Mudança de Página

Mudança de página

 

O ano de 2019 entrou na recta final e, mesmo aqueles como eu, para quem tudo não passa de uma simples mudança de página no calendário, pois, como dizia uma amiga minha, que diferença me faz se aquela muda de dezembro para janeiro ou de abril para maio, pois se, em qualquer uma das circunstancias, se eu morresse hoje ou em maio, morreria sempre com a idade que tenho hoje, além de não ser por se mudar a página do calendário que a humanidade passará a ser mais humana, mas, como dizia, mesmo os que pensam como eu, não hesitam em olhar para este ano que se prepara para dar lugar a outro e fazer, por muito sucinto que seja, um balanço do que o ano de 2019 nos deixa para reflexão, pois só através da mesma é que tal balanço poderá fazer sentido, ainda que mal entremos em 2020, a maioria, se apronte a cometer os mesmos erros, as mesmas canalhices para o seu semelhante e os mesmos atentados contra a dignidade humana, seja em nome da religião, da inveja, do ciúme ou pelo simples prazer de provocarem dor e sofrimento nos outros.

Ao olharmos para trás, seja quem for e em que momento seja, nunca nos poderemos esquecer que para podermos fazer um balanço honesto e minimamente credível, independentemente do período que desejemos analisar, seja ele muito curto ou tão comprido como um ano inteiro, teremos de nos saber guiar, sempre, por indicadores que sirvam de base de apoio, sólida, a esse mesmo balanço, e que terão, inevitavelmente, de variar de pessoa para pessoa, o que não significa que não existam alguns que terão de ser comuns a todos nós, nomeadamente o social, familiar e pessoal, sendo que nalguns casos ainda teremos de considerar o profissional.

Não me cabe a mim, como não caberá a mais ninguém que o próprio, analisar o ano de cada um dos outros com quem me vi na obrigação, a qual por vezes também é satisfação,  de interagir ao longo de 2019, pois se há assuntos que podem ganhar maior ou menor relevância na vida de cada um de nós, a verdade é que além de essa relevância depender da forma como enfrentamos cada uma das situações com que somos confrontados, ela também depende da proximidade a que nos situamos dessas mesmas situações, pois, por exemplo, os problemas de saúde com que um familiar nosso se possa ver confrontado, principalmente se muito próximo, é susceptível de nos afectar a nós do que a alguém de fora, por mais amigo nosso que seja, o que não significa que os verdadeiros amigos, não sofram, também eles, com as pedras da vida que nos vão magoando, não os dedos dos pés, mas sim o espirito.

Posto isto, e porque quanto ao futuro, somente podemos fazer projectos, alimentar sonhos, expressar desejos, mas nunca ter certezas, quero dizer-vos que de 2019 guardo muitas coisas que se passaram ao longo desses 365 dias, umas boas, outras não tão boas, outras mesmo muito más. Ao contrário do que é costume dizer, penso que as coisas más não são para esquecer, pura e simplesmente não são para andarem sempre presentes no nosso dia-a-dia, mas esquecê-las não, pois, muitas das vezes, é nessas mesmas coisas más que tivemos as maiores lições de vida, as maiores provas de amor e amizade, já que nos momentos bons, também ao contrário do que deveria ser, há muita inveja, hipocrisia, falsidade e falta de carácter de muitos que nos tentam enganar, fazendo-nos crer que se precisarmos deles, ali continuarão. Pura ilusão.

O ano de 2019 não foi fácil, umas vezes por culpa própria, outras por circunstâncias várias da vida. Recordo-me de por esta altura de 2018, muitos serem os planos, projectos, sonhos, para o ano seguinte, muito do que teria de vir a ser profundamente alterado em meados de Maio, quando alguém muito próximo, e querido, se viu atirado para uma cama do hospital a lutar entre a vida e a morte, mas com uma recuperação que tem sido uma verdadeira lição sobre a vontade de viver, ainda que a inicio fosse de uma forma quase inconsciente, digna de registo. Tal lição acaba por nem surpreender quem conhece a Dona Glória, pois se há coisa que ela sempre fez questão de afirmar é que gosta muito de viver.

Este episódio, enquadrado no indicador familiar, acabaria por não deixar emergir alguns outros muito mais positivos e que olhados agora a esta distância, ganham ainda mais brilho, pois apesar de terem ficado um pouco ofuscados, continuam bem presentes em todos quantos os vivemos, familiares directos, amigos e companheiros de trabalho, isto é, fazendo com que os tais quatro grandes pilares, Social; Profissional; Familiar e Pessoal,  se tenham unido e constituído a tal sólida base de sustentação que tão preciosa me foi, tal como a minha esposa.

Ao contrário do que se poderia supor é este sentimento de união e apoio, desde familiares a colegas de trabalho, vizinhos, amigos reais e virtuais, que me leva a aqui não citar ninguém, pois poderia correr o risco de me esquecer de mencionar alguém e, isso sim, constituiria grande constrangimento para mim, pois sei, muito bem, como naqueles momentos em que as coisas pareciam não correr de acordo com os meus desejos, projectos e sonhos, me sabia tão bem aparecer um braço amigo a colocar-se sobre o meu ombro e incentivar-me a continuar a seguir em frente.

Repetindo, por esta altura de 2018, a esperança, como se costuma dizer, era que 2019, se não pudesse ser melhor, que ao menos fosse igual. Será que alguém, olhando só para a parte negativa do ano que se apresta para findar, se arriscaria a dizer o mesmo? Claro que não, mas não podemos esquecer que a vida não tem só o lado negativo, por exemplo foi em 2019 que tive o prazer de conduzir a minha filha ao altar, ao mesmo tempo que foi em 2019 que a vi atingir um dos seus grandes sonhos, construir a sua própria casa, assim como foi ainda em 2019 que pude continuar a beneficiar da amizade sincera de muitos, muitos, amigos, tal como foi em 2019 que pude visitar terras que há muito desejava visitar. Foi, ainda em 2019, que vi surgir novas consciências para os crimes que continuamos a cometer toda a humanidade, seja pelos constantes ataques à natureza, seja pela forma como em pleno século XXI, ainda se atenta contra a vida dos mais indefesos, mulheres, crianças, velhos, doentes, marginalizados da sociedade, etc.

Concluindo, não quero que 2020 seja igual, pior, ou melhor, que 2019, quero, somente isso, que me seja permitido continuar a caminhar a vosso lado, cada um de nós com os nossos projectos, sonhos, ideais, rumo àquilo que entendemos ser o melhor para todos nós, sem nunca nos esquecermos de olhar para o lado e termos a certeza que fazemos tudo quanto está ao nosso alcance para que o mundo seja mais humano e menos materialista.

 

Feliz 2020

 

Francis D’Homem Martinho

31/12/2019

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Casa dos Poetas e da Poesia.

Join Casa dos Poetas e da Poesia

Comentários

This reply was deleted.
CPP