Surpresa

Surpresa

 

Lourenço sempre fora um homem daqueles a que normalmente todos apelidam de mulherengo, pelo que nenhum dos seus mais fiéis amigos, acreditava que seria Sofia a fazê-lo assentar. Nem o facto de se tratar de uma bela morena, chegava para tirar tal convicção generalizada, até porque mulheres bonitas, era o que nunca faltara a Lourenço e nenhuma o tinha conseguido levar ao altar.

Lourenço e Sofia já namoravam há mais de dois meses, quando a jovem decidiu organizar um almoço de domingo para o apresentar à família.

Lourenço, ao saber que além dos pais e de Rodrigo, o irmão mais novo dela e o único, além dela mesma, que ainda vivia na casa paterna, também lá iriam estar, Clara, a irmã mais velha, bem como o respectivo marido e a filha de ambos.

Lourenço chegou à hora marcada pela namorada, se bem que ainda tivesse de andar a fazer tempo pelas redondezas, sendo, logo, apresentado a Rodrigo, um brilhante finalista de direito, de acordo com as palavras de Augusto, o pai.

Lourenço ficou com a sensação que Augusto só tinha olhos para o filho, não escondendo toda a vaidade que depositava no benjamim da família, transmitindo mesmo a ideia de ignorar, ainda que talvez inconscientemente, a existência das duas filhas, algo que era equilibrado pela mãe, a dona Alice, um encanto de senhora.

Passados poucos minutos ouviu-se o toque da campainha, todos depreenderam que seriam, Clara, a irmã de Sofia, Carlos, o seu marido, e Joana, a filha. Rapidamente constataram que estavam enganados, pois Joana chegava sozinha. Lourenço não conseguiu esconder a sua admiração, a sobrinha da namorada, além de ser uma bela morena de 17 anos, era uma autêntica fotocópia da tia.

Lourenço cumprimentou-a, não sem aproveitar o momento para lhe admirar as belas formas do seu corpo, ao mesmo tempo que lhe parecia ver traços de feições que não lhe eram totalmente desconhecidas. Acabando por atribuir tal impressão, ao facto de a rapariga ser muito parecida com Sofia, passariam bem por mãe e filha., o que, viria a sabê-lo posteriormente, já acontecera por diversas vezes.

Enquanto aguardavam pela chegada dos pais da jovem, esta foi explicando que eles a tinham deixado à porta dos avós e ido fazer uma compra de última hora.

Sofia aproveitou a espera para pedir ao namorado que não estranhasse se Carlos, o seu cunhado, se mostrasse algo senhor do seu nariz, já que ele tinha o hábito de se julgar superior a todos, provavelmente por ser o director de uma importante multinacional do ramo automóvel:

. E a tua irmã, o que faz? Nada, ou estou enganado?

- A Clara é Psicóloga. Nos primeiros anos de casada, ainda viveu à custa do marido, mas depois decidiu ter a sua própria vida.

- Estão casados há muitos anos?

- Sim. Há quase vinte anos. Ainda não estavam casados há três anos, quando a Joana nasceu.

- Há uma boa diferença de idades entre vocês as duas.

- É verdade. Quase quinze anos. A Clara tem 41.

Novo toque da campainha, agora sim eram Clara e Carlos. Lourenço sentiu um baque no coração.

Não, aquilo não era possível. Cumprimentou Carlos, trocou dois beijos com Clara e apercebeu-se de como a mulher corara. Trocaram olhares e ficaram-se por aí.

O almoço correu em bom ambiente, embora Clara nunca tenha conseguido mostrar toda a alegria e jovialidade que era seu apanágio, o que chegou mesmo a provocar um comentário algo provocador por parte de Joana.

Foi no casamento da irmã, que Clara, aproveitando um momento em que ficou a sós com o seu agora cunhado, lhe agradeceu todo o silêncio sobre o que passara entre ambos, quando já era casada com Carlos e mãe de Joana.

Lourenço limitou-se a dizer-lhe que passado era passado e só o futuro lhe interessava, pelo que poderia ficar descansada, nunca se iria aproveitar do facto de saber que ela traíra o marido com ele, pois amava Sofia e, por nada deste mundo, desejava que esse amor pudesse vir a sofrer por causa de uma aventura passageira.

Clara acabaria por lhe confessar que, aquilo que para ele fora uma simples aventura passageira, para ela fora apenas o prolongar de algo que há muito era a realidade da sua vida, a procura de substituto para as necessidades afectivas que o marido não sabia, nem queria, compreender, limitando-se a só se preocupar em a tentar comprar com a estabilidade financeira que lhe proporcionava, esquecendo-se do resto.

Lourenço prometera apoiá-la em tudo o que lhe fosse possível e assim o fez, não só alertando Sofia para a vida de sofrimento que a irmã levava, como procurando que o sogro a apoiasse na sua luta pelo divórcio, o que Carlos parecia não aceitar de modo nenhum.

Lourenço amava Sofia, sabia que esta amava a irmã e a sobrinha, pelo que o que mais desejava, era a felicidade de Clara e de Joana.

 

Moral: “Quando se ama alguém, só a sua felicidade nos dá Felicidade.”

 

Francis D’Homem Martinho

21/01/2020

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