SOBRE A MESA

 
 
Não guardo a vida em gavetas
Deixo-a estendida sobre a cama
Com seus formatos diversos
Enquanto fermento os versos
 
Não guardo a vida em arquivos
Deixo-a esfriando sobre a mesa
Para ser saboreada pelos ventos
Para ser visitada pelos tormentos
 
Não divido meu dia em horas
Derramo-me ao longo do tempo
No meu olhar não há só auroras
Misturo alegria com sofrimento
 
Não me ajeito em qualquer canto
Para passar as noites do inverno
Faço dos teus abraços o recanto
E do nosso instante viver eterno
 
Com chuva lá fora não me ofendo
Das goteiras na alma me defendo
Em estações eu não me aprisiono
Sou o homem que rasga o sereno
 
(Cláudio Antonio Mendes)
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