesmo ele, explicar, a verdade é que os seus caminhos acabariam por se separar e estacionar em estações distanciadas da vida de cada um deles.
Carmem, deixando-se levar na ilusão dos sonhos que fazem parte da adolescência, acreditara nas promessas de um antigo namorado, casando-se com ele e de quem tem dois filhos, uma rapariga com 26 anos e um rapaz com 22.
Agora, aos 51 anos, vê-se de novo sozinha na vida, o marido faleceu há três anos e a filha casou há cerca de 2, enquanto o filho se encontra a estudar no estrangeiro, ao abrigo de um desses programas que permitem o intercambio entre estudantes.
Lourenço, ao saber que a prima decidira reatar o velho namoro, acabara por se ir afastando das velhas amizades, pois não conseguia suportar a dor de a ver abraçada a outro, pelo que tal afastamento, mais não foi que pura estratégia para também se afastar dela, ao mesmo tempo que ia estabelecendo novas amizades, de entre as quais viria a conhecer aquela que se tornaria sua esposa. curiosamente uma professora estrangeira convidada para leccionar na universidade onde ele estudava.
Foi já após o nascimento do seu segundo filho, e ao ver-se no desemprego, que Lourenço decidiu aceitar o desafio da esposa e emigrar para o país de onde ela viera, a Eslovénia. Toda a sua vida girava em torna da família e da estabilidade da mesma, pelo que, sabendo como sempre soubera que a esposa tinha o sonho de poder voltar à sua terra Natal e sem nada que o prendesse a Portugal, não hesitou em dar novo passo na sua vida.
A vida na Eslovénia não viria a ser bem aquilo que Lourenço idealizara, não só pelas dificuldades em encontrar trabalho, como também pela inesperada mudança que se viria a verificar em Nastja, a sua esposa. Lourenço não conseguia perceber o porquê de tão brusca e radical mudança, atribuindo-a a alguma eventual pressão da família dela, a qual parecia não simpatizar muito com ele.
Foi num dia em que chegou a casa mais cedo, que tudo se precipitou. Nastja, sem sequer lhe dar tempo para despir o casaco, comunicou-lhe já não o amar e que queria o divórcio:
- Eu vou, hoje mesmo, para casa de meus pais. Levo os meninos comigo. Tens a renda da casa paga até ao fim do mês, depois ficas por tua própria conta.
Foi como se o mundo caísse sobre a cabeça de Lourenço. Assim que se sentiu a sós e perdido num país estranho, não aguentou a pressão, voltou a sair de casa e dirigiu-se a um bar no centro da cidade:
- Como é que eu aqui vim parar? Quem é o senhor?
- Acalme-se. Eu sou Português como o senhor. Conheço-o bem, pois sou aluno da sua esposa, vivo num quarto aqui mesmo ao lado de sua casa, e já o tinha visto algumas vezes lá no bar.
- Diga-me, o que aconteceu ontem à noite.
- O senhor bebeu um pouco demais, depois, talvez por influência do álcool, começou a dizer mal dos Eslovenos, principalmente das mulheres e eles agrediram-no e puseram-no fora do bar. Teve muita sorte, pois com o nevão que estava, se eu não calhasse a passar por ali, talvez tivesse morrido enregelado.
- Obrigado. Como te chamas?
- Lourenço.
- Lourenço! Eu também me chamo Lourenço. De que zona de Portugal, é que és?
- Sou de Odemira.
- Curioso, chamas-te Lourenço, tal como eu e, também como eu, és de Odemira. Quem é a tua família?
O jovem, seu providencial salvador, encarava todas as perguntas com naturalidade, atribuindo-as à desorientação que deveria ter tomado conta dele:
- Meu pai já morreu, minha mãe chama-se Carmem.
- Carmem!
O grito de Lourenço, assusta-o:
- Que foi? Conhece a minha mãe?
- Talvez sim, talvez não. A tua mãe, por acaso, é a Carmem Pinho?
- Sim, é essa mesmo. Espere aí, lembrei-me agora de uma coisa que a minha mãe me disse há muito pouco tempo. Ela disse-me que me pôs o nome de Lourenço em homenagem a um primo de quem não sabia nada há muitos anos mas que fora o grande amor da sua vida, amando-o mesmo mais do que alguma vez tinha conseguido amar meu pai, o qual só a fez sofrer.
Lourenço não precisou de ouvir mais nada, só lhe interessava tratar de tudo o mais rápido possível e partir ao encontro daquela que o destino lhe recusara tantos anos antes. Mesmo que ela não estivesse preparada para o receber, não cometeria o mesmo erro outra vez, esperaria por ela.
Lourenço não precisou esperar tempo algum, Carmem sabia que só a seu lado poderia ser feliz.
Moral: A vida pode dar muitas voltas, mas depois, talvez seja nas voltas da vida que está a Felicidade.
Francis D’Homem Martinho
10/01/2020
Comentários
Uau, amigo Francisco Raposo; que linda história de amor! Anei! Meus parabéns pela linda postagem. Deus te abençoe.