Tecelã
Teci o teu corpo –– nos fios dos anos...
Madrugueiramente,
O meu olhar –– emparedou-se.
E das tuas curvas leves,
Brotaram:
Sangue,
Mel,
Formas e pele.
E a doçura breve...
A esgarçar-se,
Cingindo...
Anoitezinhante,
Órgãos, sentidos,
Hálitos e bocas,
Estrugindo.
Teci couro de gato –– no cio arrepios,
Gato preto miando...
Num telhado de vidro.
Teci caras e bocas,
Coxas rijas,
Fibrosamente sorrido...
No manto da hora,
Que te cobria despindo...
Pedindo um pouco mais de ti,
Em mim, se indo...
Teci dias, luas, fios...
E arco-íris, dormindo.
Teci e li, em tudo... de ti,
O gosto amargo, ou doce azedo,
Da fruta boa,
Maduramente... Madura,
Parindo.
Que, na estufa dos anos...
Aquietou-se,
Fingindo mornamente,
Sem estar partindo...
Teci tudo enfim, de ti... bem aqui,
Na brevidade do tempo...
Que engole tudo.
Teci... E não quero mais,
Ver... vendo.
Cuspindo, fugindo,
Fugazmente,
Na tessitura da pele,
Outra cor... se indo...
Teci... E não obedeci,
Ora, pois,
Não vejo mais...
O teu corpo –– Pesando
Em cima!
Elzana Mattos
Comentários
Quem tece amor em poesia, nos faz caminhar, maravilhados, na trama dos versos. Lindo! Bjs