Sonho do Primeiro Carro — Segunda Parte
Quem não teve este sonho, que atire a primeira pedra. Sonhar com o primeiro carro, é como sonhar com o primeiro beijo na boca, é como sonhar com a primeira transa. Novamente, não era no tempo do rei, mas era setembro de 1976 eu estava tirando minha primeira habilitação. Indubitavelmente, eu queria comprar meu primeiro carro. E, foi assim que, um fusca verde oliva atravessou meu caminho e, me ajudou a passar de primeira, no exame de autoescola (prova de fogo).
Não foi amor à primeira vista, no entanto, este sentimento foi crescendo, crescendo e se tornou muito forte, em cinco dias eu estava apaixonado. 1962, era o seu ano de fabricação; era um fusquinha 1200, 12 volts, sua potência era fraca sim, mas, tinha uma cor inesquecível, um verde de dar água na boca, tinha hora que parecia azeitona, ao mesmo tempo parecia folha verde, cor de laranja esverdeada; seus bancos eram pretos e intocáveis, seus para-choques eram diferentes dos de hoje, tinha canos metálicos curvados com desenhos arquitetônicos, o duro era a capota, todinha amarelada de ferrugem com algumas bolas azuladas (desbotadas), mas, bastava um retoque pra ficar zerinho novamente. Este carro era do meu chefe - Adamastor, (contador de uma construtora civil) eu, sendo seu auxiliar, conhecia toda a história do "Azeitona", carro zero tirado da loja, único dono, baixíssima quilometragem super conservado, a capota era apenas um detalhe.
A capota não tirava (bastava lixar e pintar) minha paixão por este "Azeitona" verde oliva, ela nasceu há poucos meses atrás, foi quando cinco dias antes do meu exame de autoescola, pratiquei percurso, baliza e garagem e, foi praticando nele que o amei pela primeira vez. Quis comprá-lo, porém, Adamastor não quis vendê-lo alegando que acabara de tirar da loja um opala comodoro cor de "ovo" e que, o fusquinha ficaria pra sua esposa.
O desejo de ter um carro pela primeira vez era tão grande e, a paixão pelo "Azeitona" gigantesca, bem maior que o primeiro beijo na boca (dado aos quinze anos), bem maior que a primeira transa dada aos dezesseis (será que seria maior que esta última mesmo?). Alguns meses se passaram e, fui chamado pra ser contador de outra construtora e lá, num certo dia, de repente, bate o telefone, era Adamastor, como sempre deu um grito ao telefone.
— Carreira bom dia, preciso de sua ajuda pra fechar cinco anos de contabilidade (atrasada) e me dar o balanço de uma empresa, quantas pratas você me cobra?
Respondi, Adamastor preciso avaliar o movimento da empresa. Marcamos um dia, fiz a avaliação e dei o preço. Meu ex-chefe era um italiano alto, gordo avermelhado, falava muito forte (sangue de italiano) e gostava de cantar e tocar violão. Recebendo o preço ele responde:
— Carreira como posso pagar essa fortuna? Estou comprando um novo carro pra minha esposa (outro fusquinha vermelho ano 1968, "mosca branca"), pode entrar um carro no negócio?
Quando ouvi essa fala gritada de Adamastor eu emudeci por alguns segundos e, nesses segundos passou dezenas de coisas pela minha mente, uma delas, seria o "Azeitona"? Adamastor dá outro grito na outra ponta da linha e me tira do devaneio.
— Vamos homem. Responde!
Eu fiquei muito emocionado e balbuciei, que carro é esse, é seu comodoro?
Decerto que não. Carreira é o carro dos seus sonhos e que, você o chama de "Azeitona".
#JoãoCarreiraPoeta — 01/04/2020 — 11h
Comentários
Merecido destaque. Parabéns!
Eu me sinto no dever de agradecer.
Um forte abraço poético. Bjus.
#JoãoCarreiraPoeta.
Belíssima crônica.Uma leitura agradável.
Parabéns, João!
DESTACADO
Um abraço
Obrigado amada diva e poetisa Marcia.
#JoãoCarreiraPoeta.
Bela crônica em valioso tema.
Meu primeiro carro foi um fuska azul que meu estimado Pai que já viajou me deu de presente para ir a Faculdade depois do trabalho.
As prestações ficaram por minha conta .
Eu tinha 19 anos.
Parabéns por sua escrita de valores e reflexões
Abraços
Obrigado poeta Antonio, eu devia ter 21 aninhos. O "Azeitona" tem muitas "história". Acho que vou rascunhar uma terceira parte kkkkk.
#JoãoCarreiraPoeta.