Lágrimas do mar

Abre-me todas as janelas

 sobre o teu mar
 
onde caibam somente as
 
lágrimas em deriva
 
repentinamente
 
em teu seio mergulhar
 
 
Naveguem todos os barcos
 
por teu mar
 
onde a foz se embebeda
 
de amores
 
por amanheceres casta
 
do tamanho de todos os oceanos
 
só pra mim
 
oh tu que ladrilhas
 
o silêncio dos meus beijos
 
afogados em lágrimas
 
de tanto mar
 
 
Vou a cada anoitecer
 
contornar-te as margens
 
preenchendo os vácuos
 
de solidão que fervilham
 
entre suspiros  semeados
 
nos ventos que albergam
 
cada sonho desfiando
 
neste meu pulsátil coração
 
descarrilando em ondas de temperança
 
e louca conflagração
 
 
Deixo que os aromas
 
primaveris sepultem toda
 
a nascente onde jorra o tempo
 
costurado em naperons  de palavras
 
póstumas e refinadas de meresias
 
 
Na longitude mais além
 
quando te contemplo pelo vértice
 
de tempo
 
sei onde me embriagar com
 
cada milagre de vida neste aguaceiro
 
onde bebo todo o oceano
 
e emolduro teu retrato  despindo-se
 
em torrentes de amor numa procissão
 
exuberante
 
e depois lapido cada labareda
 
do teu ser
 
que desejo delirante
 
 
Frederico de Castro
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