Sonho do Primeiro Carro — Primeira Parte
Amigos, aí é que está: —Hoje após minha meditação matinal, me veio à memória a história do meu primeiro carro, veio-me também, à minha mente, a imagem do meu sofrido exame de autoescola e a quase realização da compra do meu primeiro carro. E aqui pergunto: — Qual foi, ou qual é o homem que nunca sonhou em ter um carro novo ou usado?
Quando comprei meu primeiro carro? O mês da compra, não me recordo, nem o dia tampouco, mas o ano acho que foi em 1976 ou foi em 1977? Deve ter sido em 1978. Naquela época, eu trabalhava numa empresa de construção civil como sub contador e, o meu chefe tinha comprado recentemente, um "carrão" zero quilômetro amarelo "ovo", um lindo opala comodoro, ele também tinha um fusquinha verde oliva 1200, ano 1962, seu teto estava todo desbotado, meio esverdeado (sua cor de origem), meio azulado com tom amarelado pela ferrugem, mas o resto da pintura e do carro estava impecável. Naquele mês, eu e algumas amigas de trabalho (inclusive a esposa do meu chefe) estávamos praticando na autoescola "Caravela" pra tirar nossa tão sonhada carteira de habilitação (CNH).
A preocupação era geral, pois, as aulas eram poucas e caras, isto, agitava nossos corações e também nossos bolsos, mas nesse caso, nossa agitação não era tanto pelo dinheiro, mas sim, pelo medo de fazer o exame e ser reprovado. Mas eis que de repente, meu chefe (sabendo que eu ia tirar carta) diz-me que, todas as tardes daquela semana nós (eu e ele) iríamos praticar em seu fusquinha verde oliva, pois, sua esposa já tinha sido reprovada várias vezes, isso, segundo ele, me ajudaria a não reprovar tanto ou, até (quem sabe) passar direto no exame. Eu fiquei muito agradecido, pois, a gente mal se conhecia e ele prestou-me tal ajuda. Aquela semana passou rápido como um raio, passou "vuando", praticamos os cinco dias úteis de sua composição com isso, eu, me encantava mais e mais com o fusquinha desbotado de meu chefe. No sábado seria a prova — fatídica — e, este dia não vou esquecer jamais, pois, aquele sábado amanheceu nublado, escuro com cara de chuvarada. Isso fez com que aumentasse a ansiedade gostosa que havia dentro do meu peito e agora já não tão gostosa assim, no entanto, passando na prova eu estaria apto a dirigir e, poderia comprar meu primeiro carro, porém, começou a chover. Cheguei ao local da prova e logo a seguir meu nome foi chamado. Entrei no carro (um fusca branco ano 1972), muito tenso dei partida, quando fui por primeira marcha, meu pé esquerdo (o da embreagem) não tremia, ele trepidava, minhas mãos estavam frias, suadas, minha camisa ensopada, a calça parecia que eu tinha me mijado todo e, pra complicar meu desespero, começou a chuviscar forte, na minha frente tinha duas senhoras, a primeira, estava atropelando a baliza, subindo na calçada e, descendo do carro foi reprovada pelo delegado, a segunda vendo toda aquela tragédia entra em crise, o carro morre, mais uma reprovação. A partir daquele instante, eu não vi mais nada a não ser a baliza e a garagem, meu pé esquerdo só parou de tremer quando desci do carro e ouvi meu instrutor dizer: -
— Joããããão, você está aprovaaaado! Fique calmo que o pior já passou e, você fez uma boa baliza e uma ótima garagem (hoje não tem mais esta última modalidade) você tocou perfeitamente os dois pneus traseiros na sarjeta e, não subiu na calçada.
Eu estava todo esbodegado, porém, ainda tinha mais um desafio, o exame de percurso, nisso volta novamente, meu instrutor dizendo em tom de gracejo: —
— Estás preparado Joããããão? Agora vamos fazer a prova de percurso. Relaxe.
O percurso foi tranquilo, éramos em cinco, eu fui o primeiro, entrei sentando no carro (não coloquei o cinto e, não perdi pontos por isso) dei partida, coloquei a primeira marcha, depois a segunda e percorri mais ou menos trezentos metros, dando seta virei à esquerda, fazendo o retorno, o delegado mandou encostar dizendo — cai fora!
Fui aprovado!
Se eu estava feliz? Decerto que sim. Eu estava feliz da vida e, mesmo molhado (como um pinto) comecei a pensar no meu verde oliva, o meu primeiro carro? Quem sabe. Naquela noite eu não consegui dormir, pois, as imagens do exame, a chuva, as mulheres sendo reprovadas, eu todo molhado, mesmo assim, eu não parava de pensar no meu verde oliva.
Passei o final de semana pensando no meu primeiro carro de capota desbotada e enferrujada, e não via a hora de chegar segunda feira pra fazer uma pergunta pra meu chefe: — será que ele me venderia o carro? Cheguei mais cedo ao trabalho, de repente meu chefe chega também. Depois de três horas de serviço desconcentrado, tomei coragem e fiz a pergunta. Ele pensou um pouco e meio que constrangido disse: —
— João, infelizmente, meu carro não está à venda, pois vou deixá-lo pra minha esposa que acaba (depois de muitas reprovações) de passar no exame.
Muito triste, quase desolado e sem o verde oliva desbotado, eu continuei indo de ônibus pra minha casa por um bom tempo.
#JoãoCarreiraPoeta — 02/03/2020 — 12h
Comentários
Eu tinha muito desejo de ter um carro.
Eu o consegui antes de tirar a carta. Só poderia com 18 anos completos.
Bonita crônica.
Bom dia minha doce fuliã e meiga poetisa: —
Hoje é o ultimo dia aproveita, enquanto isso, eu descanso, leio, escrevo e bebo dez copos de água kkkkkkkkkkkkk.
Gratidão sempre.
#JoãoCarreiraPoeta.
ADORO o seu humor. Eu preciso beber 4 litros. Não consigo.
Óooo meu amor eu devo ter um humor meio ácido mesmo, como escrevia Nelson Rodrigues: "É a vida como ela é".
#JoãoCarreiraPoeta.
Ola, escritor. Reviver memorias e fatos aue marcam nossa vida é sempre bom para podermos compartilhar reavivar esses bons momentos. Grande abraço
O primeiro carro, o primeiro beijo, o primeiro amor, enfim, tem tantas coisas que marcam nossas vidas.
Obrigado.