INSTANTES DA VIDA REAL
Eu tinha quinze anos de idade, se tanto. Perto de minha casa morava uma linda moça que no fim da tarde passava rente a mim quando vinha de seu trabalho. Era lindíssima, de corpo esguio, cabelos loiros e dois maravilhosos olhos azuis que se contrastavam com sua tez alva, quais duas estrelas cintilantes encravadas no universo de seu rosto inatingível para mim.
Eu a amara, mas fora um amor platônico, onde a idealização e a ausência de desejo físico, dão azo a uma conexão profunda e espiritual, onde a admiração e o respeito pela pessoa amada são mais importantes do que a atração física, embora, na época eu não soubesse disso.
Digna de ser a musa inspiradora do mais terno dos amores buscara, numa tarde cinzenta e fria, esconder do mundo a desilusão que dilacerara seu coração franco e leal... Suicidara-se... Seu sentimento puro, o amor verdadeiro, embora proibido, que doava, fora desprezado pelo orgulho insensato e sua simplicidade d’alma foram achincalhadas pelo egoísmo pervertido e ingrato.
Então, entristecido, com o peito opresso, sem ainda entender direito os dramas morais e as derrocadas do espírito em sua caminhada na busca da perfeição, escrevi meu primeiro soneto, que publico pela primeira vez, da forma como foi escrito:
Era mocinha fagueira,
a linda Ritinha que um dia
deitada junto da esteira,
mil riquezas pressentia!
Amor?! No fundo besteira!
Dinheiro no banco dizia,
é paixão pra vida inteira,
casamento em que se fia!
Nunca mais eu vi Ritinha,
até ontem de tardinha,
quando vinha o rabecão!
Era a moça sonhadora
que com veneno se fora,
sozinha na solidão!
Comentários
Olá, Nelson. Enredo tristonho e sombrio que o destino trouxe ao poeta. Saudações a tua sensibilidade e arte. Abraços