SE

 

 SE

 O silêncio de minha alma,

O que penso? O que faço?

Além do cansaço e da calma,

Uma aura branda que ronda a vida...

O que meus braços não alcançam?

O que me diz esse silêncio?

Se fosse levado a ser poeta faria versos,

Seria contrário a tudo o que está aí,

Sentaria em todas as cadeiras,

Ficaria louco com todos os vinhos,

Em nada tocaria, apenas sonharia,

Iria sobrevoar as coisas do mundo

E lhes pregaria peças, seria traquina,

Deixaria a máquina dos homens parada

E os faria olhar para o viver,

Tão simples assim seria o meu primeiro poema,

Clamando pelas coisas mais inúteis,

Para o que não precisamos, tolices, mentiras,

Eu mentiria para enganar os pobres,

Mentiria para afastar os ricos,

Mentiria para os que amam,

Diria a eles que eu amo mais do que todos.

Se fosse obrigado a ser poeta

Eu tentaria fazer o mundo funcionar,

Deixaria a tristeza em stand by,

Reverteria os polos

E quebraria as bússolas e seus pontos cardeais,

Diria mais em uma palavra

Do que todos em grandes discursos,

Mudaria o curso das estrelas,

Tornaria as coisas mais simples,

E belas...

Aquelas maquiagens que disfarçam os olhares,

As manchas que insistem em viver nas paredes,

Eu mudaria o sentido das horas, horas são para os tolos

E todos os que pensam no amanhã.

Se eu fosse tentado a ser poeta,

Me colocaria na cozinha a fazer pratos supimpas,

Ergueria taças de refrigerantes

Antes de fazer amor à toa

Com uma mulher que não conheço.

Se eu fosse empurrado a ser poeta,

Nada teria começo ou repetição,

Cada ação duraria uma única vez,

Cada palavra teria a devida importância,

Os jovens a entenderiam

E os velhos a respeitariam.

Sonhos seriam apenas o meio do sono,

O destino, uma palavrinha pequena

Para traduzir algo que não conheço.

Todos os chãos seriam pintados de amarelo,

Quando me perguntassem porque, eu diria:

Ora, porque eu gosto do amarelo!!

Se eu fosse tachado de poeta

Usaria de meu melhor palavrão,

Aquele que guardo para minhas bebedeiras,

O que soletro pausadamente ao inseto

Que zumbe no meu ouvido.

O que cuspo na frigideira fervente

Para ver as bolhas saltitantes,

E me esconderia do vento,

Faz-me ter torcicolos.

Se eu fosse, mesmo sabendo não sê-lo,

Ousaria calar-me

Quando mais precisassem de mim.

 

Mário Sérgio de Souza Andrade – 26-11-2018

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