História de Encantar

 

Amigos/as:

 

Estamos prestes a entrar no último dia de Novembro, isto é, muito em breve estaremos no encantado mês de Natal e porque, apesar dos meus mais de sessenta anos, continuo a adorar a magia do Natal, aqui vos deixo um convite para que também todos vós se deixem seduzir pelo encanto de tao linda quadra, principalmente porque se trata de uma quadra dedicada à família.

 

História de Encantar

 

Era uma vez um homem que vivia sozinho, todos diziam que ele tinha muito mau feitio.

Lá na aldeia onde ele morava ninguém gostava dele, mas a verdade é que também ninguém sabia dizer porquê.  Não se lhe conheciam amigos ou parentes.

Um dia, foi morar para aquela aldeia um casal que tinha um filho ainda criança, a sua casa ficava mesmo em frente da casa do tal homem.

Passados alguns dias de se terem mudado, o menino, perguntou á mãe:

- Mãe, quem mora naquela casa?

- Não sei filho, mas ali na mercearia disseram-me que é um homem muito mau.

O Pai que ouvia a conversa apressou-se a acrescentar:

- É verdade filho, também já ouvi, no café, dizerem que se trata de uma pessoa com muito mau feitio e que a sua casa é muito medonha, dizem que parece assombrada. Não te aproximes muito.

Os pais não conheciam bem o filho que tinham, quanto mais o tentavam assustar, mais despertavam a sua curiosidade. Os dias foram passando e o pequeno foi elaborando um plano.

- Bom dia.

- Olá meu menino, bom dia, quem és tu? Queres alguma coisa?

Afinal o homem não lhe parecia assim tão mau como diziam, até parecia ser bem-educado.

- Eu sou o Lourenço, moro na casa em frente, a minha mãe mandou-me pedir-lhe um pouco de sal. Pode emprestar-nos? A mercearia já está fechada.

- Claro que posso, entra, entra.

O garoto ficou sem saber como reagir, então e se o homem fosse mesmo mau e lhe quisesse fazer mal, este, vendo a hesitação do miúdo, disse-lhe:

- Já sei, tens medo de mim, já deves ter ouvido mil histórias a meu respeito. Tudo bem, espera aí, vou buscar o sal.

Deu dois passos quando ouviu o garoto.

- Não é preciso, deixe estar. Posso entrar?

- Claro que podes entrar, mas afinal queres o sal ou não?

- Não, eu inventei a história do sal, tinha curiosidade de o conhecer.

- Pois é, tinhas curiosidade e agora tens medo. Não é?

- É, sim senhor.

-Pois bem, podes fazer duas coisas, ou entras e mostro-te a minha casa ou vais-te embora.

O jovem ousou entrar e ia caindo de espanto, nunca vira uma casa tão bonita, afinal a história da casa medonha era mentira, se calhar como tudo o resto.

- Estás admirado não estás? Eu sei que toda a gente da aldeia pensa que tenho uma casa terrivelmente feia, Anda, vem daí comigo.

O espanto do jovem crescia á medida que ia descobrindo novas salas e quartos, mas nada comparado quando viu o lindo jardim interior, aí sim ficou de boca aberta.

- Mas porque é que o senhor, com uma casa tão bonita, vive assim sozinho?

- Senta-te aí, vou contar-te uma pequena história.

O homem começou a contar, ao jovem, os motivos que o tinham levado a tomar a decisão de viver isolado do mundo. As horas foram passando sem que eles dessem por isso, e só quando ouviram umas pancadas na porta é que voltaram a terra.

- Quem é?

- Abra a porta imediatamente, sabemos que o nosso filho está aí dentro.

- Os meus pais? Que horas são?

- É muito tarde, perdemos a noção do tempo.

- Não se preocupe, eu explico-lhes tudo.

- Não irão acreditar em ti, toda a aldeia me teme.

- Deixe isso comigo.

O jovem avançou decidido para a porta, abriu-a e deu de caras com quase toda a aldeia, ouviu o gentio proferir insultos ao dono da casa e não se conteve:

- Muito bem, vós todos que se armaram em heróis para me vir salvar das garras do malfeitor, escutai com atenção o que vos quero contar, e não duvidem do que vos vou dizer, posso ser uma criança, mas talvez seja essa a minha grande virtude, não ter, nos meus treze anos, a maldade que vós tendes acumulado ao longo da vossa vida.

Este homem, a quem vós insultais, é um homem muito mais digno que muitos de vós, não vos culpo por não terem metade da cultura dele mas sim por fazerem juízos sem conhecerem a realidade. Vão todos para casa e depois do jantar juntemo-nos no adro da igreja, em redor do madeiro de Natal, e eu vos contarei a história de coragem deste a quem tanto tendes desprezado e até ofendido. Agora ide todos.

O jovem abraçou o seu anfitrião e chamou os pais, estes pediram licença e entraram, sendo convidados a sentar-se. A verdade é que também eles estavam espantados com a beleza da casa.

- Enquanto o vosso filho vos conta a minha história, eu vou preparar qualquer coisa para comermos.

- Deixe estar sr…

- Guilherme, desculpem eu nem me apresentei, Agora sentem-se e ouçam o vosso filho.

O homem retirou-se e o pequeno Lourenço contou-lhes que Guilherme escolhera viver assim depois da sua esposa e o seu filho terem sido assassinados na grande cidade onde viviam. Tratava-se de um famoso escritor de romances e ali poderia viver em paz e dedicar-se a escrever livros que nunca mais editara. Os pais do garoto sentiam-se envergonhados, Comeram, conversaram e antes de sair perguntaram a Guilherme:

- Mas se nunca tinha querido que a aldeia soubesse da sua história, porque resolveu contá-la agora?

- Eu não resolvi contá-la, foi a pureza de uma criança que a descobriu. Ainda por cima uma criança com a mesma idade que o meu Tiago teria se fosse vivo.

- Sim, mas podia escondê-la do resto a aldeia.

- Eu não tinha o direito de recusar o pedido do vosso filho para que partilhasse o Natal com todos vós. Não, depois de ele ter acreditado em mim.

Lá se dirigiram para o adro da igreja, onde Lourenço voltou a contar a história de Guilherme, a população sentiu-se envergonhada e pediu desculpas ao homem.

- Eu não vos censuro, e para vos provar isso vou providenciar no sentido de publicar os livros que escrevi desde que cá cheguei, sob o nome de Tiago Lourenço. Feliz Natal para todos.

 

Moral:

"Nunca julgues alguém só pelo que falam desse alguém"

 

 

Francis D’Homem Martinho

29/11/2019

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