Novos Contos de Natal da Matilde – 5

Inocência de Criança

Matilde acordou cheia de vontade de fazer uma pergunta ao avô, mas teve de esperar até depois do jantar:
- Avô, aquele teu amigo, o Zé do Telhado, roubava aos ricos para dar aos pobres, verdade?
- Sim. Porquê?
- Ele nunca foi preso?
- Se foi, tantas e tantas vezes. Até foi na prisão que ele conheceu os irmãos Metralha.
- Ele era amigo dos irmãos Metralha? Eles existiram mesmo? Eu pensava que eram simples desenhos animados.
- Ficas a saber que quase todos os personagens dos desenhos animados, são inspirados em pessoas reais. Olha o Tim-Tim por exemplo.
- Avô, que tem o Tim-Tim?
- Então não sabes em que é que o Tim-Tim foi inspirado?
- Não. Tu sabes?
- Claro que sei, foi em mim. Um dia, quando fores lá à Barroca, pergunta aos pais dos teus amigos e vais ver como falo verdade.
- Sério! Não me digas que até tinhas um cão chamado Milú.
- Claro que tinha.
- Que engraçado, já afora, quem é que inspirou o capitão?
- Ah, isso, já não sei.
- Bem, está bem. Mas voltando ao Zé do Telhado, se ele era preso por roubar os poderosos, como conseguias sair da prisão?
- As prisões de antigamente não eram como as de hoje, eram feitas em madeira, o que acontece é que o Zé do Telhado tinha dois grandes amigos, o Pica-Pau e o Speedy Gonzalez, o rato mais veloz do mundo. Assim que sabiam que o Zé do Telhado tinha sido preso, o Pica-Pau começava logo a fazer buracos no telhado e nas paredes da prisão, depois vinha o Speedy Gonzalez e, num instante, roía a madeira de maneira a unir os buracos feitos pelo Pica-Pau e possibilitar que o amigo pudesse fugir, para o que contava com a ajuda dos irmãos Metralha que iam contando histórias ao guarda.
- Oh avô, tu também podias ser um dos irmãos Metralha, pois jeito para inventares histórias, é o que tu tens mais.
- Olha, minha menina, fica sabendo que já contei histórias a gente muito importante.
- Eu sei avô, a avó Bela diz que tu lhe contavas com cada história que ela até ficava na dúvida se seriam verdade ou pura invenção tua.
- Pois, tu e a avó Bela fazem uma boa dupla. Podes não acreditar, mas num ano, pelo Natal, juntei mais de cem pessoas a ouvir a história da minha ceia de Natal com o Pai Natal e o Rodolfo.
- Oh avô, tu tiveste uma ceia com o Pai Natal? E com o Rodolfo? Mas o Rodolfo é uma rena.
- O que é que interessa se é uma rena ou outra coisa qualquer, também tem direito à ceia, ou não? Não foi só uma, foram muitas ceias que fizemos juntos. Tantas noites que eu o andei a ajudar a distribuir as prendas, depois comprou um carro eléctrico e pronto, nunca mais precisou da minha ajuda.
- Se andaste a ajudar o Pai Natal a distribuir as prendas, qual foi a que mais gostaste de distribuir?
- Olha, foi o “Livro do Dinheiro”, ao tio Patinhas.
- O “Livro do Dinheiro” ! Nunca ouvi falar de tal livro.
- Não! Amanhã te contarei a sua história. Agora vamos dormir que se faz tarde.
Nessa noite, Matilde sonhou, de facto com um livro do dinheiro, foi um sonho bastante estranho, pois o livro, no lugar de palavras, tinha notas, as histórias do avô tinham o condão de a fazer sonhar com tudo quanto fosse possível caber na inocência das crianças.

Francis D’Homem Martinho
05/12/2019

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