B r i s a N o t u r n a
Pedro Avellar
Só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido, disse certa
feita Fernando Pessoa.
Eu me comprazia com a beleza desse pensamento e fechava os
olhos à suave brisa do anoitecer, que assim ouvia melhor o
sussurro do vento.
Mas o destino e as coisas vêm e vão, a seu tempo. E numa tarde
inóspita qualquer, sem avisar, a brisa se tornou vento e este se
tornou vendaval, borrasca, tufão. Meus olhos se avermelharam, se
tornaram rubros, se comprimiram ante a poeira que se alevantou na
intempérie.
E doíam-me os silvos que ouvia, que sibilavam no furacão
tonitruante. Estremeci e o medo invadiu-me. Por instantes
imaginei que meu espírito se desapegasse do corpo.
Era um doído sentimento de que a mãe-natureza me desacolhia.
Contudo, o turbilhão não me arrastou pelos ares, nem me vi
mergulhado no torvelinho que varria o chão.
O vento amainou e a tempestade foi se aplainando, aplainando... e
cessou. E cedeu vez, em pouco tempo, ao vento vespertino, à
brisa noturna.
Ouvindo-a, suspirei. Abri os olhos e avistei no firmamento, ainda
pálidas, as primeiras estrelas que secundavam o luar de prata que
despontava. Senti que a Graça do Altíssimo onipotente me
abençoava!
Moldura by livita
Comentários
Muito grato, Margarida!
Calorosos APLAUSOS pedro avellar...
Sei que tens dezenas de outros textos em prosa poética qual esta.
A CPP se sentirá muito honrada se, conforme tiver disponibilidade de tempo os publicar. Até mesmo, para que nós os "formatadores aprendizes" os usemos para aprender cada vez mais (com tua aquiescência).
RENOVADOS PARABÉNS!!!
Obrigado, Zeca Avelar, que vela mesmo pelo nome familliar.
Mais, não posso comentar, porque já não sei como rimar.
E não posso agora falhar, já que temos um nome a velar!
Boa tarde Pedro, ao ler seu texto me senti num dia inteiramente poético, um daqueles em que quando menos esperamos tudo acontece, coisas boa e nem tão boas, porém nessas nem tão boas, surgem as maiores reflexões.
Parabéns pelo texto maravilhoso!
Não sei se ficou boa a formatação desta página, mas usando uma borda de Livita fiz esta página. Só a apreciação alheia é que me dirá se ficou bom.
Mais uma vez, parabéns pelo texto.
Destacado!
Fico muito lisonjeado com teu elogio, caríssima Edith. Não dormira bem e me via deprimido com os males do mundo, a pandemia, em especial.E me dei conta, subitamente, que a vida é sucessão de momentos, fases, instantes, fugazes ou não, que vão e que vêm. É um círculo vicioso e mesmo os males são meios de prova com que que a bondade divina nos contempla. Li então uma poesia de Cecília Meireles e em alguns minutos pude escrever esse texto. Mas o mais bonito da publicação é que ele se engrandeceu muito pela obra de arte, a formatação e a borda, com essa imagem bem apropriada. Gostei e te agradeço, desculpando-me pelo comentário longo.
Ficarei no aguardo!