Ora eu a ouvir estrelas!
J. A. Medeiros da Luz
Fúlgida estrela-cadente
Se afundou no milharal.
Mas de todos dessa gente
Ninguém quis me acompanhar.
Dos que chamei para vermos,
Dizem ser muito normal
Caírem meteoritos,
Que são apenas detritos
Do espaço sideral.
Escavei todo o quintal,
Buscando em todos os ermos
Em baldado esforço ingente...
Quis alguém me sabotar,
Furtando-me cabalmente?
Com o coração contrito,
Suplico aos ladrões medonhos:
Queiram por fim devolver-mos.
Mesmo sendo algo bisonhos
— Meteoritos no ar —,
São, afinal, os meus sonhos.
Ouro Preto, 23 de fevereiro de 2022.
[Do livro Seixos ao sol, a sair pela Jornada Lúcida Editora, em 2022]
[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br ou jaurelioluz@yahoo.com © J. A. M. Luz]
Comentários
Cara Margarida: desculpe-me a trapalhada; fui clicar em "Responder" e acabei clicando em "Eliminar". De qualquer forma, agradeço aqui sua gentil visita e comentário. Abraço.
j. a.
Pessoal:
Este pequeno repto heptassilábico, com rimas algo fora dos mancais, surgiu-me da evocação da mensagem embutida no título daquele poema do velho Olavo Bilac, o seu famoso "Ora (direis) ouvir estrelas!". De fato, aos sonhos, aos desideratos resta, por norma, orar para escaparem do esmagamento pelo rolo compressor, tipo pé de carneiro, chamado realidade; ou, usando o equivalente para um desses sujeitos, sem maiores preocupações filosóficas: vida prática (como se a vida prática não passasse de algo terra-a-terra, de uma sequência de fotogramas desbotados a escoar no tempo).
Devo confessar que houve, também, uma autoinfluência (quase um autoplágio?). No II Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, que o blog Todoprosa (de Sérgio Rodrigues) realizou em 2012, tendo as limitações do Twitter quanto ao número de caracteres. Participei (embora sem ter conta na citada rede) e fui, com boa dose de sorte, agraciado com o terceiro lugar, postando o seguinte microconto:
"Caiu-lhe no quintal densa lasca de estrela de bilhões de anos; recado de oito ou nove planetas explodidos. Um deles, azul, albergara amores".
Quanto ao título do presente poema, deixei propositalmente uma vírgula de fora: "ora" seguido de vírgula é conjunção adversativa; sem ela, seria ora = agora. Deixando sem vírgula surge um aspecto nebuloso e ambivalente, que preferi.
Abraço.
j. a.