Novos Contos de Natal da Matilde 2019 – 13

 

Amor Genuino

 

 

Matilde não consegue perceber o que se passou. Não tem ideia alguma de se ter deitado, mas o que é um facto é que está deitadinha na sua quente caminha.

Esfrega os olhos, coça o queixo e constata uma verdade, no dia de ontem, o avô não lhe contou o habitual conto de Natal. Ah, mas isso não é nada que não se possa resolver.

Levanta-se, trata de lavar a cara, pois nem sequer quer estar a demorar-se com um banho mais demorado, logo mais tratará disso, agora é hora de ir ter com o avô e pôr a escrita, o que é o mesmo que dizer, a conversa, em dia:

- Bom dia avô.

- Olá minha dorminhoca. Isso é que é dormir.

- A Bela, não está em casa?

- Não. Querias alguma coisa em especial dela, ou é algo que eu possa resolver?

- Claro que podes, aliás, só tu podes resolver o caso.

- Verdade! Que se passa?

- Ontem, deixaste-me ir deitar sem me contares a minha história de Natal.

- Contar-te uma história, ontem! Com o sono que tinhas, nem uma boa história te manteria acordada.

- Pois, é verdade, mas hoje, para compensar, tens de me contar duas. Como a Bela não está cá, podes contar-me uma enquanto tomo o pequeno-almoço, pois sei muito bem que se ela cá estivesse, te desculpavas com ela e não me contavas história nenhuma.

- Estás completamente enganada. Estava aqui mesmo a pensar em qual história te haveria de contar para compensar a noite de ontem.

- Avô! Tu és cá um espertalhão. Pensas que eu não sei, muito bem, que estavas era a desejar que a Bela chegasse antes de eu descer, para te raspares.

- Sinceramente, eu aqui preocupado e triste por não te ter contado a história e é essa a paga que me dás.

Matilde vai abraçar o avô, pedindo-lhe desculpa:

- Pronto, está bem, reconheço que fui injusta contigo. Qual é a história que tens para me contar?

- É a história de um menino e o seu livro mágico.

- Avô! Outro livro mágico?

- Sim, é verdade, mas este não tem nada a ver com dinheiro ou alguma coisa do género. Quero que a escutes com atenção e depois me digas qual a lição que esta minha história te ensinou. Sabes que eu, de manhã, estou sempre assim mais virado para as lições de moral.

- É verdade, avô, já há algum tempo que não me contas uma dessas tuas histórias com uma grande moral no final. Sabes uma coisa?

- Eu não sei, mas calculo que tu me vais dizer. Não é verdade?

- Claro que sim, tu sabes que eu te digo, sempre, tudo.

- Estou à espera.

- As tuas histórias, sejam elas de Natal, ou não, têm sempre uma moral em comum.

- Sim! E qual é ela?

- Tenho o avô mais querido do mundo, mesmo sabendo que ele nunca ajudou o pai Natal a distribuir prendas, ou que nunca ofereceu livro do dinheiro algum ao Tio Patinhas.

- Oh miúda, acho que ainda estás meio a dormir, ou então estás a delirar com febre.

- Avô, se não te lembrares de história nenhuma para me contares agora, não faz mal, deixa-me só ficar assim no teu colo e encostada ao teu peito.

O avô não consegue evitar que uma lágrima lhe corra face abaixo e se vá depositar na cabecinha da neta.

 

Francis D’Homem Martinho

13/12/2019

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