Raimunda
Era uma linda manhã de maio, o céu estava azul anil e as gaivotas bailavam de um lado pra outro. A donzela Raimunda acabara de realizar seu maior sonho, visto que, ficara noiva, era muito rica, porém, feia como o cão, mas, seu corpo era torneado, macio como pêssego, tudo estava milimetricamente, em seu lugar e, tudo era volumoso, no entanto, o que tinha de excesso e beleza no corpo faltava no rosto, espantava até aquilo que não se espanta com nada. Seu noivo (Raimundo) jurara (não a ela, mas diante daquele corpo — escultural —, que o deixava louco de desejo) que seria amor até que a morte os separasse.
De repente, bate o telefone, a criada grita: — é pra senhora.
Raimunda desce correndo, pois aguardava uma ligação de Raimundo. Ofegante, mas com uma voz apaixonada diz: —
— Alô meu amor!
Uma decepção, pois, do outro lado da linha, uma voz estranha e macabra diz rispidamente: —
— Sou eu, Jurema.
Raimunda desmonta no sofá: —
— Jurema? Quanto tempo. Achei que você tinha morrido, está tudo bem com você?
A outra responde: —
— Vou devorando o tempo ou, é o tempo que vai me devorando e, preciso falar contigo agora, urgentemente.
— Comigo?
—Sim contigo. E escuta bem o que vou te dizer, estou aqui embaixo. Não demore. Desça agora.
Raimunda quase desmaia, pois era a ex de Raimundo. Mesmo sôfrega e arquejante, ainda conversa com sua mãe antes de descer.
Esta última diz: —
— Quem era filha?
— A senhora nem imagina mamãe — Jurema —, esta mesma a maldita ex do Raimundo.
A mãe réplica: —
— Aquela chata!
Raimunda entra em seu quarto e, troca de roupa, dá uma ajeitada nos cabelos e desce as escadas de seu apartamento. Rapidamente, avista sua pedra, que sempre esteve em seu caminho. Mas, ainda tem força pra dizer: —
— Bom dia, você está bem? Jurema.
Jurema sorri com dificuldade e começa:
— Eu soube que, você mesma sendo feia como o cão acaba de ficar noiva de Raimundo, vamos responde. É verdade?
Raimunda toma fôlego, levanta os olhos e empina o nariz dizendo: — —Posso não ser bonita de rosto, porém, meu corpo, é de parar o trânsito já o seu, é um corpo mole, flácido, sua barriga cai por sobre as calças...
Jurema invejava o corpo de Raimunda, mas, não se deixou abater e, foi dizendo: —
— Minha barriga qualquer cirurgião resolve, já sua cara. Só milagre. Mas, o que eu quero lhe entregar é que, vou ter um filho de seu noivo e é batata.
Raimunda balbucia com esgar de choro: —
— De Raimundo? Não pode ser.
Com um sorriso macabro, Jurema desaparece virando a esquina dizendo, este casamento não sai nem a pau Juvenal.
Em casa, Raimunda joga-se nos braços da mãe com um choro agudo e sofredor. A velha sebosa corre e liga pra Raimundo. O susto foi o diabo para o rapaz, mas como um relâmpago que sai do oriente e vai para o ocidente, o rapaz já estava diante das duas. Ele recebeu uma enxurrada de cobranças e acusações. As duas diziam ao mesmo tempo: —
— Houve isso, assim, assim. É verdade? Fala seu asno?
O rapaz meio assustado se defendeu: —
— Filho meu? Meuzinho? Disse que era meu? Meu uma ova, este filho é de outro ordinário, pois, eu tive caxumba! E, a maldita desceu!
Raimunda chorando ajoelhou-se dizendo: —
— Com ou sem caxumba, com ou sem filho eu, caso de qualquer jeito e digo mais, se eu não me casar, me mato!
#JoãoCarreiraPoeta. — 21/03/2020 — 24h
Comentários
Que apelação vergonhosa! Torcendo pela Raimunda.
Em Mogi Mirim havia uma jovem, quando eu também era jovem, que a chamavam de Raimunda por ter as mesmas características da personagem do seu conto.
Não teve como não lembrar dela.
Que bom que você gostou e torceu pela Raimunda. Em tempo, seu rosto não tem nada a ver com o dela kkkkkkkkk!
#JoãoCarreiraPoeta.