Pra não dizer que não falei dos peixes
Já no Gênesis, ditara o Altíssimo o domínio da criatura humana sobre os peixes, fossem eles tubarões, bacalhaus, pirarucus, sardinhas ou mesmo os miúdos lambaris. O peixe tornou-se alimento. Às vezes, a depender da iniquidade do homem, rareava. No êxodo para a terra prometida, ele choramingava ao seu líder: - No Egito, comíamos peixe de graça...” Mas nem todos os peixes do mar saciam essas criaturas, reclama Moisés a Javé. E o peixe deixou de ser gracioso, que em Jerusalém passou a ser importado e vendido aos filhos de Judá nos sábados (não faz lembrar o comércio do peixe na semana santa?)
Houve momento dramático, em que se inverteu o domínio do homem sobre o peixe. E foi o peixe que dominou Jonas, engolindo-o por três dias. Mas, por sua fervorosa prece a Javé, a baleia – que é peixe (Já o dizia o Padre Vieira) devolveu Jonas íntegro à praia.
Ah, o poder da prece, na relação da criatura com o Criador. A entender melhor isso, foi necessária a vinda de Jesus, que dizia: - Pedi e recebereis... Porque não dará o pai uma pedra ao filho que pede pão, nem uma cobra ao que pede peixe.
Viram? Aí está o peixe de novo. Mas Jesus ensina que existe o peixe bom e o peixe mau e assim os pescadores, ao arrastarem à praia a rede repleta de peixes, os descartam e juntam os bons nas cestas, como relata o evangelista Mateus.
Ocorre que o peixe é às vezes insuficiente e, então, apenas dois deles – que não o bacalhau, nem o pirarucu, porque não os havia no Mar da Galiléia - bastarão para mitigar a fome da multidão, porque multiplicados pela generosidade divina.
Contudo, o peixe escasseia e o desânimo invade os rudes pescadores: - Mestre, lançamos as redes a noite inteira e nada apanhamos. – Lançai-as de novo, nas águas profundas, diz o Senhor. E então as redes, a se romperem, vieram abarrotadas de peixes – 153, na contagem do apóstolo João.
Mais tarde, ressuscitado, o Senhor se apresentou aos apóstolos trancafiados pelo medo. E, ante o espanto deles, pediu-lhes algo para comer. E o que lhe deram? Um pedaço de peixe assado, naturalmente. Que Ele, não mais humano e sim divino, comeu à vista deles.
Então, pra não dizer que não falei dos peixes, hei de provar algum deles nesta semana, reverenciando a Paixão. E, com a ajuda do Cristo coroado de espinhos, buscarei repartir essa iguaria aos mais desafortunados.
Comentários
Bonito texto. Peixe, alimento gratuito nos rios e nos mares, não chegam a casa da maioria da população.
Parabéns pelo belo texto!
Olá Pedrão poeta!
Que belo texto retratando os peixes mencionados na Bíblia,
os pescadores, a falta de peixes enfim,
outra bela arte apresentada.
Parabéns
pela criatividade.🙌🙌🙌🙌🙌
Um forte abraço.
#JoãoCarreiraPoeta.
Muito obrigado, caríssimo João.