Menino rico, Menino pobre
Marco era o menino mais rico de todo o bairro. Era tão rico, tão rico, que até nem brincava com os outros meninos que moravam perto de si, não porque ele rejeitasse tal ideia, mas sim porque sua mãe não o permitia. Sempre que algum dos outros meninos o abordava na rua, a resposta, contra sua vontade, surgia imediatamente da boca de sua mãe:
- O menino acha que tem brinquedos em condições de poder brincar com o meu filho?
Marco, não ousava enfrentar a mãe, embora a sua vontade fosse responder:
– Boa, vamos brincar.
Certo dia, a mãe de Marco faleceu num acidente de automóvel e a vida do menino deu uma volta completa. O pai, homem de grande cultura e com um coração do tamanho do mundo, resolveu ser a hora certa para mudar a forma como a esposa, também ela oriunda de gente pobre do bairro, conduzira a educação do filho. O pai de Marco nunca concordara com o afastamento que a esposa impunha ao filho, relativamente aos outros meninos do bairro, mas também nunca tivera a coragem suficiente para lhe fazer frente.
Foi só após a morte da progenitora que o menino passou a frequentar a casa da avó materna. Outra das decisões do pai, foi colocar o menino no infantário do bairro. Não queria que o filho continuasse a viver alheado da realidade.
No primeiro dia, Marco, não se sentia à vontade, embora já conhecesse muitos daqueles meninos, não tinha confiança com eles, pelo que se foi sentar a um canto da sala. Então, um dos meninos do bairro, veio ter com ele e perguntou-lhe:
- Queres brincar com a gente?
- Eu gostava, mas se calhar vocês não querem.
- Claro que queremos.
- Mas eu nunca quis brincar com vocês.
- Deixa lá isso. Agora és mais pobre que a gente.
- Mais pobre que vocês! Porquê?
- Porque nós temos mãe e tu não.
- Ah, pois é verdade.
Lá foram todos brincar à apanhada, esquecendo, como só as crianças sabem esquecer, coisas do passado.
Moral: “Tivéssemos nós, sempre, a pureza das crianças e não haveria ódio no mundo.”
Francis Raposo Ferreira
05/01/2019
Comentários
Infelizmente nós crescemos e a pureza se perde na correria do mundo adulto. Belíssimo texto! Parabéns!