Anjo implicante
Dentro de mim mora um anjo, não sei ao certo se, bom ou ruim, o
que realmente sei é que ele exerce enorme influência sobre minhas
atitudes. Este anjo nasceu comigo para me acompanhar nesta
jornada perigosa. Sabe, meu irmão de caminhada, viver
é muito perigoso! Porém, somente com o decorrer do
tempo pude percebê-lo ao meu lado, sempre a fremir
aos meus ouvidos palavras sedutoras. É aí que começa
a minha beligerância interna. Tenho de conservar a minha
personalidade idônea, tenho de me manter consciente de meus
atos. Este anjo às vezes me dá alguns conselhos de atravessado e,
quando posso, rejeito-os, e quando isto acontece, sinto-me fortificado.
Pois, creio estar vencendo o meu ego. O meu anjo de tanto me fazer errar,
está aprendendo a se evoluir, soprando à minha mente de que é errando
que se aprende. Está cada vez mais humano, plagiando frases soltas
pelo ar. Tem mudado bastante, hoje ele é outro anjo, e eu outra
pessoa. Fundimo-nos em erros e acertos. Assim foi por longas
décadas. Este anjo danado é enigmático como a própria existência.
Às vezes me vejo no Éden, aquele mesmo; criado pelo Senhor de
todas as coisas. Aí aparece o cara, todo encantado, insistindo
para que eu saboreie um suculento fruto. Já cansei de falar
que não quero me atrever, porém, ele é cheio de sedutoras
palavras, ainda bem que tenho acordado destes sonhos
paradisíacos, pois, pouco a pouco o paraíso começa
tornar-se insuportável. Talvez seja aquele mesmo
Anjo Torto do poeta Carlos, que foi logo colocando
aquela pedra no meio de seu caminho para que o
nobre poeta nela tropeçasse e fosse gauche pela vida.
Um dia desses, estava sentado sobre a soleira do por-
tão lá de casa, rua pacata, vizinhança pacífica, quando
me aparece Elifaz, o meu anjo, a me chamar à atenção:
Oi Véio! - Por que não vai ver um daqueles programas
policiais pelo qual escorre sangue da impunidade
pelo monitor de plasma de sua moderna tevê?
Às vezes penso que seja algum desajuste de minha
fértil imaginação, mas ao testificar vejo-o realmente
com um sorriso maroto e com olhar de soslaio. Em
seguida ouço três estampidos advindos da próxima
esquina à esquerda, então tomo a óbvia atitude
de adentrar na minha casa, enquanto, Elifaz
pisca maliciosamente para mim e res-
mungando soletra: Cuidado véio!
Comentários
Boa história.
Aplausos pela inspiração, João.
É verdade, ô anjinho vagabundo, Margarida.
Nobre poeta João Batista, congratulações pelo poema, espero sinceramente que venham muitos outros.
Obrigado, Sam, se a Musa me agraciar virão sim, espero. Abraços campônios.
Minha querida Márcia, a recíproca é verdadeira, creia, tenho passeado pelos seus poemas. Bjs.
Bela inspiração aplausos!
Oi Everaldo, obrigado pela sua generosa observação. Abraços campônios.