Sereia

Sereia

J. A. Medeiros da Luz

 

Cuidei, ontem à noite, a tardas horas,

Que acesa haviam lá deixado

Uma das lâmpadas do quintal.

Qual nada, qual nada!

A chuva de cristalitos virtuais

Emanava de globo iluminado, glacial:

Era mesmo a lua, borrifando

Seu halo de magia sobre o piso,

De palor cadavérico, alvacento,

E sobre a grinalda etérea da folhagem,

A qual, toda vestida de brisa e de aromas,

Vai balouçando de leve no quintal.

E a lua como que

A pulverizar sua neblina,

Plena de sortilégios, num convite

Para imersão na imaterialidade

Daquele oceano mágico,

Onde se dissolve o escoar das horas

E se dissipam os ubíquos dissabores

Daquilo a que chamam o real...

Era a lua a espargir tão docemente

Um cantar flébil, sonoroso de sereia.

Era a lua.

 

Ouro Preto, 05 de junho de 2023.

[Comentos também podem ser dirigidos a: jaurelio@ufop.edu.br ou jaurelioluz@yahoo.com © J. A. M. Luz]

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J. A. M. da Luz

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Comentários

  • Gestores

    A lua já me fez procurar por luz acesa.

    Porém, jamais me faria fazer um poema tão bonito assim.

    DESTACADO.

    • Cara Margarida: obrigado pela gentileza do comentário, sempre muito generoso. Esse "engodo lunar" vez ou outra nos prega peça. Mas aí vêm os astrônomos e trincam a taça da poesia afirmando ser somente o albedo, a proporção de reflexão da luz solar (para além de ser palavra nada eufônica). Melhor ficarmos com o Ziraldo, ao descobrir que a lua é flicts — fato inconteste, corroborado pelo Neil Armstrong, que por lá pisou, há um tempinho atrás...

      Abraço do j. a.

  • Lindooooooo!!!

    Parabéns.

    Um abraço 

    • Cara Márcia:

      Obrigado pela visita e pelo apreço, mesmo que minha relapsitude involuntária tenha rarefeito minhas incursões pelas postagens dos amigos. Contra meus prognósticos, o trabalho tem me envolvido mais que o esperado, apequenando meus momentos de fruição. Coisa de destino, sei lá...

      E — inda em tempo — quero crer que o assoprar de velinhas ontem, pelo seu cumpreanos (como bem se expressam os irmãos da Galícia), lhe tenha sido pleno de alegrias, no aconchego das pessoas queridas. Parabéns uma vez mais!

      Abraço do jota.

    • Obrigada J.A  mais uma vez. Minha família é festeira.. Amo a família reunida. Ultimamente somos tão poucos que qualquer data é motivo para brindar.

      Graças a Deus 

  • Lindooooooooooooo!

    Aplausos, poeta!

    • Fico envaidecido com você ter gostado, cara Ciducha. A lua é múltipla. Vem, como exemplo desta sentença, aquele plenilúnio do Planalto Central: com o disco desmesurado, surgindo por entre os retorcidos galhos do cerrado, também é pleno de sortilégio — e, no meu caso, disparo de reminiscências de eras esmaecidas na trajetória pessoal.

      Abraço do j. a.

       

  • Olá J.A.M. de Luz:

    Um belo e sensível poema.

    Parabéns

    Abraços

    JC Bridon

    • Obrigado pela gentileza do comentário, caro Bridon. Com efeito, a lua cheia no final de outono aqui em Ouro Preto, quando calha de escassearem-se as nuvens, vem associada com uma frialdade que amplia os efeitos do luar, naquele seu atributo de mistério. Resumindo: mimetiza, afinal, a vida...

      Abraço do j. a.

  • Ah, o sortilégio do plenilúnio imerso no silêncio! É quando nossa pobre alma, manquitola e estropiada das batalhas, eleva aos céus a sua fala; e nossa boca, embargada, emudece.

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