RENÚNCIA
Por quê tanto amor?
Perguntei nesta manhã à natureza
que amanheceu coberta de tristeza,
vertendo lágrimas de uma dor quase incontida...
De onde vem tanta dor?
Ela me respondeu num sussurro entristecido:
- Vem de longe, de um mundo atrás já vivido
e que ousaste buscar nesta vida...
Mas, que estranho amor é este, sem fim?
Perguntei à tarde silente e serena
que morria no fim do céu, lânguida e amena,
matizando de vermelho o horizonte.
Desde quando habita em mim?
-Desde o primeiro entardecer no mundo
quando juntos, em êxtase profundo,
dois corações se separaram num instante...
E por que a tudo resiste?
Indaguei da noite resplendente
que derramava seu luar resplandecente
Sobre Minh ‘alma presa em desventura.
De onde vem esta saudade triste?
Disse-me a noite de prata engalanada:
-Almas gêmeas que se perdem na estrada,
ficam escravas deste amor triste e profundo.
Pra se encontrarem um dia novamente,
hão que nascer e renascer diuturnamente
com muita renúncia no mundo!
Nelson de Medeiros
Comentários
Diálogo poético de muito capricho na sua página. O coração e suas intenções e ardores, o que causa em nós? Desejos, anseios, temores... Felicitações pela lira. Abraços