Ontem em Idaho chovia a cântaros

Ontem em Idaho chovia a cântaros

 J. A. Medeiros da Luz

  

Pouco se nos dá, afinal de contas,

Se ontem em Idaho chovia a cântaros,

E que, por aqui, tenhamos sol, como nos assevera

A descritora do tempo — musa de ébano —, na TV.

Sol que, somando-se ao chuvisco do último domingo,

Há de embelecer as vias com mil flores,

Aqui neste nosso claríssimo hemisfério!

 

Em estando assim, porém, nossa paragem,

Por que irmos cabisbaixos, sem muito riso,

A fazer-se-nos a alma sorumbática?

E nem mesmo conseguimos crer:

Se tão luminoso é tudo aí fora,

Como poderemos não folgar?

 

Quem haveria de se resignar, unicamente,

A sustentar aquele compasso indiferente

Do coração, como se fora apenas losango,

Feliz se o pulsar das arestas for a modo

De nos resguardar de sentir dor,

Enquanto marchamos, resolutos, eretos, rumo

Aos importantíssimos afazeres nossos,

Solenemente ignorando que

Ontem em Idaho chovia a cântaros?

 

 Ouro Preto, 7 de maio de 2020.

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J. A. M. da Luz

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Comentários

  • 3700900452?profile=RESIZE_584x

    • Cara Angélica: 

      Obrigado pela gentileza, inda mais com esses meus poemas meio "fora dos mancais", nesta estranha ampulheta do presente. O discurso poético, com seu transmudar de luzes sobre a realidade áspera, afinal nos ajuda a marchar nossos caminhos, não raro margeados de espinheiros; os quais — suave compensação — por vezes se adornam de florinhas miúdas e belas, a nos fazer lembrar das gentes amigas e amadas — flores olorosas que nos são verdadeiramente a bússola de nosso caminhar.

      Abraço.

      j. a.

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