Pensar pela Minha Cabeça

Gosto de pensar pela minha cabeça

 

A identidade de um povo substancia-se na sua história, que por sua vez deverá ser sustentada por diversos, e sólidos, pilares, de entre os quais cito: Língua; Arte (entenda-se património construído e preservado) e também as Tradições e Costumes, sem nunca esquecer que esta mesma historia se completa, mas nunca termina, em três espaços temporais que, embora diferenciados, se encontram fortemente interligados, passado, presente e futuro.

Portugal assume-se, de forma natural, como país vanguarda da identidade de muitos outros povos, tanto por força da sua longa história de povo descobridor de novos povos, como também, principalmente isso, como pátria mãe da ilustre língua Portuguesa. Todos os povos que, orgulhosamente, falam a língua de Camões, têm demonstrado, ao longo da história de cada um deles, mesmo que essa mesma sua história possa, durante longos períodos, possa ter sido confundida com a história de Portugal, uma natural propensão para a escrita em geral, e para a poesia em particular.

Não sei, nem me interessa saber, se esta reconhecida propensão dos povos Lusófonos para a escrita, não está directamente ligada com a também reconhecida riqueza da nossa língua.

Não vou afirmar que sim, mas o que afirmo é que aquela referida propensão dos povos Lusófonos para as letras, vem, não só reafirmar a minha convicção de que um dos tais pilares da identidade de cada um desses povos reside precisamente na língua Portuguesa, mas também que cada um deles continua, apesar de todos os contras, não só a orgulhar-se dessa mesma língua, como também a manifestar o seu prazer em se exprimir na mesma, isto sem desprimor da sua própria língua nativa, defendendo-a como nem muitos dos Portugueses nativos o fazem.

Surgiram, desde há muito, correntes, pseudo-intelectuais, cujos membros mais não são do que pequenos seguidores das perigosas mentes que, sob os mais diversos pretextos, destruíram monumentos milenares, queimaram pilhas de livros únicos, assassinaram milhares e milhares de pessoas e que agora se têm como os novos detentores da verdade, usando como principal argumento, e arma de ataque,  a manipulação da opinião dos povos.

O que mais me assusta, são aqueles que, por força de uma manifesta incapacidade intelectual, tentam impor a sua visão de um mundo que dizem querer global, mas que depois tudo fazem para o reduzir à mais pequena expressão, isto é, como se desejassem que o mundo continuasse a ser a sua pequena aldeia, onde, como cheguei a ouvir dizer a alguns, até os passarinhos eram seus.

Muitos destes actuais pretensos herdeiros da verdade, são contra as mais variadas formas de escrita, tal como os seus antepassados já o tinham sido, ou como outros foram contra as mais diversas minorias, por exemplo os escritores, os Judeus, os negros, isto é, contra todos os que lhes possam fazer frente, ignorando, porque a sua capacidade é limitada, que é precisamente aí, nas minorias, que nasce, e floresce, o verdadeiro espirito de rebelião.

Sim, é verdade, muitos dos que hoje se manifestam, sob qualquer pretexto, contra a escrita ,ainda que disfarçadamente, fazem-no pura e simplesmente porque não se identificam, ou não  conseguem extrair, muita  da beleza com que a língua Portuguesa nos continua a deliciar. Repito muitos e não todos, pois muitos há que, apesar de não gostarem daquilo que vai sendo escrito em Português, são verdadeiros amantes de tão bela língua, principalmente do Português escrito, os motivos que os levam a não gostar nada têm a ver com o idioma, mas sim com outras vertentes da vida em sociedade.

Ler uma simples notícia de jornal, em papel ou em formato digital, não implica dominar a língua Portuguesa, mas saber ler, e, sobretudo, interpretar um Fernando Pessoa, um Bocage, um António Aleixo, ou um Lobo Antunes, isso sim, já implica que muitos daqueles que implicam com a imensidão de  escritores em Português, tenham de recorrer a dicionários e afins, o que talvez também não lhes seja fácil.

Friso, uma vez mais, que não gostar de literatura Portuguesa não significa, nem pouco mais ou menos, que se enquadre neste protótipo de novo intelectual, mas embirrar com os autores de origem Portuguesa só porque eles nos obrigam a pensar, isso sim, já lhe reserva um lugar assegurado neste trono.

Agarrar num singelo escrito de um dos autores da Língua Portuguesa e, através dele, conseguir viajar por tantos e maravilhosos lugares, deve cansar muito mais do que ler qualquer notícia sobre um falso milionário que promete a felicidade a todos quantos comprem um montão de fichas para um qualquer jogo do computador, mesmo que isso signifique um aperto para o resto do mês, ou então que se conseguiu ser o herói de um dos muitos jogos de guerra, mesmo que depois venhamos culpar a TV por só passar notícias de autênticos massacres.

Estamos a começar um novo ano, não sei se irá ser melhor ou pior que o anterior, mas sei, isso sim, que, então talvez seja a altura de os homens das letras manifestarem a sua indisposição para a hipocrisia, isto é, que continuem a escrever os seus contos, a sua poesia e tudo o mais que entendam como meios de alerta contra as injustiças de uma sociedade que se diz global mas que depois quer ser o mais individual possível.

 

 

Francis D’Homem Martinho

02/01/2019

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Comentários

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    • Amiga Margarida Maria Madruga, penso que temos de ser nós a lutar para que o nivel de comunicação se mantenha lá bem alto. Beijinhos.

       

  • 1574895382?profile=RESIZE_710x

  • Muito bom artigo. A língua portuguesa é muito bela e complexa. Bom saber mais um pouco de sua raiz..Aplausos mil. Tenha um ótimo ano que chega.

    • Amiga Norma Silveira Moraes, é verdade, a língua Portuguesa é mesmo muito complexa, mas também muito bela. Beijinho. Feliz 2020.

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