Ele apareceu em dia de chuva de cachecol e sobretudo, munido de uma capa e um guarda-chuva. Apertou a campainha e olhava o tempo chovendo enquanto esperava-me abrir a porta.
Por trás do meu metro e meio de altura, olhei de cima a baixo aquela esguia e bela escultura de ébano parada em minha frente.
Não disse um nome que se pudesse crer verdadeiro, apenas pediu-me um minuto de atenção.
Entregou um original de um manuscrito e disse para ler com a alma e depois, dar a minha opinião quando retornasse:
_ Aí me encontro em tuas mãos, cada linha, cada ideia, página ou capítulo sou eu tuas mãos.
Leia-me, diga o que acha desta rude construção.
Dito isso, se fui embora como chuva passageira e deixou comigo sua vida pulsando entre meus pequenos dedos,
escorrendo seus segredos manuscritos.
Passei a ler de pouco a pouco embora os meus olhos tivessem sede, e minhas mãos iam absorvendo-o
nu, com todo o seu negrume preenchendo minha mente, desnudo passeando em meus quintais com a cor da noite estrelada entre os girassóis.
Brindou-me com sua prosa e verso e sua biografia,
numa provocação de topografia de carne, sangue, suor, letras e sinais...
E eu li cada página com gosto de descoberta e sabor de maresia.
Ao final da leitura, já era todo em mim que quando reapareceu em pele de azeviche vestindo sonhos ao luar
Num instante pensei que era eu.
Não sei se fui eu quem cresci ou você que encolheu,
E alma com alma se reconheceu igual...
Na história que se deu depois. Teço prefácio de nós dois.
By Nina Costa , in 01/05/2021.
Mimoso do Sul, Espírito Santo, Brasil.
Comentários
Noosaa! Maravilha de inspiração. Parabéns
Uauu!!! Lindissíma prosa poética!
Se sente o lirismo em cada linha!
Meus aplausos e Destaque para teu texto!