No País dos Sonhos

No País dos Sonhos

 

Dinis esfregou os olhos, como que a querer certificar-se que tudo lhe estava a suceder, era mesmo real e não fruto de um qualquer sonho. Voltou a ler a notificação que lhe acabara de ser entregue pelo carteiro, por sinal um carteiro bem esquisito, quase a fazer-lhe lembrar as histórias que lera dos tempos da mala-posta. Efectivamente não se lembrava de alguma vez ter visto um carteiro vestido daquela maneira, e montado num belo cavalo.

Não, não estava a sonhar, o papel enviado desde o longínquo tribunal de um país situado no outro extremo do planeta, não deixava margens para qualquer dúvida, seu pai falecera e, ele, era o legitimo herdeiro de toda a enorme, fortuna que o progenitor acumulara nos anos que ali vivera como emigrante de sucesso.

A notificação, escrita em perfeito Português, o que aliado à estranha figura do carteiro, só serviu para o confundir, ainda mais, era bem clara, o testamento de seu pai só produziria efeitos se ele, Dinis, se apresentasse perante as autoridades de tão distante país no prazo máximo de um mês, caso contrário, tudo reverteria para os cofres do estado daquele distante país.

Dinis não sabia o que fazer à sua vida. Não sabia que língua se falaria nesse estranho país, apesar de a notificação estar escrita num Português perfeito. Não ignorava que tal como seu pai, muitos outros Portugueses tinham emigrado para tão desconhecidas terras, mas duvidava que fossem assim tantos a ponto de o Português ser uma das línguas faladas naquelas terras lá tão longe.

Tinha de arranjar uma solução, não podia perder a oportunidade de, finalmente, poder ter uma vida desafogada, sem ter de andar a contar os tostões todos os dias. Já que seu pai não se importara de o abandonar e ir para tão longe, ao menos que agora tirasse algum proveito do abandono a que se viu sujeito.

Pensou, pensou, pensou e encontrou a solução. Iria convidar a sua prima Renata, a mesma a quem, em crianças, teimava em chamar de Nata, numa alusão ao facto da prima ser bem redondinha de formas., o que deixava a rapariga fora de si. Ah, mas isso era nessa altura, porque depois, ah depois, Renata começara a controlar-se e tornara-se numa esbelta moça, passando a ignorá-lo, o que o deixava enciumado.

Iria acenar-lhe com a fortuna que o pai lhe deixara, sempre queria ver se continuava a não lhe dar a merecida atenção. Ah, isso é que não, pois sabia muito bem como a prima gostava de dinheiro para se poder adornar com tudo o que era do melhor. Talvez até conseguisse que aceitasse namorar com ele. Podia ser um rapaz humilde, mas sabia, muito bem, como o dinheiro transforma as pessoas feias, nas mais bonitas.

Se bem o pensou, melhor o fez. Foi falar com a prima Renata, contou-lhe tudo quanto se estava a passar e viu-a a sorrir-lhe. Tal qual como imaginara, só com o cheiro do dinheiro, até já lhe sorria. Impôs-lhe como condição para a levar com ele, que viajassem como namorados. Estava prestes a ouvir o sim da prima Renata, quando ouviu uma voz a gritar-lhe:

- Oh meu mandrião, estás a pensar ficar o resto do dia na cama e o rebanho a berrar com fome?

Era sempre assim, o pai tinha de o acordar no melhor dos seus sonhos.

 

Francis Raposo Ferreira

12/10/2019

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Casa dos Poetas e da Poesia.

Join Casa dos Poetas e da Poesia

Comentários

  • Sonhar é preciso para não se perder a esperança.

    Aplausos!

  • Final surprendente o que torna um deleite de ler esta  brilhante prosa 

    Parabéns.

    Amigo Francis Ferreira

    abraço

  • Bela composição.

    O dinheiro sim transforma as pessoas.

    Abraço!

This reply was deleted.
CPP