Se pensas que alguma coisa tens,
pensa bem...
Ninguém tem nada!
toda a coisa que temos,
é apenas coisa emprestada,
porque há-de vir alguém,
que te deixe sem nada;
Eu sei,
que isto bem não soa,
mas pensa bem...
que tudo quanto tens,
é no futuro de outra pessoa.
Julga-se aquele, que muito tem,
essa ideia está errada,
porque um dia virá alguém,
que o deixará sem nada.
Só temos a nossa vida,
enquanto com ela estamos,
pois na hora da partida,
nada de nosso levamos.
E todos seremos passageiros,
dessa ultima viagem,
não precisamos de dinheiro,
nem carregamos bagagem.
Por isso nada temos,
nada podemos esperar,
e ao nada vamos voltar.
Cristina Ivens Duarte
Toda aquela esperança que tinhas
na fonte dos teus olhos felizes...
é agora uma chuva miudinha
que vês, ignoras...e nem dizes.
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Teus olhos são espelhos de água
pela salga das lágrimas caídas...
duas malgas cravadas de mágoas
contra os muros da vida...sofridas.
........
Essa tua afeição pela cor preta
da solidão da noite impiedosa
esperando que o brilho de um cometa
te faça lembrar o cheiro de uma rosa.
........
Afinal... um pouco de esperança te resta!
se aguardas algo que te desperte...
do céu cai sempre uma flecha
que levante o teu corpo inerte.
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Cristina Ivens Duarte-13/08/2016
Nas ondas do mar cá fora
nas ondas do mar lá dentro
fiz da vida uma história...
com o meu fraco pensamento.
......
Fui levada por um remoinho...
que me cobriu de areia e cristais
temi que o meu corpo franzino
desfalecesse contra os corais.
......
Dei de caras com um cardume
que aguardava a minha vinda
estavam cheios de ciume...
e eu nem peixe... era ainda.
......
Uma formosa baleia
com os seus pequenos descendentes
transformou-me numa sereia
com os seus olhos incandescentes.
......
Daqueles mares nunca mais saí
enamorei-me por um golfinho
com o meu encanto o atraí
e levei-o para o remoinho.
......
Rodopiamos sem parar...
quase nos afogamos na areia
não fosse a história acabar...
o golfinho se transformava em sereia.
Cristina Ivens Duarte-7/08/2016
Na ombreira da minha porta
há um dedilhar continuo...
das tuas mãos que me abortam
deste meu pesar martírio.
.....
Foram tantas as vezes...
que rezei pela tua chegada
nos meus infortúnios reveses
choro sobre cada dedada.
......
Este rastilho que me incendeia
fulmina o meu coração...
é um torniquete que me fazes na veia
com as marcas da tua mão.
......
E nada apaga esta nódoa
na ombreira da minha porta
ficou vincada a mágoa...
da lamuria que nasceu morta.
......
As labaredas do meu caminho
fortalecem a minha esperança...
da minha carne tirar o teu espinho
e a tua mão... da minha lembrança.
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Cristina Maria Afonso Ivens Duarte--1/08/2016
O silêncio que invade e acalma...
as orlas dos nossos pensamentos
apaga o ardor da nossa alma...
e nos enche de deslumbramentos.
.....
Empurra-nos para além fronteiras...
abre caminhos, sem portas, nem tectos
sonhos, de mil e uma maneiras...
doces, com vastos sabores predilectos.
......
A menina dos nossos olhos...
rodopia, rodopia de alegria
com o vestido cheio de folhos...
de bailarina fantasia...fantasia.
......
Em pontas, nos seus formosos pés...
alcança o céu tocando nas estrelas
num silêncio bordado e cheio de godés
torna as manhãs, mais frescas e amenas.
......
O silêncio preenche a paisagem de encanto
aromatizando o ar com cheiro a alfazema
escondida está a flor no verde manto...
esperando que o tempo lhe faça um poema.
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Cristina Maria Afonso Ivens Duarte
29/07/2016
Embrulhados num cobertor de retalhos
a pele sua como carne num fumeiro...
fermentações dos nossos próprios coalhos
explodem, partindo os nossos corpos ao meio.
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São partículas das nossas coalhadas...
que se dividem durante a terna noite quente
no desespero de se tornarem açucaradas
beijamos todo o fermento envolvente.
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Cresceu, cresceu, sem parar...
a levedura que envolvia os nossos corpos
esquecendo que o tempo estava a esfriar...
deixando os nossos bacilos quase mortos.
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Cristina Maria Afonso Ivens Duarte
20/07/2016
Jamais deixarei que algo te aconteça
neste horizonte que nos circunda...
nem será preciso que o sol nos aqueça
neste amor cego que nos inunda.
.......
Acaricio o céu que te cobre...
com as mesmas mãos que te tocam
com a intensidade de um sentimento nobre
que os nossos corpos tremendamente chocam..
.........
Não te perco de vista nem por um segundo
assegurando que serás sempre minha...
vieste para ficar neste meu mundo...
e nele serás a minha doce rainha.
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Vieste para ficar no meu solo maltratado
e curaste as minhas fendas dolorosas...
perfumaste e o deixaste hidratado...
com o teu perfume cheirando a rosas.
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Não cabes neste meu peito mirrado
pois esbanjas doçura e beleza...
deixas-me totalmente apertado
que eu já confundo amor com tristeza.
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Entraste na minha vida sem pedir
tatuaste-me com um ferro quente
sem medir a dor que eu ia sentir
tornaste-me numa criatura doente.
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Cristina Maria Afonso ivens Duarte
20/07/2016
Foi por vontade de Deus
esta minha infelicidade
de todos os ais serem meus
e os lamentos... raridades.
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Que estranha forma de vida
leva este meu coração
vive uma vida perdida
com os pés acima do chão...
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O meu coração infelizmente
é coração que não comando
vive escondido da gente
constantemente sangrando.
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Eu não te quero mais
pára e deixa-me morrer
se não ouves os meus ais
porque insistes em bater.
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Cristina Ivens Duarte
Amor Mecânico
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Na conjuntura da minha mecânica
tenho sentido uma folga nas transmissões
em que o êmbolo corta a libido à minha biela.
O balanceiro, diréciona os meus sentimentos
à cambota e os cardans,
quando são desprezados, queimam o meu dínamo..
Fico com o meu semieixo sem nenhuma tração
e a brecagem do meu infortunado desejo, reduzida.
A minha sensível estrutura, cheia de kilometros...
procura um chassis novo,
para por os meus homocinéticos devaneios
e suprimir os meus rodízios para poder amar ao ralenti..
Na paisagem, a ternura dos campos,
mostram-me um ângulo de convergência,
que anula todo o meu acoplamento
diante de toda a geometria transversal.
O caster, tem uma inclinação do covilhão da manga
que me deixa tetraplégica.
A noite se aproxima
e o meu borne de excitação queima a polie,
levando a cordilheira de fluídos
que alimentavam e lubrificavam os meus segmentos.
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Cristina Maria Afonso Ivens Duarte