Prelúdio de canção alucinada
J. A. Medeiros da Luz
Veja-nos de novo, cara sombra,
A excursionarmos pelos confins,
Naquela vilegiatura em demanda de
Ignotos desafios a Golias virtuais.
Na hipnose desse ofício áspero,
Estas pupilas se estampam
Pelos matizes do deserto verde,
Brincando de infinito com o azul,
Para além das malhas de inox de uma tela
A peneirar a luz que jorra da janela
Deste despovoado e imaginário bangalô.
E por aí vamos que vamos,
Navegando de borbulha na memória,
Dentro de canoinha de guapuruvu,
Meio adernada, mas remando...
A remar pausada, incansavelmente.
Importa-nos lá, amiga sombra,
Que ouçamos já, magicamente,
O marulhar de corredeiras e rápidos avante,
No igarapé da vida?
Ouro Preto, março de 2020.
Comentários
Cara Angélica:
Não entendi por que, o aviso de seu comentário foi-me parar na pasta de "spam"; por isso só o vejo agora. Obrigado pelas ternas palavras, que só a empatia dita. Abraço; j. a.
Pessoal:
Longe de mim querer me arvorar linguista, mas aproveitei para refrescar a (para mim) provável origem da expressão do caboclo amazônico, quando se refere a coisa ou pessoa que navega à deriva da correnteza do rio, isto é: "ir de bubuia". Daí se explica meu verso: "Navegando de borbulha na memória", a modo de borbulha, flutuando à deriva...
Abraço do caboclo (embora dos campos cerrados do Planalto Central, um tanto enraizado nas dobras alterosas da província das Minas Gerais).
j. a.
Uau...! Meus aplausos caro poeta. Deus te abençoe.
Caro Zacarias:
Agradecido pelo incentivo. Os microcosmos apresentam-nos geografias múltiplas. As viagens interiores, ainda que catalisadas por período de isolamento em quarentena, nos fazem cogitar sobre o que nos espera para além das curvas do rio. Abraço.
j. a.
Amigo, não há de que agradecer... O que é bom merece ser valorizado! Deus te abençoe.
Oi, cara Safira: Muito obrigado pelo turbinamento visual do poema, potencializando seu alcance. Abraço.
j. a.