O candelabro

 
 
Clarice pensou em presentear a Frank com algo inusitado, embora, não fosse com o seu próprio dinheiro.
O candelabro era muito antigo, medieval, e iria cair muito bem ao castelo do amado Frank.
Era a relíquia da casa e, ninguém na cidade ousava sequer perguntar o seu preço, ficava entre quatro vidros blindados, realmente a sete chaves, guarnecidos por moderníssimos alarmes, tal o seu valor histórico e artístico, era totalmente em ouro maciço.
Jafet, gastava uma nota com o seguro daquele cobiçado objeto, apesar de receber uma ajuda escusa da prefeitura da cidade, através de uma dessas leis infames que os caudilhos inventam para benefício próprio...
Cinco assaltantes foram mortos, numa ocasião de apropriá-lo.
Clarice acompanhada do avaro senhor Jafet, para diante do candelabro e o analisa por alguns minutos, enquanto Jafet pergunta-se:
Será que essa donzela vai querer comprar o candelabro, ou, seria um golpe para um eventual assalto?
E, após se recordar daquela imagem, não teve dúvida, sorrateiramente liga ao delegado o qual pessoalmente vem ao estabelecimento, discretamente acompanhado de alguns policiais à paisana, enquanto, uma gerente de vendas, neófita no estabelecimento, tenta distrair a madama etc.
Quando o delegado depara com o velho rosto já muito conhecido por havê-la trancafiada por várias vezes atrás das grades da velha cadeia, fica pálido, e Jafet esmaece também, pois, o próprio delegado, sujeito parrudo e destemido, encontrava-se álgido diante do acontecimento.
- É, a "Bedamerda", Jafet!
Adjetivo criado pelo delegado...
Agora, cai a fixa de Jafet...
- É, mesmo... doutor Mário!
- Sim, mas, o que aconteceu com ela?
Enquanto, os dois conjecturam sobre a misteriosa criatura, que ressurgiu triunfante do nada se ouve aquela voz em alto e bom som:
- Fico com o candelabro!
- Quanto custa, para que eu preencha o cheque?
Jafet se fez acompanhar do delegado, tomando uma posição:
- Dona...
- Clarice, meu senhor...
- Este candelabro custa muito dinheiro... E acho que a senhora não vai querer despender de dessa soma, vai?
Claro que, Jafet estava desconfiadíssimo daquela venda, achando que se tratava de uma armação.
- Sim... Claro que vou, ele irá decorar o meu castelo, meu senhor!
O delegado pasmo, não sabia qual atitude a tomar.
Enquanto, imaginava:
- Castelo?
A essa altura, Clarice já trabalhava veladamente nos bastidores com Frank em sua clínica veterinária.
Preencheu o cheque, entregando-o juntamente com o seu cartão pessoal, e outros documentos de praxe, enquanto, os dois senhores ficavam boquiabertos com tal transformação e, o delegado não se conteve à curiosidade, inquirindo-a:
- Queira-me desculpar, eu sou o delegado aqui da cidade e gostaria de saber:
- A senhora é univitelina (gêmea idêntica)?
- Não sou gêmea idêntica, senhor delegado!
- Dona Clarice, a senhora é daqui da cidade?
- Sim, os senhores, têm memórias curtas, pois, quantas vezes vim aqui e, também fui encaminhada à cadeia pública, quando mendigava o pão pelas calçadas desta cidade...
- Os senhores não se recordam?
- Bem, espero receber a minha lumeeira em tempo hábil, já que faço o pagamento à vista.
O delegado não conformado com o que presenciava, ordenou a ela que o acompanhasse para uma investigação, enquanto, Jafet corria ao banco que ficava ao lado do estabelecimento para confirmar se realmente existia fundos para aquele cheque.
Conquanto, o delegado prepara-se para inquiri-la, eis que toca o telefone, era Jafet, querendo falar urgentemente com Dr. Mário.
- Dr. Mário libere a mulher, ela realmente tem muito dinheiro e o seu cheque tem cobertura para comprar a cidade.
- Mas, quem lhe deu essa informação?
- Meu filho, o gerente do banco, que acaba de fazer um levantamento em sua conta corrente.
Muito desapontado, o delegado pede desculpas a Clarice, dizendo ter havido um pequeno engano, e que ela estava liberada etc.
Só de marra, naquele exato momento de fechar o negócio, entra Dr. Gilberto, um advogado contratado por Clarice a qual finge um desmaio, para envolver o delegado e o comerciante.
Água com açúcar, abanos e afins, fizeram-na voltar ao estado de vigília normal.
- O que houve com a senhora doutora Clarice?
Pergunta-lha o conhecido causídico da cidade.
- Não sei, somente me lembro de ter sido ultrajada pelo doutor delegado e o senhor Jafet, pois, ofenderam-me, chamando-me de impostora...
- O quê?
Exclama o advogado, fazendo o maior suspense.
- Sinto-me, profundamente humilhada por esses senhores!
- Qual o motivo dessa humilhação, doutora Clarice?
Bem, agora o delegado e Jafet, ficam se indagando:
- Que raio de doutora é essa mendiga?
E, o delegado Mário, comete uma grande besteira, indiciando Clarice por falsificação ideológica, pois, jamais imaginava que a antiga mendiga, defendia tese em medicina veterinária, apesar de ter sido moradora de rua, e por ter se entregado às drogas.
O delegado com aquela autoridade policial, intima todos a comparecerem a uma oitiva na cadeia pública, e para lá todos se encaminharam.
Para resumir o assunto, Clarice moveu uma ação contra o delegado, e contra o comerciante, pois, ambos humilharam-na profundamente tempos atrás...
Vingança, quiçá, desforra?
Não se sabe, mas, o que ficou patente foi:
O doutor Mário e o rico Jafet, tiveram de indenizá-la com uma grana violenta, fato que deixou todos daquela cidade boquiabertos.
A matreira Clarice, havia contratado até um jornalista para fabricar aquela matéria, sem que ninguém soubesse nem mesmo o seu amado Frank, que substimava a capacidade mental de sua amante, porém, agora passa a respeitá-la pela sua picardia.
Frank, se apaixona mais ainda por Clarice, uma criatura diferente.
- Quem diria, uma mendiga dando baile em aculturadas pessoas de uma sociedade hipócrita.
 
 
 
 
 


O castelo


Uma mansão de pedra construída por Frank, veterinário de cepa biliardária, que ao conhecer uma mendiga, também veterinária com doutorado e tudo mais, a qual se entregara às drogas, fica simplesmente encantado com aquela criatura e se apaixona pela lúdica mulher de trinta. E um homem apaixonado fica exatamente igual à própria paixão,

fica cego!

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Comentários

  • Ninguém tem o direito de julgar ao outro. Todo ser humano esta sujeito a erros.

    Aplausos!

  • Muito belo conto. As pessoas podem mudar, a vida pode mudar...Que engano, julgaram a moça pelo seu passado...Aplausos mil

    • Grato, querida Norma pelo inteligente comentário.

      Bjs.

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