Pedagogia Indigente ( Conto)

Pedagogia Indigente ( Conto)

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Pedagogia Indigente ( Conto)

Josephina, 15 anos, o Pai Seu Raimundo Nonato e sua mãe Maria de Jesus, moram numa pequena cidade. Não é uma família comum com mais de 10 irmãos, incomum ela era filha única. Nesta cidade não tem nem Igreja, apenas e graças a Deus uma mini Capela para orações e eventuais velórios. A imagem da irmã Dulce, a primeira Santa do Brasil. A imagem e algumas velas ornamentam a capela.

O delegado, em sua sala minúscula, Seu Afrânio cumpre os seus 23 anos de policial da justiça daquela cidade chamada de Cinelândia e sem porte de arma manejava bem uma espingarda, praticava a caça de capivaras, a proteína básica da cidade. Gatos e cachorros não era uma cultura alimentar.

Escola não tem e a mais perto fica há 60 quilômetros dali. Não para Josephina frequentar a escola.

Josephina tem um sonho de se formar em Pedagogia, uma ironia do destino. Ela escolheu esta carreira porque leu num livro sujo e cheios de rasgos que achara num depósito de lixo. Tinha uma noção de profissão mas muito rala.

A família se sustentava de algumas plantações na parte dos fundos do casebre, terreno grande, de posse, não tinham documentos, mas tinham a posse por invasão e sem opção.

O que compravam fora de casa era com um dinheirinho concedido pelo Estado, então não era o bolsa família, era o Bolsa Indigente, um escárnio para as desigualdades.

Água de uma pequena fonte há 18 quilômetros de Ceilândia, lata d’água na cabeça ou no lombo de um dos 4 jumentos, locadora que cobrava R$ 2,00 por viagem à fonte.

Dona Marieta, formada no 3º. Ano do ensino fundamental era a professora de Josephina. Marieta viera da cidade grande fugida da fome, poluição, desemprego e ruídos de 155 decibéis, o limite para zonas mistas era de 45 decibéis em média.

Ensinava o alfabeto e tabuada e mesmo como analfabeta funcional conseguia ensinar e ler e assinar o nome. Quando arrumava revistas e outras publicações lia para Jôse.

Jôse não tinha certidão de nascimento, os Pais também não...Preferia ser chamada de Jôse, Josephina com PH, nem com boa vontade.

Jôse, apelido, era curiosa, estudiosa e a qualquer custo o diploma superior para a sua cidade. Esforçada lia e relia e relia muitas vezes tudo o que era possível e assim sua dita cultura subia aos céus de Cinelândia.

O lazer da família era o café da manhã coado no coador de pano no bule que nem ferro velho compraria.

Jôse não desistia e sempre quando passava por ali um viajante ela pedia esmolas. Livros e toda sorte de publicações, ora tinha ora não tinha. Mas um pouco de bala ou chiclete tinha. Adoçava a sua alma persistente.

Jôse completara 18 anos e o seu progresso intelectual cresceu pouco para o sonho que sonhava. Festa no café da manhã com bolo de milho dos fundos do casebre.

Naquele dia um acontecimento estremeceu a cidade. Cadê Jôse....

Na porta da delegacia:

“Procura-se Jôse, filha de Raimundo Nonato e Maria de Jesus”

 

FIM sem final

Antonio Domingos

23/07/2020

 

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Comentários

  • Antônio, estava eu tão animada com o teu conto!… mas faço a mesma pergunta: Cadê Jôse?

  • Lindo conto, Antônio.

    Parabéns!

    Um abraço

  • Poeta Antonio

    Isto expressa bem a realidade do sertão da falta de oportunidade que muitos teem por viverem longe da civilização.

    Mais Jôse era inteligente lia tudo que encontrava ela esperava a maior idade para puder sair em busca do seu sonho , sonho mesmo pq na cidade grande ha muitos perigos e decepções que Deus a guie nesta nova caminhada de vida. Creio que ela foi mesmo só não sei se ela realizou seu sonho. 

    um abraço poeta 

    • Prezada Magaly. De fato é um tema comum neste texto. Não há novidades na história. Milhares de brasileiros vivem sonhos difíceis de manejar

      Espero que ela consiga estudar e se formar

      Obrigado, Antonio

  • Uau! Espero que Jõse volte com um diploma e muita sabedoria! Parabéns Antônio por seu conto! 

    • Prezada Angélica.Assim como seu comentário digo que é um conto com um tema comum à milhares de brasileiros que buscam seus sonhos quase impossíveis. Espero que Jôse consiga o seu diploma superior, o primeiro de Ceilândia.

      Obrigado,Antonio

  • This reply was deleted.
    • Prezado Davi... Esta é a conclusão.. Jôse fugiu para uma cidade grande para trabalhar e estudar os seus sonhos.Perfeito

      Obrigado pela leitura e comentário.

      antonio,

       

  • Boa tarde, poeta.

    Muito bom o teu mini-conto.

    Parabéns,

     

    1ab

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