Crônicas — "Caminhando Em Volta da Lagoa"

Caminhando Em Volta da Lagoa

Certo dia estava caminhando no lugar de sempre, em volta da minha lagoa favorita e, caminhando ouvia-se o pular dos peixes, as conversas variadas das pessoas que caminhavam, misturando-se com as dos que corriam, os de mais idade num passo lento e outros sentados nos bancos jogavam dominó, com um sol brilhante refletindo nas águas esverdeadas da lagoa. Era um dia magnífico, para correr, caminhar, jogar dominó, e, até jogar conversa fora, mas, de repente, um garoto de olhos azuis, esverdeado com tom acastanhado me chama tocando em meu ombro: —

— Tio! Estou a vender pipocas salgadas e pipocas doces, me ajuda, compra algumas?

O garoto era muito lindo; um cabelo aloirado, porém, judiado por falta de trato, uma camiseta branca rasgada que, de tão surrada estava até escura; seu tênis estava na mesma situação, porém, ainda estava furado; suas mãos eram fortes, mãos de garoto que não tem infância, que não brinca, sobretudo trabalha todos os dias. Pedi dois saquinhos de pipoca, um doce e um salgado. Ao nosso lado tinha um banco vazio, ele olha para o banco e diz: —

— Tio quer sentar, parece que o senhor está cansado?

Eu não gosto de interromper minhas caminhadas, visto que, parece tirar o compasso do coração e da pressão arterial, mas como resistir a um pedido de um garoto que, já não era tão estranho para mim, sentamos, o garoto era bom de prosa e começou a fazer várias perguntas: —

— Tio, o senhor vem sempre aqui caminhar? O que o senhor faz? O senhor trabalha em que?

Com muita paciência e carinho eu respondi todas as perguntas do garotinho e, fiz as minhas também, pois, queria conhecê-lo melhor. Ele contou-me que era órfão que, perdera sua mãe com dois anos de idade e seu pai foi-se para outro mundo quando completava cinco anos, disse sentir vaga lembrança de papai, porém, de mamãe quase nada lhe vinha à lembrança, falou-me com os olhos cheios d'água que fora criado por seus avós (que estão doentes) e que, sua família era somente os dois. Ao mesmo tempo em que proferia estas palavras fez um bico e, caiu num pranto que até eu comovido, chorei, entre lágrimas e choro ele atirou-se nos meus braços, ali ficamos um abraçado ao outro e, nenhum dos dois dizia nada, pois, tínhamos dois nós na garganta, um na dele e outro na minha. As pessoas que passavam não entendiam nada, um velho septuagenário, bem vestido, abraçado com um garoto mal trajado, sofrido e carente de um afago, carinho nem que fosse de um estranho. Comprei toda pipoca (doce e salgada) do garoto e disse: —

— Jorginho, hoje você não trabalha mais, o seu dia está ganho e garantido, venha comigo!

Sim, respondeu Jorginho, (Jorginho era o nome do meu mais recente e puro amigo). Fomos para minha casa, lá, ele tomou banho, dei-lhe roupas novas, sapatos novos e almoçamos juntos. Acho que Jorginho, nunca teve uma tarde como aquela, aqueles olhos azuis esverdeados com traços acastanhados, não tinha mais aquela nuvem de tristeza daquela manhã de domingo. Bem a tardezinha eu disse a ele que gostaria de visitar seus avós Jorginho explode novamente, num pranto que me assustou, mas disse: —

— Não se assuste seu dotô, pois estou chorando de alegria!

#JoãoCarreiraPoeta — 26/02/2020 — 22h

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Dr. Carreira Coach

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Casa dos Poetas e da Poesia.

Join Casa dos Poetas e da Poesia

Comentários

This reply was deleted.
CPP