Domingo de páscoa

Domingo de páscoa (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

 

                O sol nasceu entre nuvens, pois o período de outono está na medida certa. Os pássaros acordaram mais alegres, pois os dois últimos dias foram tristes, foram lúgubres para a natureza e principalmente para a comunidade cristã. Está finalizando o ciclo da treva, da quaresma, da semana santa e da tristeza. Cristo, então, ressuscitou e vive novamente entre cada um.

                Então, Dona Judite acorda no cantar dos pássaros. Vai ao banheiro, toma o banho matinal. Rapidamente, coa o café e come algumas bolachas encontradas no pequeno pote. Abre a geladeira e lá está a sobra do doce de leite e do arroz doce, que foram feitos, por ela mesma, na manhã de sexta-feira da Paixão. Não come, mas a vontade é de dar a pequena beliscada. Lembra ela que está com alguns exames de saúde alterados. Fecha porta da geladeira e se dirige ao banheiro para escovar os dentes. Para por alguns instantes. Anda novamente, mas o instinto a faz retornar. Não se conforma, mas pega o pequeno pires e busca repentinamente a colher na gaveta do armário. Está fácil. Uma, duas, três, quatro... Desta forma, enche a vasilha. Com o cabo da colher, parte duas fatias de queijo mineiro, bem fresquinho. Puxa a cadeira e lá se delicia com a guloseima feita por ela mesma e sobrada da sexta-feira santa. Come lentamente como se estivesse apreciando o sabor amável e carinhoso. Lembra da frase dita pela filha de que ela deveria fazer regime, mas não a obedeceria porque é festa, é domingo de páscoa, dia da ressurreição de Cristo. Assim, permanece ela por alguns minutos até rapar, com a colher, toda a sobra que se encontrava no pires. Lambe os beijos com a língua e pronuncia bem suave, como se fosse falar ao pé do ouvido do falecido marido, que o doce estava ótimo, muito gostoso.

                O alarme do celular desperta com a música que ela mais gosta. É música sertaneja e de muito sucesso. Levanta ela da cadeira ligeira, pois a poucos minutos o padre João iniciará a missa. Ela tem que chegar mais cedo para se compor junto ao coral, onde faz parte. Faz a higiene bucal e em alguns minutos já está vestida com o uniforme musical. Vá à estante de livros e pega a pasta com as partituras musicais. Hoje, o repertório é composto por músicas mais alegres, mais animadas para esquecer os dilemas dos dias anteriores. Não se esquece da bolsa, que é colocada sobre o ombro esquerdo. A casa já está fechada. Confere se o fogão está desligado e ouve a voz da vizinha Aparecida, que a chama no portão dizendo que elas estão atrasadas. Diz que “já vou, já estou indo, aguarde”.

                Surge, então, no portão e saúda a vizinha e ambas começam a conversar. Saem as duas de braços dados. Um pouco mais atrás, vem o Pedro, acompanhado da esposa e da neta. Os três também fazem parte do coral. As duas os aguardam e seguem juntos até à igreja.

                Assim que chegam, o padre aguarda os fiéis na porta da igreja e deseja “feliz páscoa” a todos. Na praça da Sé, alguns populares estão finalizando a montagem do boneco “Judas”, que será queimado em comemoração ao domingo de páscoa.

 

 

                 

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José Carlos de Bom Sucesso

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Comentários

  • Lindooo!!

    Aplaudo!

  • Parabéns, José pelo belo texto! #JoaoCarreiraPoeta.

  •  

     Parabéns! Feliz Páscoa!

  • Boa noite, escritor. O momento de Páscoa sendo enredado num cotidiano ganha o destaque de humildade e humanidade. Feliz Páscoa.

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