Desponta longe alvissareira a Vila Rica,
a Vila Rica dos garimpos, das quimeras...
E sinto bem que toda a angústia que me fica,
nada mais é que só lembrança de outras eras...
E ganho as ruas muito estreitas, muito antigas,
tão bem ao gosto dos poetas melancólicos,
e cada casa, cada pedra são cantigas,
a ressoarem dentro d!Alma em sons bucólicos...
E vejo bem o antigo Paço iluminado,
o atropelar de mil cavalos portentosos,
e sinto n!Alma aquele impulso inusitado,
de mergulhar naqueles tempos tão ditosos...
Se me depara de repente antiga fonte,
qual sombra linda, da saudade a própria filha,
e me ressurge, alcandorada, em meio à ponte,
o porte esbelto da figura de Marília...
Em sua fronte resplandece imaculado,
halo doirado, emoldurando um camafeu,
e dentro dele, qual brilhante lapidado,
eis ressurgida a nova imagem de Dirceu...
Vou prosseguindo na viagem fascinante,
qual navegante que se lança mar a frente,
e num instante, eis que me sinto num levante,
qual fosse mesmo um valoroso inconfidente...
Revejo em sonho os companheiros que se ufanam,
E quais heróis buscando louros que os consagrem,
Soltam do peito o grito ardente em que reclamam:
Oh! Pátria amada, “Libertas quae sera tamen”...
E num lampejo sinto então que a praça antiga
é bem a mesma de mil cores reluzentes,
e num esforço é bem provável que eu consiga,
rever garboso o legendário Tiradentes...
Vejo moçoilas em vestidos de brocado,
que alvinitentes, sob a luz dos lampiões,
trazem de volta os cancioneiros do passado,
os candeeiros, as varandas e balcões...
E torno tonto mergulhado do passado,
a rebuscar um tempo antigo tão presente,
e a nostalgia que me envolve é meu legado,
daquele tempo com meu tempo condizente...
Mas quem me escuta? Quem me entende? Quem me sente?
Quem me acompanha nestes doces devaneios?
Somente a Musa que assenhora a minha mente,
Somente os Vates nos seus versos sem receios...
Nelson de Medeiros
Comentários
Caro Nelson:
Belo poema, com seus alfinetes poéticos — com suas cabeças esmaltadas de vermelho — espetados em cada esquina mágica do mapa cartográfico do passado desta fremosa Villa Rica, de tantos amores e sonhos e pesadelos. Para nós outros, habitantes já de décadas do burgo, é sempre útil sermos lembrados dessas histórias de contornos difusos na bruma do passado. Parabéns!
Lindíssimo texto.
Maravilhoso!!! Uma história contada em versos
Parabéns, Nelson!
DESTACADO
Um abraço
Impecável composição. Primorosa narrativa poética para alinhavar a data que marca a história. Parabéns 🌷
Muito lindo e apropriado seu Poema
Uma obra de excelência. Um vocabulário adequado e inebriante.
Parabéns Nelson pela linda publicação nesta data .
Antonio Domingos