Mar sem poesia
E vaga pelo mar, protegida,
Imensa barca flutuante
A segregar uma gente errante -
Centenas de seres humanos,
De outras terras nativos,
Que nela se alojam, cativos,
Em cabines desgraciosas.
São as “Vozes da África”, de novo,
De um refugiado povo...
E, como nos reclamos,
Do nosso poeta libertário,
Também, atordoado, exclamo:
- Deus nalguma estrela se escondeu?
E a nau balança, do mar aos desníveis...
Na noite escura como o breu.
São muralhas instransponíveis
A conter gentes indesejadas,
Indocumentadas,
Em planilhas policiais identificadas...
O mar profundo não é alternativa -
Nem isso – são janelas gradeadas
Ou então são só escotilhas
Aonde o sol lá fora não brilha.
Não transitam, nos passadiços,
Turistas de cruzeiro, de variada idade,
E sim guardas irritadiços,
A serviço de Sua Majestade.
E a barca de seres cativos,
De outros povos nativos,
Trilha o mar que, tão tristonho
(Pois desse mister não se orgulha),
Se faz calmo, não marulha
E nem se faz maresia,
No mar sem ondas, sem poesia...
23/07/2023
pedro avellar
Comentários
Maravilhosa poesia!!!
Parabéns, Pedro!
DESTACADO
Um abraço
Muito obrigado, Márcia.
Sublime poesia. Parabens!