Mensagem na botelha

Mensagem na botelha

J. A. Medeiros da Luz

Como posso, Deus meu, numa só lauda,
De versos decassílabos, se tanto,
Agradecer a dádiva esplêndida
Que me há ofertado azo a que possa
Ver maravilhas mil e mil encantos
Pelas bordas dos ásperos caminhos?
Que tem me extasiado com frequência,
No levantar do sol, no fim do dia,
No negrume da noite estrelada,
Aqui, nesta ilha náufraga que habito.
Dádiva portentosa a que chamam,
Num misto de ternura e medo: vida!

 

Ouro Preto, 26 de fevereiro de 2022.

[Do livro Seixos ao sol, a sair pela Jornada Lúcida Editora, em 2022]
[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br ou jaurelioluz@yahoo.com © J. A. M. Luz]

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J. A. M. da Luz

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Comentários

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    • Obrigado, cara Margarida; sem dúvida o privilégio de viver — e de saber que se vive — é uma senhora dádiva. E não são coisas como dorezinhas nas articulações é que vão embotar o colorido da paisagem! Abraço; j. a.

  • Sensacional! Parabéns J.A.!

    • Cara Angélica:

      Agradecido pela leitura e palavras gentis. Como coloquei a nossa amiga Mancebo (implicitamente), o agradecer é mais valoroso que o pedir, quando o reconhecimento não se trate de preparação de terreno para facilitação de eventuais futuras requisições... A gratidão genuína, nos faz sentir no peito aquela reverberação da sensação de que fazemos parte de um todo imenso e harmonial. Assim como a chamada dialética marxista coloca, de que o todo é maior que a soma das partes, também assim o coloca Santo Agostinho, em suas Confissões, livro basilar da cristandade no apagar de luzes do mundo latino. Textualmente: 

      "Um corpo, formado de membros, todos belos, é muito mais bonito que cada um desses membros cuja harmoniosa organização forma o conjunto, embora, considerados à parte, também eles tenham sua beleza própria" (Agostinus, Aurelius.Confissões, 398 d. C.).

      A expressão da gratidão nos suscita, pois, essa sensação de comunhão universal, evidenciando que o todo é maior que a soma (algébrica) das parcelas. E como não sentir gratidão à vida, como mostra (com poesia exuberante) a canção de Violeta Parra, "Gracias a la vida"?

      E, em face dessa plenitude, que importa, pois, que nos sintamos, por vezes, Robinsons Crusoés, insulados em nossas ilhotas pessoais, impelidos a despachar mensagens engarrafadas, à mercê das correntes marítimas?

      Abraço; j. a.

  • Belos versos!!!!

    Parabéns.

    Um abraço

    • Cara Márcia Mancebo:

      Obrigado pela visita e comentário. Não sendo propriamente sujeito formalmente aderente a religiões, no entanto em meu embornal de valores, adquiridos e consolidados no viver, trago uma admiração pela filosofia cristã, no que ela tem de desprendimento e empatia pelo semelhante (e aí, em semelhante, incluindo o conceito franciscano). E nada mais justo, comungando com a abordagem teológica de Baruch de Espinoza (ou não), termos sempre em nosso íntimo uma atitude de agradecimento pelo simples processo de ser. Esse poemazinho tenta expressar esse agradecimento transcendental. Abraço; j. a.

  • Pessoal:

    Um poemeto, tal como o presente, suscitado na antevéspera de mais uma permutação de dígitos do hodômetro pessoal, sem dúvida — estando já a quilometragem avançada em direção a desgaste de bielas, êmbolos e empenos de virabrequim — deve se pautar pela nota do agradecimento, do reconhecimento de que o simples metabolizar já é uma senhora oferenda, um presente mágico, dessa entidade suprarreinante chamada vida. Obviamente, esse foi o Leitmotif do fazimento dele.

    Abraço; j. a.

     

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