Novos Contos de Natal da Matilde 2019 – 6

 

O Livro do Dinheiro

 

O avô Martinho, como que adivinhando os pensamentos da neta, passou o dia a preparar a história que iria contar a Matilde nessa noite, pelo que assim que a pequenita, logo após o jantar, lhe disse naquele seu jeito meio traquinas, meio ternurento:

- Avô, afinal como era aquele livro do dinheiro que foste dar de presente ao Tio Patinhas? E já agora, quem lhe enviou tal presente?

- Quem lho enviou, não sei, pois não tenho o hábito de andar a mexer nas coisas dos outros e como o presente não era para mim, não tinha nada que ir bisbilhotar.

- Ah, nesse caso, vais-me dizer que também não sabes como era o livro, não é verdade? Bela, o avô é muito espertinho.

- Aí é que estás enganada.

- Sério! Porquê?

- Porque, ao que sei, pelo que me disse o Pai Natal, só há dois exemplares daquele livro, o tal que entreguei ao Tio Patinhas e outro que está comigo desde que o Pai Natal mo ofereceu.

- Sério! Tu tens um livro do dinheiro, mesmo de verdade?

Os olhos da pequenita quase lhe saltam das órbitas. Geralmente leva as histórias do avô, meio a sério, meio a brincar, mas agora, se o avô lhe diz que tem um exemplar do livro do dinheiro, é porque o tem mesmo, pois ele sabe que ela não descansará enquanto não o vir:

- Claro que tenho. Olha ali para a última prateleira da estante da esquerda, lá mesmo no cantinho.

Matilde levanta-se, vai até à estante indicada pelo avô, estica-se toda e lá consegue ler “Livro do Dinheiro”.

- Avô, podemos vê-lo?  Quero dizer, posso vê-lo, pois tu já deves estar farto de o ver.

O Avô levanta-se do seu cadeirão, vai até à estante, retira o livro e volta a sentar-se. Matilde não perde tempo, vindo logo sentar-se no seu colo:

- Como funciona o livro, avô?

O avô Martinho não se lembra de vez alguma ter visto a neta tão crente em alguma das histórias que lhe tem contado, como agora:

- Este livro é um livro mágico.

- Mágico!

- Sim. Todos os dias, aparece uma nota, verdadeira, numa das folhas do livro, umas vezes de um valor, outras de outro qualquer, quase nunca se repetindo em dias seguintes.

- Isso é mesmo mágico. Assim podes ficar muito rico.

- Pois é, só que há uma condição para se poder ficar com o dinheiro do dia.

- Qual é?

- A primeira pessoa a abrir o livro em cada dia, tem o direito a ficar com o dinheiro, mas só se cumprir a única regra que lhe é imposta.

- Qual é, avô?

- Essa pessoa, a primeira a abrir o livro, só tem direito ao dinheiro se abrir o livro na página certa, isto é, naquela onde está a nota.

- E se a pessoa abrir noutra página qualquer?

- Nunca ficará a saber qual era a página onde estava a nota, nem qual o seu valor, pois, por isso é que o livro é mágico, a nota desaparecerá automaticamente ao abrir-se o livro na página errada.

- Avô, não podemos fazer batota?

- Matilde, além de ser uma coisa muito feia, os duendes, ou seja, lá o que for, não se deixam enganar, só quando querem e se for por um bom motivo.

Matilde, mostrando-se ensonada, manifesta vontade de se ir deitar mais cedo que o habitual, algo que não escapa ao olhar atento do avô:

- Está bem, minha netinha, se está assim com tanto soninho, vá lá dar um beijinho à Bela e pode ir para a caminha, quem sabe se assim, amanhã é a primeira a levantar-se e poder ser a primeira a vir abrir o livro mágico do dinheiro.

- Não é nada disso, avô. Acredita, estou mesmo cheia de sono.

Matilde quase nem dorme nessa noite, temendo deixar que o avô se levante primeiro e vá abrir o livro.

 

Francis D’Homem Martinho

06/12/2019

 

 

 

 

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