Brota un recuerdo algo lejano

Brota un recuerdo algo lejano

— por J. A. Medeiros da Luz

 

Em vilegiatura recentíssima

— De trabalho embora —, por planuras

Onde a primavera foi fruída,

Revivo (nesta fina membrana

Do agora, do fugidiço instante,

Do galope fuginte do tempo):

 

Um fretinir sem fim de cigarras

Leva-me a páginas da vida,

Amarelecidas pelos dias,

Nas quais me sorriam com delícia,

Uns olhos, uns lábios, um porvir.

 

O estridular desse pretérito

Inda insufla música no espírito,

A evolar perfumes de saudade,

Tingindo de afeto o arco-íris,

Mitigando a bílis dos caminhos

Dos rugosos dias do presente.

 

 

Ouro Preto, 22 de outubro de 2022.

[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br ou jaurelioluz@yahoo.com © J. A. M. Luz]

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J. A. M. da Luz

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Comentários

  • 10855893477?profile=RESIZE_400x

    • Cara amiga Márcia Mancebo:

      Agradecido pelo bem-humorado incentivo. Aproveito para comentar que esses eneassílabos algo tacanhos surgiram, como se vê, do zunir obstinado das cigarras, levantando a névoa da memória. E esse zumbido suscitou, de  um modo um tanto onomatopeico, a profusão de vocábulos com a vogal "i" que surgem no poemeto. Inclusive, entre as variantes "fretenir" (mais comumente empregada) e "fretinir", preferi a segunda, que retrata melhor o sonido.

      Abraço do j. a.

  • Que belo estilo de poetar! Aplausos!

    • Prezada Joceilma:

      Agradecido pelas palavras gentis. Suspeito, porém, que um indefinido quê de estranheza que possa atrair a atenção aos versos, se deva a que minha pessoa já carregue, no embornal, umas arrobas de anos e de vivências, dum tempo em que o linguajar tinha outras nuanças e dizeres. Se percebo  que o ubíquo inglês já vivenciou mudanças perceptíveis, de minha adolescência para hoje, a nossa última flor do Lácio, tão querida, não será — por certo — exceção.

      Em todo caso, é fantástico, que possamos pegar dum auto de Gil Vicente, lá dos começos dos anos mil quinhentos, e entendermos até mesmo as ironias do caboclo... Talvez seja porque — se as línguas evoluem — as almas, em sua essência, continuam as mesmas.

      Abraço do j. a.

    • Amei seu comentário J.A. Medeiros. Obrigado poeta, por referenciar o primeiro verso " Última flor do lácio", do famoso autor brasileiro Olavo Bilac!

  • 10847855694?profile=RESIZE_584x

    • Cara amiga Angélica:

      Muito agradecido pela visita a este sotãozinho virtual do Jota; e pelo incentivo, sempre marcado pela generosidade, a nossos rabiscamentos. Inda que seja um rabiscar bissexto...

      Abraço do j. a.

       

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    • Inadvertidamente apaguei o que havia escrito na resposta. Recomponho-a. Era mais ou menos assim:

      Cara M. M. Madruga:

      E vejo com alacridade que — em vez de reprimenda — receber esta visita de Margarida em pleno curso desta Primavera é uma dádiva poética!

      Aproveito a oportunidade para parabenizar a você, Márcia Mancebo, Zeca Feliz, Edith, Angélica, Antonio Domingos e tantos mais, por manterem bombeando a seiva vital nas artérias desta nossa casa plena de harmonia, amizade e amor à arte.

      Abraço fraterno do j. a.

  • Belissimo Poema prezado J A Medeiros. As cigarras encantam vossa poesia.

    Parabéns pela inspiração e publicação.

    Abraços de Antonio Domingos 

    • Obrigado pela visita e pela generosidade das palavras, caro Antonio Domingos.

      Com efeito, o rechinar das cigarras é sempre um lembrete de que devemos celebrar a vida, por mais que mourejemos como formigas. Aquela famosa fábula, com as intensões pedagógicas do Jean de La Fontaine, padece de um binarismo um tanto exacerbado.  Entre o zero e o um, há muitos valores possíveis...

      Acaba que sua cortês visita me deixa algo inibido pela assimetria, pois tenho estado muito relapso com o convívio fraternal desta nossa casa virtual. Sempre estou na esperança de diminuir o ritmo da labuta, mas ainda sem muito sucesso. Tenho, nos últimos dois meses, ficado mesmo com um déficit de sono — nada salutar, aliás.

      E, por falar em Brasília e Goiânia, nas mangueiras, cheias de viço, já começaram a despontar, às centenas, as mangas, como arremedos de pequenos e dourados sóis. Em Brasília, inclusive, as jaqueiras, ao lados de alguns prédios dos ministérios, enfeitam lá seus caules, dependurando neles bojudas jacas, ainda antes de madurarem totalmente. Pequenos milagres da primavera, que em geral passam quase despercebidos pelos citadinos, apressados e focados em seus quefazeres.

      Abraço do j. a.

       

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