Se me amares, Faze teu amor livre de ti: Sem pergunta nem resposta. O silêncio das sereias Que abdicam de encantos Em tempo de descrenças Vence o murmúrio das marés E em lúcido fundo nos mergulha. Salvos um com outro, Seremos quem já somos: Pássaros sem asas a olhar o céu, Cães velando o corpo do dono, Bois sustentando a canga dos labores. O que punge a alma moída Da certeza de tudo ser quase nada É nosso – mais o redentor afeto De, mesmo longe, estarmos perto. Embora solidários, cada um é só Na história que subsiste Em muitos submersos sítios De saudades imensas. Do bem que se buscou Num gomil a se inclinar Sobre as mãos em concha, Nada verteu, além dos vazios. Mas tu me redimes, eu sei, De ser órfão ao desamparo. Ninguém vê. Ninguém ouve. Ninguém sabe onde está o berço. Só tu me encontras, mas Despojado do que foi meu, Senão do que eu mesmo fui. Se me amares, que seja Igual a folhas que caem Sem promessa de flor e fruto, Porque, ao fim deste maio, Toda estação será outono. Do que foi verde-esmeralda Queda ouro doado a quem Acolhe da morte o tom de sépia Definitivo – que só pode amar Quem não pergunta, nem responde.
Respostas
Vai ficar aberta até o fim do mês.
OUTONEI
Despe-se-me a alma prenunciando seu outono
Em folhas que se vão
Voando, sem rumo e sem donos
Levadas pela emoção...
Assim são meus dias idos
Partidos sem pressa e sem barulho
Apenas no farfalhar das asas de borboletas
Na dança dos pombos, no arrulho
Balbuciando segredos da simplicidade
Da instância da mocidade...
Outonei,
E a vida desnuda meus galhos
Envolvida de atos falhos
E tira-me a timidez
Na sabedoria da entrega
Desfolho meu coração...
Nina Costa, in 19/05/2018
Obrigada, minha amiga preciosa! Amei a formatação!
Sua arte é linda!
Beijos!
Nina
Obrigada FLOR!
Que bom que gostou! Fico feliz!
Grande beijo!
Nina
Realmente, um lindo poema, Nina! Você outonou - e nos emocionou!
Essa estação tem rendido belos versos, e esses seus vem confirmar, mais uma vez, o quanto o outono ensina-nos sobre a nossa vida!
Perceber esses ensinamentos e transformá-los em poesia é tarefa daqueles cuja luz da inspiração está a pino - você, por melhor exemplo!
Ainda se pode postar???
Ficará aberta até o fim do mês.
Obrigada pela resposta!
Postei um poema, vou postar mais dois, assim que terminar minhas coisas escolares aqui e descansar a mente um pouco. kkk
E o outono chegou
As folhas caem preguiçosas
No despertar de uma manhã
Cálida, diáfana, saudosa...
Abro minha janela e vejo
Um tapete que farfalha
Ao toque de pés humanos...
A vida segue tristonha
Entre a terra e o céu cinzento
Aves voam parecendo papel...
Percebo que meu mundo é gris
Assim como os campos além
Disseminando incertezas...
Mena Azevedo
EM SÉPIA
Se me amares,
Faze teu amor livre de ti:
Sem pergunta nem resposta.
O silêncio das sereias
Que abdicam de encantos
Em tempo de descrenças
Vence o murmúrio das marés
E em lúcido fundo nos mergulha.
Salvos um com outro,
Seremos quem já somos:
Pássaros sem asas a olhar o céu,
Cães velando o corpo do dono,
Bois sustentando a canga dos labores.
O que punge a alma moída
Da certeza de tudo ser quase nada
É nosso – mais o redentor afeto
De, mesmo longe, estarmos perto.
Embora solidários, cada um é só
Na história que subsiste
Em muitos submersos sítios
De saudades imensas.
Do bem que se buscou
Num gomil a se inclinar
Sobre as mãos em concha,
Nada verteu, além dos vazios.
Mas tu me redimes, eu sei,
De ser órfão ao desamparo.
Ninguém vê. Ninguém ouve.
Ninguém sabe onde está o berço.
Só tu me encontras, mas
Despojado do que foi meu,
Senão do que eu mesmo fui.
Se me amares, que seja
Igual a folhas que caem
Sem promessa de flor e fruto,
Porque, ao fim deste maio,
Toda estação será outono.
Do que foi verde-esmeralda
Queda ouro doado a quem
Acolhe da morte o tom de sépia
Definitivo – que só pode amar
Quem não pergunta, nem responde.
(E. Rofatto)